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A saída (e o futuro) de Cabeto
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A saída (e o futuro) de Cabeto

O que teria afinal levado o médico Carlos Roberto Martins, o Doutor Cabeto, a deslocar-se até o Palácio da Abolição na noite da última segunda-feira, dia 17, para protocolar pedido irrevogável de demissão
Tipo Opinião
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O que teria afinal levado o médico Carlos Roberto Martins, o Doutor Cabeto, a deslocar-se até o Palácio da Abolição na noite da última segunda-feira, dia 17, para protocolar pedido irrevogável de demissão? Ante o silêncio do próprio e a nota apenas protocolar do governador Camilo Santana oficializando a saída, já na manhã da terça-feira, as conversas de pé-de-ouvido político buscam explicações mais claras sobre o acontecimento. Inesperado, para dizer o mínimo.

A coluna cruzou algumas conversas durante a semana e fecha sua apuração com alguma convicção de que não houve um fator crítico determinante. Os relatos são de que há algum tempo o Doutor Cabeto apresentava mesmo cansaço pessoal, afinal, foram tempos difíceis já pelo começo tenso devido à disputa com deputados e prefeitos aliados pelo controle dos Consórcios de Saúde (briga da qual o secretário saiu vencedor) e, a partir de março de 2020, pelo superdesafio da pandemia. Diz-se que, durante este período, na noite em que conseguiu mais tempo para descanso Cabeto chegou às três horas de sono, tal era o ritmo e volume de problemas a resolver. Inclusive porque optou por não largar seus pacientes pessoais, cardiologista requisitado que é.

Uma fonte, de conversas diárias com o ex-secretário, garante que ele não se arrepende um só segundo de ter enfim cedido ao convite para entrar no governo, depois de várias negativas. A ideia de atrai-lo vinha desde o segundo governo Cid Gomes, pelo menos, quando as abordagens nesse sentido começaram a ser feitas, reforçando-se na primeira gestão Camilo Santana e, reeleito o petista, partiu-se à ofensiva exitosa. Especialmente com a entrada em cena do ex-deputado Eudoro Santana, pai de Camilo, responsável direto pelo convite que fez o Doutor Cabeto por fim à resistência e partir para sua primeira experiência de cargo público no escalão de cima de um governo.

Cabeto que já na quarta-feira, um dia depois de se despedir da secretaria, era visto em UTI de hospital de Fortaleza, acompanhando pacientes e de volta à rotina plena de médico. Seu balanço pessoal do período no governo lhe deixa satisfeito, elencando, nas conversas com os mais próximos, o legado de mudanças estruturais que permitiram a criação de uma plataforma descentralizada de saúde no Estado, o início das esperadas obras do Hospital Universitário da Uece e a conquista de concurso para contratação de 6 mil servidores pondo fim a um longo tempo de congelamento. Por este último ponto, em especial, sua saída não deixará saudade na área econômica, pois foram constantes os embates, muito bem controlados internamente, com as secretarias de Planejamento e Fazenda.

Quanto à turbulência da pandemia, a ação técnica do secretário deixará algumas sequelas para o médico, agora, administrar, inclusive porque alguns pacientes antigos decidiram abandonar seu consultório, desgostosos com medidas de fechamento da economia que endossou dentro da política oficial de combate ao vírus adotada nos momentos mais críticos. Sem arrependimento, voltou a dizer nas últimas horas, já livre do peso de falar pelo governo. Aliás, no balanço da herança que deixa, Cabeto também cita o hospital adquirido emergencialmente em Fortaleza, que passa a integrar a estrutura de atendimento público, e o salto importante no interior com a implantação de uma rede de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), iniciativas diretamente ligadas ao combate à Covid e que ficarão quando a crise sanitária acabar.

Uma outra discussão que começa após a saída inesperada do secretário de Saúde é em relação ao seu futuro na política. Filiado ao PSDB, lembremos que um tempo atrás o presidente da executiva estadual, Luiz Pontes, citou o nome dele como uma alternativa para 2022, sem necessariamente apontar o espaço da chapa que poderia ocupar. Sobre isso, por enquanto, silêncio e dúvidas, mas pode-se dizer que a primeira experiência à frente de um cargo público de alta visibilidade, inclusive pelo momento especial em que foi ocupado, não foi pessoalmente traumática para o Doutor Cabeto. Até pode tê-lo animado em alguns aspectos.

A volta do delegado

O superintendente da Polícia Federal no Ceará, Caio Pellim, pediu de volta o delegado Carlos Eduardo Miguel Sobral, lotado aqui e que, cedido, atua hoje como um dos principais assessores da CPI da Covid, que tantos problemas causa ao governo. Descobriu-se, meio de repente, que há "mais de 3 mil investigações paradas" e não se pode abrir mão de ninguém dos quadros. O detalhe é que o delegado desde 2019 auxiliava CPIs no Senado, ou seja, cheiro de retaliação, jeito de retaliação e... retaliação.

O método científico

Circulam pelo interior do Ceará pesquisadores que coletam opinião do eleitor para balizar as decisões a serem tomadas no âmbito do grupo governista. Seriam mais de 100 perguntas atrás de respostas que indiquem o que pensa o cearense acerca do momento, responsabilidades, possibilidades e caminhos que se considera adequados para o desafio de futuro. É de onde sairão as estratégias e, muito provavelmente, os nomes com os quais se acredita que seja possível disputar a continuação no poder.

Os nomes estão todos

Os questionários, na parte puramente eleitoral, testam seis nomes como potenciais candidatos ao governo: Izolda Cela, Roberto Cláudio, Mauro Benevides Filho, Evandro Leitão, Capitão Wagner e José Airton. Em relação à disputa pela vaga ao Senado que estará aberta, sugere-se as opções de Camilo Santana, Eunício Oliveira e Tasso Jereissati, este último, o atual ocupante da cadeira. Lista completa dos nomes que se pode cogitar para os cargos majoritários em disputa em 2022.

Carmelo Neto com o presidente Bolsonaro na visita ao Cariri
Carmelo Neto com o presidente Bolsonaro na visita ao Cariri (Foto: Aurelio Alves)

O novo preferido?

Sabe quem ganhou mais um carinho político do presidente Bolsonaro na semana? O vereador fortalezense Carmelo Neto (Republicanos) que foi elogiado nas redes sociais pela qualidade, na visão dele, da participação em programa nacional de TV na qual defendeu o atual governo e criticou os esquerdistas. Parece que o deputado estadual André Fernandes já não tem o mesmo prestígio de antes como político preferido do clã Bolsonaro no Ceará.

A caminho das prévias

O PSDB marcou suas prévias para setembro próximo, quando os filiados devem se manifestar sobre o melhor nome para disputar a presidência da República em 2022 e, de verdade, apenas o cearense Tasso Jereissati, dos três indicados, parece totalmente alheio ao processo. João Dória e Eduardo Leite, governadores de São Paulo e Rio Grande do Sul, respectivamente, intensificam o corpo-a-corpo e levam a coisa muito a sério. O gaúcho numa ofensiva recente muito forte sobre o Nordeste, inclusive.

Senador Tasso Jereissati
Senador Tasso Jereissati (Foto: Agência Senado)

Expectativa e realidade

Tasso reuniu-se com os mais próximos, após longa temporada recente com a família nos Estados Unidos, e lhe foi apresentada a situação como preocupante. Ficou de reagir nos próximos dias, mas a verdade é que sua grande aposta na visibilidade que a CPI da Covid poderia lhe dar, fazendo-o nacionalmente mais conhecido, não tem apresentado o efeito esperado. Para ele, especificamente, porque muitos outros senadores estão ganhando novo peso com suas participações nas animadas sessões da Comissão.

 

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