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Campanha histórica, no seu pior sentido
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Campanha histórica, no seu pior sentido

Tipo Análise
Campanha histórica, no seu pior sentido (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Campanha histórica, no seu pior sentido

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Na semana em que a campanha eleitoral de 2022 dá os seus primeiros passos oficiais, com o início autorizado das convenções partidárias que oficializarão candidaturas, é apropriado que se faça uma reflexão sobre o que aconteceu até agora e o que parece nos esperar pelos próximos dias e meses. Tempos mais desafiadores estão chegando pelo ambiente que está criado, de uma tensão inédita no ar, boa parte dela gerada pelo comportamento inadequado, até irresponsável em alguns aspectos, das autoridades federais, a começar pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que tentará reeleição.

É incerto, por exemplo, que seja pacífica a reação de Bolsonaro, e quem acompanha sua orientação, como auxiliar ou apoiador, a um resultado que lhe seja eventualmente desfavorável nas urnas. Uma derrota eleitoral, para usar português claro, hipótese, aliás, que a preço de hoje as pesquisas desenham com maior clareza. Tempo para reversão há, instrumentos que ajudem a mudar o cenário existem e estão sendo utilizados sem qualquer cerimônia pelo governo, em alguns casos até atropelando a lei quando ela se insinua como fator de resistência. Talvez até de maneira desnecessária, já que considerar a hipótese de reeleiçao do presidente atual não exige nenhuma extravagância analítica.

Para refletir sobre a caminhada que começa na etapa das convenções é necessário olhar para trás e tentar entender os passos que demos até aqui. Por exemplo, estamos hoje há uma semana do evento mais grave da chamada pré-campanha, no qual duas famílias foram destroçadas por uma situação de violência que custou a vida do petista Marcelo Arruda e mantém no hospital em estado grave, desde a madrugada do último domingo, o bolsonarista Jorge Guaranho, seu agressor. Dois pais de família, ambos com filhos recém-nascidos, que não se conheciam e que acabaram atraídos pelas diferenças ideológicas para um confronto que assumiu tons fatais, para um deles, pelo menos.

Minha análise procura olhar menos para culpas ou responsabilidades (mesmo que valha o parenteses de que o bolsonarista, no episódio, foi quem se movimentou pelo ódio até onde estava o petista em sua festa de aniversário) e, a partir do caso, lamentar que a sociedade, como um todo, apresente uma postura de relativa passividade diante das situações de violência que se sucedem. Em geral se vai às redes sociais com aquele tom de lamento geral, faz-se apelos genéricos pela paz, exige-se investigação e punição, uma nota oficial ou outra é distribuída, e pronto, fica por isso.

Uma pena que assim seja, porque há um histórico recente de campanhas eleitorais à disposição que nos mostra que pode ser diferente, que é possível manter as divergências no limite em que as pessoas não precisem se matar para impor suas visões políticas. Claro que o fato, hoje, de ter alguém como Jair Bolsonaro comandando o país e disputando uma reeleição ajuda a explicar muito do que acontece. Um dos papéis de quem ocupa a presidência da República, com o nome que tenha, é defender a confiança no sistema e oferecer aos eleitores tranquilidade o bastante para se sentirem seguros quanto ao voto.

Tudo que o governo atual não tem feito, com declarações e ações quase diárias de ataque às urnas eletrônicas, vazias no geral, onde o objetivo aparente é, na verdade, gerar dúvidas na cabeça das pessoas. O público atingido pela postura é aquele de sempre, ideologizado e, embora minoritário, em volume suficiente para fazer barulho e ajudar na manutenção de um ambiente de tensão que Bolsonaro ajuda a manter. Para desespero, medo e insegurança de quem não tenha a ver com suas estratégias para a disputa eleitoral que se avizinha.

O evento de Foz do Iguaçu, ao qual, repito, temos reagido como sociedade longe da dimensão grave que representa, mostra que é preciso muito pouco para o que é tensão virar violência. Às vezes, um inocente bolo temático de aniversário basta para servir de estopim.

 

"Manifesto que sou contra." Jair Bolsonaro, presidente da República, fazendo gracinha nas redes sociais com coisa séria, ou seja, com o pedido encamimnhado pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, para que se manifestasse na ação protocolada na justiça pelos partidos de oposição que tentam obrigá-lo a se abster de proferir discursos de ódio durante a campanha eleitoral

 

Agendas descruzadas

Não está fácil a vida de quem trabalha para manter a aliança governista no Ceará, como ficou mais uma vez demonstrado no fim de semana. A governadora Izolda Cela e o ex-prefeito Roberto Cláudio estiveram pelo Cariri, visitando a Expocrato, e fizeram de tudo para não aparecerem juntos. Da chegada no aeroporto às agendas que cumpriram no parque onde se desenvolvia o evento, tudo foi pensado e organizado na perspectiva de evitar um encontro, tal é o nível de desacordo que ainda hoje prevalece, às vésperas de uma decisão de candidatura que pode ser tomada amanhã. A pergunta é: como estas duas lideranças estarão juntas no mesmo palanque em alguns dias, uma pedindo votos para o outro? Ou, para efeito de gêneros, vice-versa.

No reino da boataria

É o que faltava para a coisa degringolar de vez: alguém ter gravado uma das reuniões mais recentes convocadas a pretexto de encontrar o caminho de consenso interno no PDT, até agora sem resultado. A história de que existe uma gravação, na qual o tom de algumas vozes em determinados momentos da discussão teria ido a muitos decibéis acima do que uma conversa civilizada registra, circula forte nos últimos dias. O partido segue, inclusive nessas especulações, pagando o preço de uma estratégia mal organizada, ou mal executada, na definição de uma candidatura que pareça capaz de unir a base. Por enquanto, isso não tem sido possível sequer entre os pedetistas

Mandato coletivo, à direita

A estratégia do mandato coletivo, até hoje no Brasil muito atrelada às siglas de esquerda, estará sendo posta em prática no Cariri pelos pré-candidatos Argemiro Sampaio e Aluisio Brasil que, nas eleições municipais de 2020, disputaram, respectivamente, as prefeituras de Barbalha e Crato. Agora juntos no União Brasil e apoiadores do Capitão Wagner para o governo, os dois acertaram juntar forças na briga por vaga à Assembleia, tratando-se, também de uma ação preventiva da parte de Argemiro que, ex-prefeito, está com direitos políticos cassados no momento. Acredita que reverterá, mas, na dúvida, está tudo montado para ele participar da eleição que se aproxima de qualquer forma.

A denúncia e o silêncio

O deputado estadual Heitor Férrer (União Brasil) quer saber no que deu a investigação sobre aquele esquema de tráfico de influência que denunciou em torno da concessão de empréstimos consignados para servidores públicos estaduais cearenses. De fato, passaram-se mais de oito anos desde quando a história veio à tona, rendeu muita crise política quando ainda era governador o hoje senador Cid Gomes e não se conhece conclusão, no sentido de inocentar ou de punir os acusados. Por outro lado, uma memória que o deputado precisa ativar no seu esforço de buscar o sexto mandato consecutivo, agora desafiado pelo vínculo a uma sigla que o coloca em briga pelo voto proporcional com candidatos de perfil que talvez nunca tenha enfrentado.

Pionerismo explícito

Com candidatura à Câmara Federal prestes a ser confirmada pelo Psol, Ailton Lopes demonstra otimismo com as perspectivas de sua campanha e, no básico, diz que é hora de "a bancada federal ter um viado representando o Ceará". Um dos nomes locais mais importantes da legenda, desde quando surgiu no cenário na disputa pelo governo do Ceará em 2014, surpreendendo à época com seus mais de 100 mil votos e uma performance desenvolta nos debates, ele surge como uma aposta boa para 2022. E, quanto à bandeira que pretende levar a Brasília, assumido e declarado, realmente, seria o primeiro caso da nossa história política.

Menos ICMS, mais votos

A bandeira da redução do ICMS e seus efeitos sobre o preço dos combustíveis, que está caindo no postos, assumiu destaque no discurso do pré-candidato do União Brasil ao governo, Capitão Wagner. Como ficou demonstrado em sua fala ao participar, ontem, de encontro político em Aracati. Quem vibra com o fato de as pesquisas internas indicarem que o tema é simpático e pode render votos é o deputado Danilo Forte, correligionário dele que tomou a frente da matéria no âmbito da Câmara e que disputa reeleição. No mais, Wagner segue econômico ao analisar a crise na base governista, adotando a tese simplista de que "não se unem entre eles como é que querem unir o Estado?". Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

 

Foto do Guálter George

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