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As CPIs de Tasso e Girão
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

As CPIs de Tasso e Girão

Os senadores Tasso Jereissati e Eduardo Girão têm uma avaliação tão divergente da CPI da Covid que dá a impressão de que falam de coisas diferentes
Tipo Opinião
1710gualter (Foto: 1710gualter)
Foto: 1710gualter 1710gualter

A CPI da Covid que começa na próxima terça-feira sua etapa decisiva com a apresentação do relatório final de Renan Calheiros (MDB-AL) para análise e votação dos seus 11 integrantes titulares caminha para o seu final deixando, em relação ao que aconteceu até agora, análises muito próprias e diferentes da parte de quem integrou seu agitado cotidiano desde que se instalou, em 27 de abril já de 2021. É ver o que aconteceu quando procuramos na semana os cearenses que fizeram parte do grupo, senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Eduardo Girão (Podemos), para pedir que cada um fizesse uma avaliação do que aconteceu. Dá a impressão de que os dois falam de coisas diferentes tal é a distância entre uma análise e outra.

Tasso diz não ter dúvida de que a CPI determinou o ritmo de vacinação no Brasil, fazendo-a avançar, pela pressão que suas investigações terminaram por exercer sobre um governo onde, até então, o negacionismo predominava. O tucano cita duas situações levantadas e expostas pelo trabalho do Senado como exemplos da profundidade e da consequência do que se descobriu e discutiu nos quase seis meses de apuração praticamente diária: o caso Prevent Sênior, com a transformação de usuários de um plano de saúde em autênticas cobaias de iniciativas do tal tratamento precoce, e o drama de Manaus, "onde pessoas morreram sufocadas, sem atendimento". Para ele, não existe qualquer dúvida de que o País estaria num ritmo muito mais atrasado de aplicação de imunizantes na população não fossem os efeitos do que acabou sendo revelado a partir das movimentadas sessões da Comissão.

Girão, que pensa diferente e avalia que a CPI encaminha-se para o encerramento sob total descrédito, diz não ser possível apontar um só ponto positivo em relação ao trabalho desenvolvido pelos senadores. Agora, quando instado a destacar o que considera negativo ele até se esforça para fazer uma seleção entre os muitos aspectos que considera haver, acabando por indicar os dois que considera mais graves: 1) "O cancelamento de um debate entre cientistas pró e contra tratamento precoce ou imediato com orientação médica, às vésperas do dia em que estava programado para acontecer. Uma coisa brutal e covarde"; 2) "A blindagem explícita aos poderosos quando foi negada a convocação de Carlos Gabas, diretor executivo do Consórcio Nordeste que protagonizou o escandaloso 'calote da maconha'". A decisão de não incluir os governadores da região no escopo da investigação, mesmo que respaldada por decisão do STF, é o "erro" mais constantemente citado pelo representante do Podemos.

Sem surpresas, os votos dos dois cearenses também tendem a não se encontrar na hora em que eles forem chamados a manifestá-los. Tasso antecipa sua tendência de apoiar o texto que será apresentado pelo relator, "mesmo que discorde de um ponto aqui, outro ali", enquanto Girão prepara um relatório paralelo "independente e imparcial", mesmo admitindo que o clima predominante indique que ele deva ser solenemente ignorado pela maioria da CPI. É espantoso, de qualquer forma, que uma mesma ação parlamentar gere visões tão díspares entre pessoas que estiveram presentes o tempo todo aos debates e às reuniões internas, cujo conteúdo acaba chegando ao público apenas em partes e a partir de versões. Ou seja, são atores privilegiados de um fato político que, certamente, ficará como uma das marcas mais fortes de um momento peculiar da nossa história. Nesse sentido, talvez o tempo ajude a mostrar, lá adiante, com quem está a razão.

Senadores Tasso Jereissati e Luis Eduardo Girão
Senadores Tasso Jereissati e Luis Eduardo Girão (Foto: Aurélio Alves e Mauri Melo)

Veja abaixo a íntegra do que cada senador diz :

O POVO - A CPI atendeu às expectativas iniciais?
Tasso Jereissati - Sem dúvida, a CPI foi fundamental para que houvesse uma reversão de expectativas grande no País, principalmente na questão da vacinação. Com certeza, se não fosse o início dos trabalhos da CPI a nossa vacinação estaria muito mais atrasada hoje.
Eduardo Girão - É bom lembrar que essa CPI foi fruto de 2 requerimentos. Um de Randolfe para apurar apenas o Governo Federal e outro de minha autoria e com muito mais assinaturas de apoio, para apurar irregularidades nas três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal). A maioria da comissão formada por 7 senadores simplesmente ignorou o nosso requerimento, assumindo desde o início uma posição claramente parcial, tendenciosa de construção de narrativas com objetivos eleitoreiros. Ou seja, não atendeu minimamente às expectativas de uma investigação séria e técnica sobre os gravíssimos desvios ocorridos nos R$ 120 bilhões transferidos do governo federal apenas para o enfrentamento da pandemia em estados e municípios. Aliás, dinheiro não faltou mas sobraram escândalos segundo a própria Polícia Federal (uma das entidades mais acreditadas pelo povo brasileiro) e CGU que em operações conjuntas e esperadas executaram mais de uma centena de operações no chamado "Covidão". Como diz a mãe do ator Paulo Gustavo, infelizmente uma das 600 mil vidas perdidas nesta tragédia humana mundial, “desviar dinheiro em época de pandemia não é apenas corrupção, é assassinato".

O POVO - Qual o ponto alto (se existiu) e qual a maior frustração?
Tasso Jereissati - Não é questão de ponto alto, houve pontos altos, baixos... O certo é que ela trouxe toda a gravidade do problema e, acho, o mais preocupante continua sendo o atraso na compra da vacina e o negativismo responsável, com certeza, por centenas de milhares de mortes de brasileiros. O mais dramático, a meu ver, embora haja agora a questão da Prevent Senior, continua sendo a maneira como foi enfrentada a crise de Manaus, onde as pessoas morriam sufocadas, sem atendimento.
Eduardo Girão - Ponto alto, nenhum. Mas frustrações foram muitas. Mas vou me referir a apenas duas:
Primeiramente quando a CPI resolve cancelar na véspera o único debate entre cientistas contra e a favor do tratamento precoce ou imediato com orientação médica. O debate tinha sido aprovado por unanimidade e devidamente agendado. Cancelaram na véspera e nunca mais retomaram porque esse debate com cientistas renomados certamente poderia desconstruir a principal narrativa deles. Resolveram de última hora marcar duas datas para ouvir separadamente os grupos de médicos e cientistas renomados. No dia em que foram os que são a favor do tratamento, de forma patética e desrespeitosa os oposicionistas que dominam a comissão, se retiraram na hora que começou a explanação. Algo brutal e covarde mostrando intolerância e que não aceitam o contraditório, ou seja, já tinham um pré-julgamento decidido de acordo com as suas narrativas. O segundo destaque negativo foi a blindagem explícita aos poderosos quando por 6 votos a 4 foi negada a convocação do senhor Carlos Gabas, diretor executivo do Consórcio Nordeste que protagonizou o escandaloso “calote da maconha” (por terem sido pagos a uma empresa que comercializa produtos à base da maconha) que desviou R$ 48,7 milhões do povo nordestino na compra superfaturada de 300 respiradores que nunca foram entregues. Documentos da CGU confirmaram o uso de verba federal. Essa apuração seria crucial porque não faltou dinheiro mas sobraram escândalos semelhantes, como a compra de respiradores em Casa de Massagem, loja de vinhos e testes de Covid em loja de brinquedo... Um abuso vergonhoso, protegido o tempo todo pela CPI.

O POVO - O senhor vota com o relatório final?
Tasso Jereissati - A minha tendência, claro, é de votar com o relatório final, podendo discordar de um ponto aqui ou ali, o que é natural.
Eduardo Girão - Estou preparando um relatório independente, imparcial. Os governistas estão preparando outro, alternativo mas não devem aprontar comportamentos inadequados do presidente como as aglomerações causadas por ele, o não uso de máscaras e declarações públicas infelizes contra a vacina. O relatório que será apresentado pelo relator Renan Calheiros, e possivelmente aprovado pela maioria, não tem nenhuma legitimidade pois além do festival de abusos de autoridades, agressividade, desrespeito e omissões verificados nos depoimentos deliberadamente não rastreou corrupção nos estados e municípios, o que era objeto para a própria instalação da CPI. É bom lembrar que desde o início dos trabalhos eu entrei com mandado de segurança questionando a suspeição do relator que é pai do governador de Alagoas, um dos estados membros do famigerado Consórcio Nordeste e que foi alvo de várias operações da Polícia Federal e da CGU, diante de muitos indícios graves de desvios.

Chiquinho Feitosa preside a Fetrans
Chiquinho Feitosa preside a Fetrans (Foto: Divulgação)

Um senador e um deputado

Nada estava combinado previamente, as circunstâncias é que determinaram a necessidade de Tasso Jereissati mergulhar na política interna do PSDB, mas certamente será bastante proveitosa ao 1º suplente Chiquinho Feitosa a oportunidade que a licença do tucano lhe dá de ocupar o mandato de senador pelos próximos quatro meses. Queira-se ou não, a nova situação lhe confere um patamar diferente nas conversas sobre quem ficará com o comando no Ceará do União Brasil, resultado da fusão entre PSL e DEM, considerando que o outro interessado é o influente Capitão Wagner.

Em campanha pelo gaúcho

Por falar em Tasso, é séria sua decisão de arregaçar as mangas no apoio ao nome de Eduardo Leite nas prévias tucanas que definirão o candidato à presidência no próximo ano. Além da dedicação total do seu tempo na política nos próximos meses para garantir uma maioria folgada ao gaúcho entre os filiados cearenses, o senador organiza uma agenda regional ao lado dele. Já no próximo dia 29 os dois descem juntos em Teresina, acompanhados do presidente da executiva nacional, Bruno Araújo, para uma série de contatos.

O ministro da Economia, Paulo Guedes
O ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Quem quer ouvir Guedes

A maioria da bancada cearense na Câmara concorda que o ministro da Economia, Paulo Guedes, precisa ir ao Congresso justificar-se em relação às contas em dólares que mantinha no Exterior contrariamente ao que está determinado pelas regras impostas a quem é servidor público, condição que ele ostenta desde janeiro de 2019. Dos nossos 22 deputados, expressivos 15 votaram pela convocação dele, enquanto outros 3 foram contra e os três restantes fugiram do tema e optaram por não colocar seus nomes no painel. Nesta última posição, a melhor maneira de não criar qualquer comprometimento com o tema.

Não disse sim, nem não

É interessante perceber que entre os três que se ausentaram do debate e da votação, acontecida lá atrás, em 6 de outubro, estava o deputado Capitão Wagner, do Pros, pré-candidato ao governo do Ceará, firme oposição local e, até onde se sabe, governista em Brasília. Acontece que no caso dele todos os passos a partir de agora exigem cálculo político, colocando na balança ganhos e perdas, sendo que na situação específica ela não pendia para um lado e nem para o outro. A saída, nessas horas, é o muro, no qual ele se instalou confortavelmente na esperança de que o tema saia logo da agenda.

Wagner, Eunício e a chapa

A agenda de pré-candidato do Capitão Wagner foi intensa nos últimos dias e focou o Cariri, onde chegou na quarta-feira e participou de uma série de reuniões políticas até a sexta. A caravana dele percorreu vários municípios e, inclusive, um dos pontos de suas conversas foi a conveniência da região ter o direito de indicar o vice para compor sua chapa majoritária. Na lista de opções que ele próprio apresenta, constam os nomes de Mônica e de Rodrigo Oliveira, como o sobrenome sugere, parentes próximos do ex-senador Eunício Oliveira. Mulher e filho, para ser mais preciso.

Enquanto isso, no PDT

A turma do PDT prepara para retomar no próximo fim de semana aquela programação de debates internos para filiados entre seus pré-candidatos ao governo do Ceará em 2022. A agenda prevê dois encontros, dias 23 e 24, o primeiro em Crateús e o segundo em São Benedito, em princípio contando-se com a presença dos quatro nomes que o partido considera para escolha final a ser feita mais adiante. Pela ordem alfabética, Evandro Leitão, Izolda Cela, Mauro Benevides Filho e Roberto Cláudio. À exceção de Izolda, a menos envolvida com a ideia, todos cumprem agendas próprias fortes, especialmente no Interior.
 

 

 

 

 

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