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A briga está invadindo o espaço da política
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A briga está invadindo o espaço da política

A preservação de um ambiente civilizado e democrático se vê ameaçado no espaço político do País, pelas agressões e violência que vão além do debate acirrado
Tipo Opinião
 Deputado Paulo Teixeira (PT-SP) foi agredido fisicamente pelo deputado Diego Garcia (Podemos-PR) (Foto: LUCIO BERNARDO JR)
Foto: LUCIO BERNARDO JR Deputado Paulo Teixeira (PT-SP) foi agredido fisicamente pelo deputado Diego Garcia (Podemos-PR)

O parlamento tem na característica da convivência entre diferentes o seu valor mais significativo. Como nenhum outro poder, o melhor funcionamento dele exige dos representantes das diversas correntes e pensamentos que o frequentam uma capacidade diária, quase, de aceitação da divergência, algumas vezes no limite do que isso for possível. Todo esse 'nariz de cera' serve como reflexão ao Brasil que, nesse particular, vive um momento que deve preocupar àquele que considere relevante a preservação entre nós de um ambiente democrático.

Dois exemplos recentes mostram isso com clareza: o primeiro deu-se quarta-feira na Câmara Federal, quando um deputado agrediu fisicamente o outro em meio a um impasse sobre o encaminhamento de votação de uma matéria polêmica; outro, em Fortaleza, e acontecido ontem, quando um vereador subiu à tribuna do Legislativo municipal para defender que fossem "tratados à bala" os integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST), em meio à votação de projeto de vereadora do PT que propunha uma homenagem à entidade.

O caso de Brasília envolve os deputados Diego Garcia (Podemos-PR) como agressor e Paulo Teixeira (PT-SP) como agredido. A bancada petista, como a dos partidos de esquerda em geral, acredita em punição pela fé no pulso firme do presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), e já recebeu dele sinais de que o episódio não ficará impune. E é importante que isso aconteça porque a ausência de consequência diante de uma situação de dano aparente menor, já que o parlamentar paranaense diz ter apenas encostado a mão no petista, poderá estimular que outros se considerem autorizados a também resolverem suas diferenças pelo vigor físico. Até a situação chegar ao nível do incontrolável.

O evento de ontem na Câmara de Fortaleza é um pouco diferente, e nesse sentido mais complexo para levar a mesa diretora a intervir, já que, em tese, o vereador Inspetor Alberto (PSL) valeu-se da inviolabilidade que o mandato lhe oferece para, da tribuna, defender o uso da violência contra segmentos dos quais divirja política e ideologicamente. O problema, no entanto, vai além do que o representante bolsonarista expressou na atitude pública assumida desde o plenário.

O Inspetor Alberto tem sido foco de tensão no grupo de WhatsApp dos vereadores pela maneira agressiva como se refere, sempre, à bancada do PT. Não raro, utilizando-se de palavrões em referência ao grupo, com o qual deveria divergir apenas no plano da ideologia e das compreensões diferentes de mundo. É evidente que a raiva que despejou contra o MST, ajudando a derrotar proposta de Larissa Gaspar, é o seu alimento político de cada dia. Não parece ser algo que vá acabar bem.

O ex-ministro da Saúde do Brasil e general do Exército Brasileiro, Eduardo Pazuello, desiste ao declarar em sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará o tratamento do governo para a pandemia do coronavírus em Brasília em 19 de maio de 2021. ( Foto Sergio Lima / AFP)
Foto: Sergio Lima / AFP
O ex-ministro da Saúde do Brasil e general do Exército Brasileiro, Eduardo Pazuello, desiste ao declarar em sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará o tratamento do governo para a pandemia do coronavírus em Brasília em 19 de maio de 2021. ( Foto Sergio Lima / AFP)

O general entrou pequeno na CPI e saiu menor

O esperado depoimento do ex-ministro Eduardo Pazzuelo deu-se por concluído ontem na CPI da Covid do Senado, após arrastados dois dias e uma interrupção determinada por desconforto de saúde do general no final da tarde da quarta-feira. O saldo de sua fala, enfim, é de um governo aliviado ou apreensivo? Talvez seja possível dizer que nem tenha sido a maravilha que gente do Planalto anda alardeando, muito menos a bala de prata que a oposição acreditava que poderia representar. Sem surpresas, o resumo da história é que ficou exposto que tínhamos um ministro, quando ele estava no cargo, sem qualquer noção do que era sua prioridade ali e que limitava-se a entender como missão (aplicando o termo no sentido quase literal) cumprir todas as ordens emanadas do chefe e presidente da República. Mesmo aquelas erradas, irresponsáveis e, a CPI deve esclarecer tudo ao final de sua investigação, até algumas possivelmente criminosas. Como se não lhe estivesse dada a condição, por exemplo, de pedir demissão diante de uma situação entendesse errada.

Agora, duro mesmo é a postura de absoluta falta de empatia que o ex-ministro, espalhando-se no seu ex-chefe, passa todo o tempo. Não existe um só motivo que o faça aceitar um exame de consciência e admitir que alguma coisa deu errado, até pode ser que menos por culpa dele e sua equipe, para chegarmos à tragédia dos dias atuais. Outra coisa que fica é, também, a reafirmada pouca demonstração de amor próprio do general, humilhado várias vezes por Bolsonaro e, mesmo assim, buscando todo o tempo meios de eximi-lo de responsabilidade no depoimento. Aliás, Pazuello chega ao ridículo quando cria a figura do inofensivo "presidente das redes sociais", cujas palavras, alega, não deveriam ser levadas a sério, mesmo que no delicado caso da saúde tenham sido transformadas em ações em muitas ocasiões. Pior para ele é que, em geral, desautorizando-o. Enfim, o depoimento avaliado na perspectiva do que representa para o próprio depoente, consegue, o que parecia difícil, diminui-lo ainda mais.

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