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Ciro, Bolsonaro e a pauta que os aproxima
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ciro, Bolsonaro e a pauta que os aproxima

Tipo Opinião
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O PDT e Ciro Gomes decidiram ajudar na confusão que é o debate político brasileiro atual, ressuscitando manifestações de Leonel Brizola de lá atrás, até hoje convenientemente mantidas no esquecimento, ao aparecer agora dizendo-se favoráveis à ideia do voto impresso. Claro que seus líderes correm a dizer que não se deve confundir com o que defende o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que são propostas diferentes etc, mas, no frigir dos ovos, o que se entende é que está reforçado o discurso de que há problemas no nosso modelo, apesar dele ser reconhecido internacionalmente por sua segurança e agilidade.

Existe hoje uma confusão estabelecida em relação ao nosso processo eleitoral que não consegue encontrar razões fáticas que a justifique. Temos um modelo de voto eletrônico no qual se deve acreditar porque o histórico não apresenta um só escândalo sustentável a ele atribuível que indique fraudes nos 27 anos de experiência com as urnas que não pedem papel para deixar registrada a opção manifesta de cada brasileiro. O presidente Bolsonaro, que tem como estratégia fazer da dúvida uma arma para sustentar um discurso que anime seus apoiadores, sustenta a ideia de que houve problemas na eleição de 2018, por exemplo, até alegando que na verdade teria vencido já no 1º turno.

Provas? Ele não apresentou uma sequer, apesar de dizer que as tem. Portanto, sua intenção é apenas bagunçar um sistema que funciona, que dispõe de um conjunto importante de possibilidades para ser auditado e, havendo dúvidas, fazer as necessárias checagens. Ao contrário do que diz o presidente e que agora reforçam os pedetistas, não é verdade que inexistam meios de conferência dos votos na hipótese em que apareçam razões para tentar entender distorções eventuais, consideradas as expectativas que se tinha.

Na verdade, isso ficou claro na primeira vez em que se piscou a sério para o modelo brasileiro de urnas e de votação. Foi no ano de 2014, naquela apertada disputa pela presidência da República vencida por Dilma Rousseff, do PT, e o derrotado Aécio Neves, com seu PSDB, decidiu questionar o resultado, ir à justiça, pedir recontagem etc. Apenas porque liderara boa parte da apuração, até entrarem votos mais atrasados do bloco do Norte, por exemplo, e o quadro virar. À época, o partido foi autorizado a realizar uma auditoria, mergulhou com especialistas nos números e dados disponíveis e, apesar de interessado nisso, não conseguiu qualquer prova de que o sistema tenha apresentado problemas ou deturpações com influência no resultado final. Repito, mesmo diretamente interessado que isso tivesse acontecido.

É possível que o novo discurso pró-voto impresso de Ciro, valendo-se da figura mítica de Brizola para dar algum verniz político à novidade na agenda, tenha a ver com as estratégias eleitorais para 2022, somando-se a outras novidades trazidas ao PDT pelo recém-contratado marqueteiro João Santana. Talvez seja algo relacionado àquele interesse de atrair parcela do eleitorado que hoje está com Bolsonaro e que não conseguiria mudar o voto para Lula, dentro de uma ideia de polarização que se tenta fazer prevalecer. O risco é de não conseguir atrair estes e ainda perder aqueles que se incomodarão ao vê-lo abraçado a uma bandeira que é de Bolsonaro. Ninguém tasca.

Djalma Pinto, advogado e professor (Foto: Sara Maia/O POVO)
Foto: Sara Maia
Djalma Pinto, advogado e professor (Foto: Sara Maia/O POVO)

Mais um cearense na CPI

A cearense Mayra Pinheiro foi depor na CPI da Covid, quarta-feira, acompanhada do advogado Djalma Pinto, que foi Procurador Geral do Estado nos governos de Tasso Jereissati. As consultas foram poucas, até porque ela teria treinado bastante nos dias anteriores e pareceu bem preparada, à parte os sinais de que sustentou uma posição cujo conteúdo deverá complicar o governo ao final das investigações dos parlamentares. No entanto, parece certo que a presença de Djalma lhe ofereceu elementos de segurança.

A vez de uma Ferreira Gomes

O martelo foi batido e o clã Ferreira Gomes terá mesmo um representante disputando vaga à Assembleia Legislativa no próximo ano, na perspectiva de retomada de um espaço que está vago desde quando Ivo Ferreira Gomes trocou o parlamentar estadual pela prefeitura de Sobral, em 2017. Na verdade, uma representante, agora, pois a candidatura definida é a de Lia, única mulher entre cinco irmãos e, reza a lenda, a mudança de gênero não altera a disposição para briga. É até maior, dirão alguns.

Odorico Monteiro, professor da Faculdade de Medicina da UFC e pesquisador da Fiocruz
Foto: Fabio Lima
Odorico Monteiro, professor da Faculdade de Medicina da UFC e pesquisador da Fiocruz

O tempo melhorou a ideia

Projeto de autoria do cearense Odorico Monteiro, ainda no mandato anterior, ganhou contexto novo no Brasil da pandemia e, abraçado por outros parlamentares, terminou aprovado na semana na Câmara Federal. Através dele, o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz se transformam em Patrimônio Nacional da Saúde, aliás, tornando-se os primeiros homenageados com o título, criado através da proposição. Junto com Odorico, assinam o PL os deputados Jorge Sola (PT-BA), Alexandre Padilha (PT-SP), Alice Portugal (PCdoB-BA) e Totonho Lopes (PDT-CE).

Omar Aziz
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad
Omar Aziz

Fernandes x Aziz

Quem decidiu comprar uma briga com o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM) foi o deputado estadual cearense André Fernandes (Republicanos), acionando a justiça e exigindo dele que apresente provas de que tenha assassinado alguém com sua posição contrária às medidas de isolamento. Como é regra, agita as redes sociais e incentiva os iguais a também cobrarem o político amazonense, que, de fato, chamou de "assassino" quem vai à internet atacar o lockdown. O alvo era Bolsonaro, mas os fieis a ele podem ficar à vontade para vestirem a carapuça.

Deputado Zé Airton
Foto: Gustavo Simão
Deputado Zé Airton

Detalhe: 2022 não é 2002

Avança no PT o debate sobre a ideia de uma candidatura própria ao governo do Ceará em 2022, o que pode se chocar, mais uma vez, com os planos do governador Camilo Santana. Quem anda mais agitado sobre o assunto é o deputado federal José Airton Cirilo, dizendo-se disposto a comandar o palanque estadual do partido e acumulando forças nesse sentido, na expectativa de repetir a dobradinha de 2002. Lembra do "Lula lá, Zé Airton cá"? A derrota para o tucano Lúcio Alcântara foi contada em míseros 3 mil e poucos votos de diferença. Os personagens até não mudaram desde então, já os cabelos....

Tucanos ouvem tucanos

O cearense Tasso Jereissati já anotou em sua agenda: terça-feira, dia 1º de junho, às 10 horas, a executiva nacional do PSDB se reúne em Brasília. O interesse dele é porque o tema central do encontro, convocado pelo presidente Bruno Araújo, é a realização de prévias em setembro para definir, pelo voto dos filiados, o melhor candidato tucano para enfrentar a campanha à sucessão de Jair Bolsonaro em 2022. Tasso está com seu nome posto e considera ter avançado nos últimos tempos em relação aos adversários, Eduardo Leite e João Doria.

"Só no Brasil que o poste mija no cachorro e tem quem aplauda"

Capitão Wagner, deputado federal (Pros-CE), indignado com as perguntas duras do relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), durante o depoimento da médica cearense Mayra Pinheiro, secretária de Gestão e Trabalho do Ministério da Saúde

 

Foto do Guálter George

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