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O testemunho e o alerta
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O testemunho e o alerta

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Tipo Opinião
3010gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 3010gualter

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É o fim de uma campanha eleitoral que deixa como marca histórica uma memória de violência, abusos, ameaças, descasos e intolerância em volume suficiente para encobrir o que também existiu como registro de boa ação política no período, com gente nas ruas, grandes mobilizações e até um interesse acima do comum da sociedade em acompanhar o processo de disputa pelo poder, especialmente no plano nacional.

No entanto, testemunha próxima que sou dos acontecimentos relacionados às eleições desde a recuperação pelo brasileiro do direito de escolher seu presidente da República, no distante ano de 1989 - quando, então estagiáro, já estava na redação do O POVO começando minha caminhada profissional -, sinto-me autorizado a concluir que este 2022 deixa, no essencial, um saldo ruim sob o ponto de vista da democracia. Ruim e preocupante.

O resultado final precisará ser desconsiderado na análise. Ou seja, quem quer que seja eleito estará legitimado pelo voto dos brasileiros e deve ser reconhecido como tal, especialmente na disputa presidencial, pelo candidato eventualmente derrotado. Começa nesse ponto um dos aspectos que mostram o momento delicado que vivemos, já que o comportamento de um dos blocos do ambiente polarizado estabelece um quadro de desconfiança permanente no nosso sistema eleitoral, ora colocando em dúvida a segurança das urnas eletrônicas, ora buscando atacar a justiça e as autoridades responsáveis no sentido de tirar delas a legitimidade de que precisam para suas ações de controle do processo. E, em razão disso, se estabelece uma dúvida que não deveria existir a essa altura.

Naturalizamos eventos e situações absolutamente fora de qualquer normalidade democrática, e na real inexistia outra forma de conviver com a situação no curto prazo. Gente se matou por diferenças políticas, militantes foram impedidos pelo medo de expressar suas simpatias nas ruas, mobilizações acabaram finalizadas sob ataques violentos e até tiros, um candidato à presidência (caso objetivo de Jair Bolsonaro) percorreu toda a campanha atacando o comando da justiça eleitoral, enfim, há uma lista absurda de inconveniências que, em tempos normais, gerariam consequências. Sem contar que o uso da máquina aconteceu no nível mais intenso e aberto desde quando o direito à reeleição foi legalmente estabelecido no País.

A missão de todos, a partir de amanhã, é mergulhar fundo na discussão sobre o que aconteceu na campanha eleitoral que chega ao fim, localizar os problemas que ela deixa para trás, buscar punir aquilo que ainda pareça possível fazê-lo, pelo sentido exemplar, e depurar o nosso ambiente eleitoral e político em relação às práticas ruins que seguem sendo observadadas, até em certo sentido prevalecendo.

É imperativo que não se deixe que 2022 se transforme no padrão das disputas pelo poder no Brasil porque isso representaria, num prazo mais curto do que somos capazes de imaginar, o sufocamento da própria democracia.

As contas de Camilo

A atenção concentrada, até justificadamente, no momento eleitoral decisivo, com Lula e Bolsonaro lutando voto a voto pela vitória na disputa presidencial, tirou os holofotes de um fato político importante na semana. Acontecido, com mais precisão, na última quarta-feira, dia 26. O sufoco que enfrentou o ex-governador, e senador eleito, Camilo Santana (PT) para ter suas contas de 2021 aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), graças ao voto de minerva do presidente Valdomiro Távora.

Recomendações de Soraia

A conselheira Soraia Victor costuma mesmo ser muito rigorosa em seus relatórios, surgindo como novidade real agora o fato de metade do plenário ter-se posicionado a favor da desaprovação das contas que ela sugeriu. O 4x3 pela aprovação com ressalvas há de ser entendido como recado e a força técnica do documento, que aponta 70 recomendações ao governo para consertar os erros e problemas identificados, deve basear a nova turma que está chegando para ter um pouco mais de atenção com o que a lei exige em termos de contas públicas.

A posição do opositor

Um persistente crítico do governador Camilo Santana nos quatro primeiros anos do seu mandato de senador, Eduardo Girão (Podemos) se diz pronto para, como representante do Ceará no parlamento, ajudar Elmano Freitas, a partir de janeiro, dentro de suas possibilidades. "Senador não tem esse negócio de oposição, senador é para ajudar o Ceará", diz ele, que, na verdade, teve muito mais desencontros que encontros com Camilo desde 2018 nas situações em que os dois precisaram cruzar esforços políticos.

O prefeito queria mais

Apesar de ter saído muito vitorioso das urnas como "cabo eleitoral", ao eleger a filha (Fernanda) como deputada federal, a sobrinha (Emília) e o aliado (Firmo Camurça) para Assembleia Legislativa, o prefeito Roberto Pessoa (PSDB), de Maracanaú, não se demonstra totalmente satisfeito com o resultado de 2022. Ele era um dos mais otimistas com as chances do Capitão Wagner ganhar o governo, ou, pelo menos, vislumbrara a perspectiva de uma disputa em segundo turno. Quem tem estado com ele diz que sua decepção é flagrante.

As boas vindas de Leitão

Boa parte da agenda da semana que hoje se inicia do presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PDT), será dedicada a encontros com os 25 novos deputados que a Casa receberá a partir da próxima legislatura. São aqueles contatos de sempre para acertar pontos, esclarecer uma coisa ou outra, manifestar-se preferência em relação a localização de gabinete, coisa assim. No caso, porém, há a situação pendente na sucessão do parlamento, sem que ainda se tenha certeza total de que Leitão está fora do páreo.

O voto e a consciência

É isso. Vamos às urnas, confiemos na segurança que elas representam como expressão do desejo efetivo da maioria dos eleitores, quem achar que deve sinta-se à vontade para comemorar, quem não gostar do resultado expresse com civilidade sua eventual tristeza, mas, no final, que prevaleça o ambiente de respeito e tolerância. Até pelo fato de ao acordar, amanhã, estarmos todos de volta a uma realidade que, independente do eleito, requer um País unido, mesmo em meio à diferença e a diferentes. Bom voto a todos.

"Quem tiver mais votos, leva" Jair Bolsonaro, presidente da República e candidato à reeleição, finalmente sendo claro durante entrevista à jornalista Renata Lo Prete, da TV Globo, quanto à intenção pessoal de reconhecer o resultado da votação de hoje, mesmo que eventualmente venha a ser derrotado

 

Foto do Guálter George

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