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Bolsonaro discursou, agora falta admitir que errou
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Bolsonaro discursou, agora falta admitir que errou

No primeiro dia de trabalho em Brasília, a declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre a situação do País causou enorme estrago na imagem e repercutiu por muitos dias. Ele afirmou a apoiadores que o Brasil está
Foto: SERGIO LIMA / AFP No primeiro dia de trabalho em Brasília, a declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre a situação do País causou enorme estrago na imagem e repercutiu por muitos dias. Ele afirmou a apoiadores que o Brasil está "quebrado". "Eu não consigo fazer nada." E em meio aos mais de 195 mil mortos no País, disse que o vírus "foi potencializado pela mídia".

É duro, mas nem tão difícil assim, decifrar o enigma Jair Bolsonaro. Deu-se na manhã de hoje um evento solene no Palácio do Planalto no qual o presidente da República finalmente citou o termo conciliação ao falar da crise dramática com a covid19, destacou o momento de união que o País exige (faz tempos), elogiou (sim, elogiou) os esforços gerais dos governadores para enfrentar os efeitos avassaladores da pandemia e, enfim, tentou demonstrar algum grau de sensibilidade com o sofrimento dos brasileiros.

A menos que desdobramentos concretos ainda por vir nos desmintam, meras palavras ao vento.

Simplesmente recuso-me ao simplismo de concluir que a razão finalmente chegou à mente do presidente Bolsonaro no debate sobre a pandemia e seus efeitos e passará a comandar suas decisões.

Houve nesta quarta, no Planalto, apenas um discurso, vazio, que tende a não ter consequência real na forma como o governo está lidando até agora com o gravísssimo problema, minimizando-o, retardando soluções que seriam urgentes, jogando prefeitos e governadores contra a população, debochando das pessoas, mentindo, enfim, sem demonstrações de que encare a situação com a dimensão real que apresenta.

Para que Bolsonaro demonstre algum sinal efetivo de mudança de comportamento é necessário mais do que apenas dizer que há um plano de vacinação, anunciá-lo e discursar como se nada tivesse a esclarecer sobre a forma como tem se comportado. Até, sendo mais preciso, que peça desculpas em português claro pelo que tem feito.

O que ele disse hoje exige, para ser levado a sério, uma forte reparação de sua parte em relação ao que dizia até ontem. Ontem mesmo, no sentido da terça-feira, com declarações de absoluto descrédito com as vacinas e até anunciando, com a força do exemplo que seu cargo carrega, que não colocará seu braço à disposição de qualquer seringa.

Claro que há aspectos positivos no gesto que precisam ser captados e valorizados, também. De alguma forma, entenda-se como um sinal de que a pressão verdadeira das ruas, não aquela resultante do barulho de fanáticos, finalmente parece ter adentrado o Palácio do Planalto, ao ponto de colocar as falas de Bolsonaro em conflito evidente com suas ações.

É alguma coisa, porque pelo menos abre, dentro do governo, uma disputa mais clara entre a razão e verdade, pelo lado em que está a realidade, e loucuras e invencionices que, até agora, guiam os passos do presidente Jair Bolsonaro. Ao custo de muitas mortes, certamente.

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