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300 mil mortes depois, um acerto de rumos
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

300 mil mortes depois, um acerto de rumos

O Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante declaração após reunião com os presidentes do Senado Federal, Câmara dos Deputados e Supremo Tribunal Federal, ministros e governadores. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil O Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante declaração após reunião com os presidentes do Senado Federal, Câmara dos Deputados e Supremo Tribunal Federal, ministros e governadores.

Está longe de ser uma versão "paz e amor", mas, dentro do padrão Jair Bolsonaro de ser, deu-se sim uma importante inflexão na maneira como o presidente da República encara a pandemia e como entende que ela deva ser enfrentada.

Agora, é transformar tudo isso em ações efetivas da parte dele, assumindo o papel de exemplo para a sociedade que lhe cabe, aceitando o uso da máscara como medida cotidiana necessária, segurando os discursos agressivos contra prefeitos e governadores de que não goste, o que ajuda a insuflar massas contra eles, e, desafio dos desafios, finalmente admitindo ações de isolamento social rígido, em alguns casos, como a única saída possível para conter a circulação do vírus e salvar vidas.

Seria um erro esperar uma mudança radical de postura de Bolsonaro, de um dia para o outro. Ela não acontecerá. Porém, há diante dele uma situação de tal forma dura que impõe que algo se modifique no seu comportamento e parte disso, já em movimento, exigirá um pouco mais de minudência na análise para ser percebido.

O pronunciamento da noite de terça-feira, politicamente vazio e materialmente inventivo que tenha sido, é um deles, considerando um presidente da República que tem preferido se comunicar com a sociedade através de lives toscamente produzidas ou falas rápidas a apoiadores em contatos de rua.

Para que a reunião da manhã dessa quarta-feira no Palácio da Alvorada tenha sua importância considerada numa dimensão real é preciso que se considere este jeito Bolsonaro de ser e agir.

O seu principal resultado prático é o chega pra lá objetivo no presidente da República, tomando-lhe o protagonismo que seria natural diante da situação e dividindo em vários pedaços o papel central que a ele caberia.

Conversar com os governadores, por exemplo, passa a ser atribuição do mineiro Rodrigo Pacheco (DEM), que preside o Senado.

É um quadro tão esdrúxulo que, na verdade, o que seria ação ainda mais natural precisa ser oficializado de maneira pública.

Por exemplo, o que há de novidade em se estabelecer o ministro da Saúde, que agora tem o nome de Marcelo Queiroga, para uma interlocução permanente com secretários estaduais e municipais e com a comunidade científica do País para monitorar o quadro com a atenção permanente que exige e, a partir disso, adotar as medidas necessárias com a agilidade e a velocidade que o cenário crítico impõe?

Pois está acertado para acontecer a partir de agora, mais de um ano depois da pandemia instalada oficialmente entre nós.

Assim é o Brasil de Bolsonaro. Tem sido até agora, mas, creio, um conjunto de novidades dos últimos dias, o que inclui o tal documento com mais de 1.500 assinaturas de gente de peso do chamado "andar de cima" da sociedade "gritando" por mudança, indicam que, apesar do grande atraso, finalmente a realidade bateu à porta e está lhe impondo que olhe menos para os cercadinhos ocupados apenas por gente aliada e enxergue mais a realidade de um País que já empilhou 300 mil cadáveres diretamente relacionáveis à covid-19.

Uma parte deles, certamente, também vítimas dos erros que foram se acumulando, inclusive pela forma como decidiu encarar o problema o presidente da República que a crise gigantesca encontrou à sua frente.

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