Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A política não é uma ciência exata e exige que cada fato que a envolve seja visto na circunstância objetiva em que acontece. Ei-la, de novo, gerando surpresas com o debate do momento no Congresso Nacional que coloca de um lado um grupo aparentemente interessado em investigar o que realmente aconteceu naquele 8 de janeiro trágico em Brasília, saber as motivações reais, quem organizou aquela violência contra os símbolos institucionais, quem participou das ações etc, enquanto de outro, numa postura defensiva, outro segmento político tenta barrar qualquer iniciativa de investigação que tenha origem no parlamento.
O que chama atenção em tudo? Para esta coluna, conforme registros sucessivos que têm sido feitos, a presença destacada, entre os que expressam uma vontade quase obsessiva de saber o que aconteceu e ir atrás das punições devidas, de gente que tem mais a explicar do que a investigar, mais a responder do que a perguntar. É o caso extravagantemente claro do deputado federal cearense André Fernandes, do PL, o responsável por colher assinaturas de apoio para uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que seria mista - também integrada por senadores, portanto -, cujo foco é apurar os eventos que aconteceram às vésperas e naquele dia que entrou negativamente para a história política brasileira. O 8 de janeiro já citado.
A escolha dele, exatamente, para a missão de pedir assinaturas de apoio soa como uma espécie de provocação. Nunca é demais recordar que o parlamentar cearense está sob a condição de investigado em processo tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido da Procuradoria Geral da República, que investiga, veja só, os eventos relacionados àquele dia de ataques à democracia. A acusação? Suspeita de incitação ao crime e provocação à prática de abolição violenta do Estado Democrático de Direito a partir de posts publicados pelo deputado André Fernandes em suas animadas redes sociais nos quais manifestava entusiasmo com eles e até comemorava os atos antidemocráticos, estes mesmos que, agora, engrossa a voz para dizer que quer ver esclarecidos. Parece muita desfaçatez e, de fato, o é.
Por isso chama atenção a fragilidade política que o governo demonstra no episódio. O que se vê na realidade é uma forte movimentação das lideranças ligadas ao Palácio do Planalto no Congresso no sentido de convencer parlamentares que assinaram o requerimento de CPI para que desistam e retirem seus nomes do documento. A verdade, portanto, é que o primeiro embate da nova configuração política nacional registra uma eficiente oposição assumindo uma postura ofensiva e emparedando os governistas num debate do qual não há como pensar que eles (os oposicionistas) podem tirar proveito. Não há como imaginar que exista um caminho que torne possível ao deputado cearense e seus companheiros de aventura se saírem bem da história. Apesar disso, sim, eles criaram um clima que faz isso parecer real.
O que acontece nesse momento deve servir de alerta para Lula e seu time em relação aos desafios de futuro. Uma oposição que consegue controlar a narrativa de um caso que lhe é tão ostensivamente desconfortável, como se dá neste exemplo, certamente tem força para causar um estrago de dimensão maior quando tiver à disposição para explorar erros e problemas realmente atribuíveis ao governo que tem como objetivo principal combater.
Quem acumulou mais força política com movimentos recentes da política cearense foi o deputado federal Idilvan Alencar, do PDT, recém-empossado para o segundo mandato consecutivo. É que com a licença do vereador Guilherme Sampaio, para assumir vaga de Assembleia com afastamento por 121 dias de Fernando Santana, assume cadeira na Câmara de Fortaleza para os próximos quatro meses, pelo menos, a professora Adriana Almeida. É do PT, tanto quanto Guilherme e Fernando, mas ela integra a chamada "bancada do livro" que Idilvan montou em 2020 com nomes em vários partidos para defesa da causa da educação nos parlamentos municipais.
A manta de carneiro artesanal dos Inhamuns é uma poderosa "arma política" comumente utilizada pelo deputado federal Domingos Neto (PSD) como estratégia para agradar quem lhe interesse gerar aproximação, especialmente gente da política nacional. Faz sentido, assim, a iniciativa da deputada estadual Gabriella Aguiar, irmã dele, de apresentar na Assembleia Legislativa projeto de lei que institui certificação à iguaria de patrimônio cultural e imaterial do Ceará. Na verdade, trata-se da retomada de uma ideia originalmente apresentada pela então deputada Patrícia Aguir, hoje prefeita de Tauá, que vem a ser a mãe dos dois parlamentares.
A Câmara de Vereadores de Juazeiro do Norte precisará, passado o luto pela trágica perda da presidente Yanny Brena (PL), resolver o impasse em relação à ocupação futura do cargo. Não é pacífica a leitura de que haverá necessidade de uma nova eleição e existe quem defenda o direito do 1º vice, Raimundo Júnior (MDB), a dar sequência à gestão que ela comandava, aliás, sob muitos elogios dos colegas. Por enquanto, priorizando o que é prioritário, o emedebista colocou o Legislativo juazeirense à disposição dos esforços de esclarecer o episódio que custou a vida dela e do namorado, Rickson Pinto, além de ter decretado luto oficial de sete dias e ter suspendido as sessões programadas para os dias 7 e 9 próximos.
O que chama mais atenção na crise que agitou o PDT e a política do Ceará nos últimos dias é a reaparição do senador Cid Gomes no debate com a energia de sempre. Há, dentro do partido, quem se queixe de uma espécie de ausência dele das grandes discussões internas, inclusive avaliando que uma parte dos problemas de desarticulação atual pode ser resultado, exatamente, da falta de sua liderança, como reconhecimento da ascendência natural que ele tem sobre um grupo que o acompanha faz algum tempo, inclusive nas mudanças partidárias. A transferência desse poder ano passado para o irmão, Ciro Gomes, demonstrou-se desastrosa.
Ceará e Piauí, que andam brigando por uma faixa de terra na divisa entre os dois estados, hoje correspondente à região da Ibiapaba, juntam forças para uma outra agenda: a retomada, e conclusão, das obras da Transnordestina. Foi proveitosa a reunião comandada na semana pelos governadores Elmano de Freitas e Rafael Fonteles, ambos petistas, com as bancadas dos dois estados para articularem uma ação conjunta de pressão sobre as instâncias federais para uma tomada de decisão definitiva em relação à obra. Para os dois estados, estratégica em relação aos seus projetos de desenvolvimento na parte que trata da mobilidade e dos transportes.
Era questão de tempo que a força concentrada no secretário da Casa Civil, Max Quintino, começasse a gerar desconfortos políticos. Por enquanto pode-se dizer que os já registrados são pequenos e controláveis, tanto quanto previsíveis. Mas o fato é que durante a semana alguns deputados fizeram chegar ao Palácio da Abolição recados de um certo incômodo com o que se considera pouca atenção dada à suas demandas pelo estratégico auxiliar do governador. O problema, se este é o termo melhor a utilizar no caso, está no fato de Max vir crescendo a cada dia na confiança de Elmano de Freitas, que é quem importa de verdade na questão.
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