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No mundo real, a CPI tem crédito
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

No mundo real, a CPI tem crédito

É expressivo o interesse pela CPI da Covid nas redes sociais, especialmente as transmissões ao vivo pelo YouTube, o que derruba a tese de que as investigações caíram no descrédito
Tipo Opinião
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Foi uma sexta-feira difícil para quem insiste no discurso de que a CPI da Covid, que funciona no Senado, caiu no descrédito da população brasileira. A ideia precisa ser ajustada aos fatos porque o que acontece no mundo real vai no sentido contrário, como bem demonstra o balanço, ruim para o governo, é verdade, que deixou a agitada semana que passou. Apenas na realidade própria da qual o bolsonarismo precisa para autoalimentar seu discurso político é que a extravagante tese tem merecido alguma atenção e respaldo.

Um termômetro importante para se entender o que há de relevante acontecendo, numa lógica que a era Bolsonaro trouxe ao dia-a-dia nacional, é o comportamento das redes sociais. Sugiro a quem insiste na história - e citarei dois deles mais adiante - que faça um passeio pelas várias plataformas existentes e, por exemplo, perceba quantos canais no Youtube transmitem ao vivo as sessões da CPI e a extraordinária audiência que, somados, apresentam. É por desacreditar no trabalho dos senadores que tanta gente mostra interesse em acompanhá-lo? Claro que não.

Entre os que propagam na política cearense a crença de que o trabalho da CPI não tem credibilidade destacam-se o deputado federal Capitão Wagner (Pros) e o senador Luiz Eduardo Girão (Podemos). Este último, inclusive, integrante da Comissão e que repete a ladainha sempre que faz suas intervenções durante as sessões, em meio a um discurso no qual tenta se fazer neutro na polarização que domina o País atualmente. Uma divisão, aliás, que se desloca de maneira perigosa na perspectiva do governo porque o que antes, com simplicidade, parecia colocar Bolsonaro de um lado e Lula do outro agora já aponta o presidente contrapondo-se a um grupo mais amplo e difuso com gente cansada de um estilo de comandar o País que simplesmente não dá folga ao cidadão. Há, entre eles, inclusive antipetistas históricos. A estratégia oficial determina que se crie uma crise para abafar uma outra, estabelecendo-se, com isso, uma área de conflito permanente na política com desdobramentos inevitáveis sobre a vida geral das pessoas.

Wagner e Girão queixam-se que a CPI não quer investigar governadores e prefeitos, preferindo concentrar sua atenção apenas nos erros, defeitos e denúncias envolvendo a gestão federal. Como o STF já foi chamado a se manifestar sobre o assunto e deu razão à CPI, limitando as ações dela em relação aos estados, insistir na cantilena parece ser apenas um meio de reclamar dos avanços das investigações sobre o que fez ou deixou de fazer o presidente Bolsonaro e quem mais atuou no combate à pandemia em nome de sua gestão. Ou seja, é discurso de quem apoia Bolsonaro e não de quem quer se mostrar independente dele.

Até faz sentido que tanto o deputado como o senador, por razões legítimas ligadas ao interesse político local de um e outro, ampliem a cobrança aos deputados estaduais do Ceará e aos vereadores de Fortaleza para que tomem suas iniciativas de investigação para se saber o destino que foi dado aos recursos que Brasília enviou. O que não podem é continuar reclamando da CPI e procurando tirar sua força real por ela estar atuando no limite do que a Corte principal do País determinou que deve fazê-lo. Ou, colocá-la numa fantasiosa contramão do que seria um sentimento popular, especialmente depois da sexta-feira intensa de trabalhos no Senado, com a passagem por lá dos irmãos Luis Ricardo e Luis Flávio Miranda que envolvem diretamente o presidente da República com indícios de malfeitos. É esperar os próximos capítulos porque eles prometem, inclusive em relação ao agravamento do discurso de ataque à Comissão.

Um palanque em montagem?

O MDB começa a discutir internamente a possibilidade de ter candidato ao governo do Ceará em 2022. O nome que circula com alguma simpatia e tem chance de crescer no partido é o do empresário Oscar Rodrigues, que vem a ser o pai do deputado federal Moses Rodrigues. Para felicidade do presidente estadual Eunício Oliveira e tristeza do seu aliado Camilo Santana, do PT, uma pedra no sapato dos Ferreira Gomes, aos quais faz oposição ferrenha em Sobral. Inclusive, foi candidato à prefeitura do município ano passado.

A outra polarização possível

A leitura dentro do PDT sobre as últimas pesquisas é a seguinte: a estratégia está dando resultado e a projeção de um cenário de segundo turno entre Lula e Ciro Gomes a cada dia parece mais possível. Para isso, tem valido até a gravação de vídeos com o pedetista segurando uma bíblia e colocando-a no mesmo plano da Constituição Federal. Como ideia, olhando para o sempre disputado eleitorado evangélico, mostrar que são livros possíveis de uma convivência cidadã. Não tinha como ser mais João Santana no estilo.

Senador Tasso Jereissati (PSDB_CE)
Senador Tasso Jereissati (PSDB_CE)

Cada qual com seu olhar

Outro cearense que parece ter definitivamente colocado a disputa pelo Palácio do Planalto em seus projetos para 2022, Tasso Jereissati, do PSDB, pede atenção para um ponto específico de pesquisa Exame/Ideia divulgada na semana que passou, dentro dos cenários de segundo turno. Nas projeções de uma disputa com Lula, que se avalia hoje como nome mais certo para passar de fase, o tucano é quem aparece com índice mais alto de intenção de votos, nove pontos atrás do petista. Para se ter uma ideia, sobre Ciro Gomes a maioria de Lula seria de 12 pontos.

O preferido vai voltar

Quem arruma as malas em São Paulo para voltar a Fortaleza, após uma temporada de estudos em São Paulo, é o ex-prefeito Roberto Cláudio, do PDT. O retorno definitivo será em agosto e, com ele em casa, o debate sobre processo sucessório ganha um novo ritmo, considerando que se trata do favorito dos Ferreira Gomes, especialmente do senador Cid, para disputar a sucessão de Camilo Santana pela base governista. RC, de onde está, acompanha o que acontece, conversa muito e chega pronto para dar velocidade às articulações. Claro que para se viabilizar ele próprio como candidato.

Reforço na agenda

Há quem sugira que se preste uma atenção maior no nome do deputado estadual Evandro Leitão (PDT), presidente da Assembleia Legialativa, nas análises sobre o cenário eleitoral possível para 2022 no Ceará. Sua agenda começa a envolver espaços interessantes, na semana passada, por exemplo, reuniu-se longamente com a cúpula da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) e deixou a turma bem animada. O nome soa bem aos ouvidos do governador Camilo Santana, de quem foi líder, e já está incluído em algumas das últimas pesquisas internas realizadas.

Em defesa das redes

Cria-se uma notícia, faz com que ela circule pelas redes sociais e, finalmente, no ato final cobra-se parlamentares de oposição para que se posicionem. Cansado de checar informações do tipo e citando dois casos concretos recentes (a história de que o Hospital de Messejana estava sem hemodinâmica e sem trombolítico e a denúncia de que Camilo Santana mandou abrir as comportas do Castanhão para abafar a chegada das águas do São Francisco ao Ceará), o deputado Heitor Férrer (PDT) faz um apelo: "parem de alimentar as redes socias com fake news". Na própria Assembleia, será ouvido? 

Deputado federal Odorico Monteiro (PSB-CE)
Deputado federal Odorico Monteiro (PSB-CE)

BATE-PRONTO

Odorico Monteiro: A prioridade precisa ser enfrentar a ameaça à democracia

No exercício do mandato de deputado federal, por licença de Denis Bezerra, o cearense Odorico Monteiro mantém seu protagonismo na passagem pela Câmara. Na semana, para se ter uma ideia, duas vezes assumiu a presidência dos trabalhos em plenário, além de continuar encaminhando as principais votações da bancada pela liderança do seu partido. De olho em 2022 e presente às articulações, tem advertido para a necessidade de uma união real das forças de esquerda para enfrentar o que considera "clima de ameaça à democracia". A coluna conversou rapidamente com o parlamentar:

O POVO - Qual cenário da disputa o senhor projeta para o Ceará, com as tensões nacionais entre PT e PDT?

Odorico Monteiro - A tendência é de termos aqui, como aconteceu em outras eleições, vários palanques convivendo. O PDT terá o seu, o PT também, até o PSDB, porque o Tasso também é da base do Camilo. Vai errar, de novo, quem apostar nas brigas locais para montar suas estratégias.

O POVO - Há chances de o segundo turno unir todas as forças nacionais de esquerda, imaginando-se que o adversário de quem passar seja Bolsonaro?

Odorico Monteiro - É o que queremos. Queremos uma aliança das esquerdas, não dá para repetir 2018, porque a nossa prioridade precisa ser enfrentar o autoritarismo e a ameaça à democracia.

Deputado federal Odorico Monteiro (PSB-CE)
Deputado federal Odorico Monteiro (PSB-CE)

O POVO - Qual é o PSB de 2021, ele mudou? E, o que representam as filiações recentes?

Odorico Monteiro - O PSB não abre mão da tese do socialismo, ao contrário do que fazem outros partidos. Agora, queremos um socialismo criativo, do século XXI, não aquele da época da Revolução Industrial nos séculos XIX ou XX. A chegada de gente como Marcelo Freixo e Flávio Dino fortalece muito esse movimento.

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