Logo O POVO+
A briga, agora, é de gente grande
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A briga, agora, é de gente grande

Prefeito e governador trocaram ataques na semana, em função do aumento da tarifa de ônibus, em meio a uma crescente tensão que escala da base para o topo dos líderes
Tipo Análise
1203gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1203gualter

A escalada recente na tensão entre PT e PDT no Ceará demonstra que a paciência acabou e que se entendeu ter chegado a hora de aclarar as coisas, de maneira definitiva. O que acontecer nos próximos dias definirá se as duas forças mantêm uma aliança que há resistido desde 2006 ou assumem a condição definitiva e oficial de antagonistas, numa perspectiva que vai pelo menos até 2024, quando o calendário eleitoral prevê uma nova fase de disputa pelo poder (no caso, concentrado nos níveis municipais). É o que se depreende da entrada direta na briga, como protagonistas, do governador Elmano de Freitas e do prefeito (de Fortaleza) José Sarto, indicando ter chegado o momento do "ou vai, ou racha".

Enquanto a confusão estava apenas no âmbito dos intermediários, dos porta-vozes, restrita aos discursos dos aliados, sempre ficava no ar uma expectativa de que em algum momento os líderes maiores apareceriam para acalmar as coisas e fazer um acerto. É lembrar que Elmano e Sarto, enquanto os seus brigavam nos parlamentos, apareciam juntos e sorridentes em eventos, proporcionando imagens que mantinham viva a chance de uma retomada das conversas que os manteve lado-a-lado nos últimos anos. As cúpulas partidárias regionais se entendiam, pelo menos, mesmo quando havia opções localizadas diferentes, como acontecia sempre em Fortaleza.

O cenário mudou na semana passada com a acusação direta de Sarto contra Elmano e a dura resposta deste, como reação, no caso do reajuste das passagens dos transportes coletivos em Fortaleza. Segundo o prefeito, uma medida impopular que teria sido imposta por uma decisão do governo estadual de suspender, sem avisar, acordo entre as partes em vigência há algum tempo que previa uma transferência mensal na casa de R$ 3 milhões para segurar o preço da passagem.

O ataque e a defesa, no tom em que aconteceram, apontam para o rompimento de uma postura mútua cuidadosa que indicava ainda existir expectativa de alinhamento entre as partes. A ideia de que o governador e o prefeito poderiam em algum momento liderar seus lados para o rumo de uma conversa amigável parece inviabilizada, nesse momento, pelos fatos dos últimos dias e horas.

Resta uma expectativa: a de que Camilo Santana, pelo PT, e Cid Gomes, representando o PDT, tenham força suficiente para acalmar os ânimos, cada um do seu lado, e fazer um último esforço pela salvação da aliança. O problema, em especial no lado pedetista, é que Cid já não parece ter força bastante para conter sua turma, em especial no núcleo fortalezense comandado pelo ex-prefeito Roberto Cláudio, que segue demonstrando dificuldade para absorver o que aconteceu em 2022 e aposta no confronto com os petistas como melhor caminho a ser traçado no Ceará em termos de futuro. Uma jogada arriscada e, na leitura de agora, com fortes chances de se mostrar equivocada.

.

"O governador criou mais 14 secretarias. Estamos vendo a política voltando a ser feita assim. A oposição não existe mais aqui no Ceará, é cooptada dessa maneira, dando uma secretaria, um cargo, como se fez também no Brasil e como Lula está querendo fazer" Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, ex-senador da República e presidente da executiva do PSDB no Ceará, durante encontro com jovens empresários, dizendo-se decepcionado com o começo da gestão de Elmano de Freitas, do PT

.

A nova pauta do deputado

Com a trágica morte de irmã Yanny Brena e as circunstâncias que a cercaram, o deputado federal Yuri do Paredão, do PL, decidiu pela inclusão entre suas bandeiras de luta na política de um tema para o qual, até então, razões ideológicas o fazia manter certa distância: o combate ao feminicídio. "Dou a minha palavra que lutarei para que a dor que sinto agora não seja sentida por outras mães, outros pais e outros irmãos", escreveu ele nas suas redes sociais, de maneira tocante e sincera. Lembrando que o parlamentar é da linha bolsonarista e, como tal, até então sensibilizava-se muito pouco com o drama, que diz respeito à dura realidade da mulher brasileira.

Dep. Yury do Paredão (PL - CE)(Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados Dep. Yury do Paredão (PL - CE)

Entre a dor e a política

Aliás, a vida real começa a voltar ao ambiente político da Câmara de Vereadores após o choque pela perda inesperada de sua presidente. A sessão da próxima terça-feira é esperada com muita atenção pela perspectiva de colocar em debate a sucessão de Yanny Brena, já havendo dois grupos, pelo menos, se articulando. Nos bastidores, fala-se bastante nos nomes dos vereadores Capitão Vieira (PTB) e Beto Primo (PSDB), o primeiro ligado ao grupo da ex-presidente e o segundo com a simpatia do prefeito Gledson Bezerra (Podemos). O que se diz é que a disputa está bem parelha.

Um futuro em disputa

É hora de se prestar um pouco mais de atenção nos movimentos do deputado estadual Evandro Leitão (PDT), presidente da Assembleia Legislativa. A situação atual do partido o incomoda, próximo que continua sendo do ex-governador Camilo Santana, e os convites de filiação parecem se acumular em sua mesa. Uma lista que, surpreendentemente, inclui até o União Brasil, conforme manifestação pública na semana da deputada federal Fernanda Pessoa, restando saber como seria possível acomodá-lo ao lado do Capitão Wagner na mesma legenda. O MDB também estaria de olho no influente parlamentar.

Enquanto isso, no Abolição

Outro movimento que exige leitura mais profunda é aquele que tem feito o prefeito e maior líder cearense do União Brasil, Roberto Pessoa. Na última sexta-feira, acompanhado da própria Fernanda Pessoa (sua filha) e do fiel aliado na Assembleia, deputado Firmo Camurça, foi recebido no Abolição pelo governador Elmano de Freitas para uma longa e animada audiência. Alguém chegou a ouvir da boca dele uma coisa do tipo "estou onde sempre gostaria de estar". De novo: como fica o Capitão Wagner na história? Lembrando-se que o ex-deputado é, hoje, secretário de Saúde de Maracanaú.

A qualidade da quantidade

A conta foi apresentada outro dia por uma fonte e, se real, aponta a eficiência da estrutura de articulação montada por Elmano de Freitas. O mapa político do Palácio da Aboliçao marcaria 162 prefeitos na base de apoio ao governo, número confortável mesmo no contexto em que se sabe que é caminho natural que a maioria deles costuma adotar em qualquer que seja a situação e com o nome que tenha o governador de plantão. Fato é que o trabalho até agora desenvolvido, neste caso específico do assessor Artur Bruno, está sendo muito elogiado pelos resultados

Camilo sob críticas

Nome respeitado na área, militante da causa da educação e, inclusive, integrante do grupo de transição, Daniel Cara tornou-se uma das vozes mais críticas ao trabalho do cearense Camilo Santana à frente do MEC. Sua queixa principal é quanto à relutância do ministro em revogar, pura e simplesmente, a proposta de Reforma do Ensino Médio apresentada pelo governo Bolsonaro e que, inclusive, tinha cronograma de implantação definido. Camilo adiou o calendário, ganhou tempo, mas resiste à ideia de ignorá-la por completo. O tom das crítcas de Cara, filiado ao Psol, cresce a cada dia que passa.

 

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?