Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Os tempos são difíceis na sua composição geral e não haveria como imaginar que algo diferente se daria com o sensível campo do jornalismo. Especialmente quando há honestidade na aplicação do conceito de democracia como algo que pareça capaz de respeitar o conjunto completo das visões, incluindo aquelas que conflitam de maneira direta com o que cada de um nós pensa como verdade.
Feito o preâmbulo, sigamos de maneira objetiva em direção ao ponto essencial: deveria o jornal ter publicado o artigo da edição do último domingo, dia 27/11, assinado pelo articulista Pedro Henrique Antero, notório apoiador do presidente Jair Bolsonaro? No qual, para clarear o que estará tratado a seguir, ele abordou o momento político e valendo-se de interpretação pessoal sobre o artigo 142 da Constituição Federal, defendeu que as Forças Armadas deveriam intervir, ignorando o resultado da eleição, da qual saiu vencedor Luiz Inácio Lula da Silva, para algo que define como dar "um basta" em tudo que vem sendo feito pelo STF e o TSE.
Como responsável direto pela ida do texto à página, decisão fundada em razões editoriais (e unicamente), vi-me na obrigação de um posicionamento público diante da dimensão tomada. Para mim, absolutamente desproporcional. O fato de eu discordar naquele texto até das vírgulas, e eu discordo, não pode funcionar como impeditivo da publicação, da mesma forma que sua colocação na página não representa um selo institucional de que o jornal assina embaixo as ideias equivocadas ali expostas.
Aliás, as posições do O POVO em defesa da democracia, das urnas eletrônicas, da legitimidade do que aconteceu no processo eleitoral de 2022, estão muito bem postas dentro de um conjunto de editoriais publicados, expressando o que é uma posição oficial e inegociável. O que manifesta no texto o articulista em questão tem sido sistematicamente objeto de nossas críticas e contestações da maneira mais aberta e transparente possível, não parecendo justo levantar qualquer dúvida em relação a compromissos históricos expressos numa Carta de Princípios que seguimos à risca.
O artigo do senhor Pedro Henrique Antero era (e é) publicável, insistirei, porque coloca em debate uma premissa que está inserida no debate político, queiramos ou não. Há gente no meio jurídico que defende sim a aplicação do tal artigo, membros de Ministério Público o citam, do Judiciário igualmente, parlamentares usam de seus espaços para darem alento à tese, sem que se conheça punições decorrentes disso contra ninguém. É uma minoria, aceite-se, mas parece jornalisticamente equivocado fazer de conta que não existam, desconhecer que muita gente segue diante de unidades militares pedindo a tal intervenção sob o olhar complacente de todos, em certo sentido até da própria sociedade.
Ao jornalismo não é dado o direito de ignorar determinados fenômenos sociais e estamos diante de um deles, cabendo-nos administrar a situação com frieza e clareza. O polêmico artigo fala por parcelas da população que estão ai entre nós e precisam ser esclarecidas do equívoco, da gravidade e da inconveniência da agenda que as move nesse momento. Não será silenciando-as ou cancelando-as que resolveremos o sério imbroglio que Pedro Henrique Antero expõe com seu ponto de vista.
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