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A voz fina da oposição a Bolsonaro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A voz fina da oposição a Bolsonaro

Tipo Opinião
2012gualter (Foto: 2012gualter)
Foto: 2012gualter 2012gualter

Tentar entender o Brasil apenas com o olho no ambiente que há hoje no Congresso Nacional levaria a um equívoco de compreensão, especialmente numa perspectiva histórica. A impressão que prevalece é a de que está tudo bem, não há uma tensão política latente, não temos um presidente da República o tempo todo criando pontos de stress e deslocando o País de seu eixo central, quando uma de suas missões intransferíveis do momento seria pacificá-lo na construção de um esforço conjunto para o enfrentamento de uma crise sanitária sem precedentes.

É ver o que aconteceu durante a semana que passou em dois encontros virtuais no Congresso dos quais participaram ministros que simbolizam setores muito importantes do governo Bolsonaro. Paulo Guedes, que comanda a área econômica, e Eduardo Pazuello, exatamente o general responsável hoje pela delicada pasta da Saúde, submetida a incríveis duas mudanças em meio ao drama da pandemia a partir de crises que o presidente decidiu fabricar. Foi, voltando à história dos ministros, um "passeio" de ambos, no linguajar político mais fluente.

Claro que não advogo má educação, posturas agressivas dos parlamentares ou algo que vá numa linha do gênero violento, pelo contrário, defendo a convivência civilizada como parte necessária da melhor democracia. Sinceramente, porém, é inadmissível que exista tão pouco questionamento aos representantes do Executivo quando há a chance de fazê-lo diretamente, exigindo deles explicações e justificativas mais claras diante das contradições e os erros de um governo pleno delas e deles. Um chance rara, infelizmente desperdiçada.

Ministro da Economia Paulo Guedes
Foto: JÚLIO CAESAR
Ministro da Economia Paulo Guedes

Paulo Guedes diz lá uma porção de absurdos, inventa uma realidade, puxa para si elogios por medidas importantes que somente foram adotadas em favor da população porque o Congresso pressionou e até ameaçou fazer por sua própria iniciativa, no limite do que a lei permitia, e, entre os parlamentares, dá-se um autêntico "tudo bem" como reação. Nenhuma voz oposicionista, pelo menos, sentiu a necessidade de abrir o debate para colocar um pouco de verdade na história e recolocar as coisas no lugar.

O ministro saiu de lá como entrou e sequer a defesa do papel do parlamento motivou qualquer dos participantes ali a fustigá-lo. Para não ser injusto, o senador cearense Tasso Jereissati (PSDB) foi quem ainda criou algum incômodo ao reclamar dos desencontros oficiais na história da vacinação, sem que a sociedade tenha clareza acerca do planejamento do governo e da disposição financeira para fazer as aquisições necessárias, e dizendo-se, em linguagem limpa, "revoltado" com a situação. É o máximo de incômodo que tivemos registrado.

Tasso Jereissati, uma única voz a fazer questionamentos a ministro
Foto: REPRODUÇÃO
Tasso Jereissati, uma única voz a fazer questionamentos a ministro

Em outro momento inexplicável da semana do Congresso, colocam-se lá senadores e deputados diante do ministro Pazuello, um dia depois dele manifestar de público sua incompreensão com a "ansiedade" da sociedade para que a vacinação comece logo no Brasil e, de novo, as mais de duas horas da sessão chegam ao fim sem que o general tenha se sentido desconfortável ou pressionado em nenhum momento.

Mesmo na hora em que se achou obrigado a pedir desculpas pela declaração infeliz do dia anterior ele deixou de se demonstrar à vontade. Ninguém ali achou que deveria cobrá-lo em tons mais incisivos sobre uma política que ele comanda para a área de saúde claramente equivocada. A partir de uma postura insensível do chefe do líder de todos, o presidente Bolsonaro, que ora minimiza a seriedade do problema, ora alimenta o ar de negacionismo que envenena o debate sobre a doença e prejudica as ações recomendadas para que seja enfrentada.

Bolsonaro surfa em mares políticos calmos, apesar do muito que se esforça para revolvê-los, também porque lhe tem faltado, na forma como se comporta a oposição, vozes com força bastante para chamá-lo à responsabilidade e serem ouvidas. É só ver que, dois anos depois, o Congresso não consegue oferecer um só nome realmente importante que se possa identificar como símbolo real de um contraponto à era difícil instalada no País em 1º de janeiro de 2018.

A "capital" do Nordeste

No entusiasmo de ajudar João Campos na campanha vitoriosa dele à prefeitura de Recife, Ciro Gomes definiu a cidade como "capital do Nordeste". Eis que saem agora os dados de 2018 do PIB, os mais atualizados do IBGE, constando que Fortaleza é de fato quem puxa a economia regional, gerando riquezas de R$ 67 bilhões naquele ano. Ou seja, faz muito mais sentido como capital simbólica da região. Recife? É a terceira, depois ainda de Salvador, que gerou R$ 63,7 bilhões no período.

A luta continua, na justiça

Gledson Bezerra, prefeito eleito de Juazeiro do Norte
Foto: Tiago Sousa / Divulgação
Gledson Bezerra, prefeito eleito de Juazeiro do Norte
Clima de terceiro turno em Juazeiro do Norte. Candidato a vice-prefeito na chapa de Arnon Bezerra (PTB), derrotado em sua tentativa de reeleição, Gabriel Santana, do PT, entrou com ação contra o eleito Glêdson Bezerra (Podemos), acusando-o de abuso de poder econômico. É que ele teria utilizado na campanha um helicóptero do empresário Gilmar Bender, que o apoiava, sem que isso conste em sua prestação de contas. Além de gastos com combustíveis igualmente omitidos, conforme a denúncia.

As prioridades reais do eleito

Glêdson, que se diz pronto para os esclarecimentos, considera ser apenas mais uma cortina de fumaça que "os derrotados" tentam criar para encobrir os problemas com que entregam a gestão. Além do quadro dramático na saúde, este resultado do problema mais amplo da pandemia, o eleito e diplomado garante estar mais precupado com a questão da ameaça à coleta do lixo, devido a acertos anteriores mal feitos, e ao desafio de chamar 1.800 concursados já no início de mandato. Querer ele quer, mas ainda não sabe como.

Quem está bem nas fotos

Chama muita atenção o comportamento político de Domingos Filho no pós-eleições. Não foi candidato, é "apenas" presidente estadual do PSD, mas, tem sido comum vê-lo acompanhando muita gente em agendas políticas que cumprem em Brasília. Por exemplo, na ida do prefeito eleito de Fortaleza ao ministério da Saúde na quinta-feira, para encontro com Eduardo Pazuello, lá esteve ele, junto com Roberto Cláudio e o próprio Sarto. Para Domingos Filho, definitivamente, 2022 já começou.

Domingos Filho
Foto: Divulgação
Domingos Filho

O incerto amanhã de Moroni

É um mistério o que planeja para seu futuro político o atual vice-prefeito de Fortaleza, Moroni Torgan. Por enquanto, sua opção tem sido pelo silêncio, sem pistas de como planeja o amanhã e se novas aventuras eleitorais farão parte dele. Problema: dentro do DEM seu espaço está ocupado pelo atual presidente estadual, Chiquinho Feitosa, que disputa vaga à Câmara Federal dentro de dois anos. Pesa, também, o acúmulo de fracassos sequenciados com candidaturas do filho, Mosiah, em 2018 e agora.

A oportunidade e o oportunista

Deputado cearense André Fernandes
Foto: Instagram / André Fernandes
Deputado cearense André Fernandes

Claro que a política não deixaria de tirar uma casquinha do drama sincero do casal Gabriela e Thallys, com a história tocante do filho adotivo que lhes acabou tomado das mãos pela justiça. O final parece que vai ser feliz, mas, na turma que buscou fazer proselitismo destaca-se o notório deputado estadual André Fernandes (Republicanos). Dizendo-se, inclusive, responsável pela mudança de posicionamento do Ministério Público acerca do caso, a partir de um ofício seu. Será??

Senta que lá vem história

O episódio é dos anos 1980. Visitando Fortaleza, o embaixador do Brasil em Portugal foi à Assembleia Legislativa e, diante da ausência do então presidente, deputado Aquiles Peres Mota, um grupo de parlamentares cercou o diplomata e passou-se a conversar generalidades, Pelé, futebol... Depois, a literatura dominou o papo, Camões, Alexandre Herculano, padre Antonio Vieira. Foi quando Pedro Nunes, deputado pelo PMDB à época, entrou na conversa.

- Conheço muito o padre Antonio Vieira, é um grande amigo meu!

O embaixador, claro, levou um susto e dali se abriu uma conversa meio surreal.

- Como amigo dele?

- Pois sou, tenho até um livro dele autografado.

- Autografado ou psicografado?

- Autografado mesmo, embaixador. Uma dedicatória muito bonita.

- "Os Sermões"?

- Não. "O Jumento Nosso Irmão"

O embaixador claro, cuidou logo de mudar de conversa.

(Detalhe: o padre Antonio Vieira, deputado cassado do Ceará, existia mesmo, era autor de um livro famoso sobre o jumento. Já o padre Antonio Vieira sobre o qual se referia o embaixador, viveu entre 1608 e 1697, era um brilhante jesuíta, diplomata do Reino de Portugal, conselheiro de reis, polemista e autor de "Os Sermões", que reúne o melhor de sua genialidade)

* "Folclore Político: 1.950 histórias", de Sebastião Nery

 

Foto do Guálter George

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