Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Perdi a parte do debate em que aparentemente se decidiu, no Brasil, não mais cobrar de quem chega ao posto de presidente da República, o ápice de uma carreira política, o cuidado mínimo que se espera dele nas declarações públicas que venha a fazer. A começar por um trato melhor da linguagem, nunca (mas nunca mesmo) valendo-se de palavrões para expressar o que pensa sobre o assunto que seja. É imperdoável, nesse contexto, que o atual ocupante do cargo, Luiz Inácio Lula da Silva, use o termo que usou, mesmo que falando de uma situação de passado que ele diz estar superada, durante uma entrevista.
Falo do relato que fez, em conversa com jornalistas veiculada pelo site Brasil 247, das conversas eventuais que mantinha com procuradores que o visitavam na cela da Polícia Federal onde esteve mantido em Curitiba nos anos de 2018 e 2019, aos quais costumava responder a uma singela pergunta que tentava ouvir dele se estava bem com um agressivo: "só estarei quando foder o Moro".
Peço licença ao leitor para reproduzir a frase na sua inteireza, com todo o constrangimento que isso me provoca. E, imagino eu, deveria causar a quem, ocupando a função política mais importante e visada de um país com a importância do Brasil, se vale de termos chulos para expressar alguma situação, mesmo que, como é caso, seja para reportar um sentimento ruim que Lula, hoje novamente presidente, garante superado. Sentimento ruim, claro, no sentido em que está inserido.
Lula merece ser repreendido pelo episódio, que não engrandece à política e nem está à altura da posição que graças ao voto do brasileiro ocupa hoje, pela terceira vez. Agora, por favor, ninguém que tenha apoiado o antecessor dele deve se sentir autorizado a demonstrar indignação com o mau uso das palavras exposto no exemplo. A menos que também tenha se indignado antes com o próprio Jair Bolsonaro.
É só lembrar o que assistimos naquela reunião de 22 de abril de 2020, arrisco dizer, uma das coisas mais vergonhosas que a política do país já foi capaz de produzir. O então presidente, fazendo uso do mesmíssimo termo, dirigiu-se à equipe ministerial para deixar claro até onde estava disposto a ir para defender seus filhos e seus amigos, a partir de uma compreensão um tanto paranóica que tinha de que autoridades da segurança do Rio de Janeiro, ligados à Polícia Federal, estavam agindo de maneira direcionada para prejudicá-lo.
Naquela triste ocasião, inclusive, a mesma palavra chula (além de várias outras) apareceu em outros momentos de uma reunião que, somos levados a imaginar, juntava o mais alto escalão da vida pública nacional. Pelo menos, no âmbito do Poder Executivo. O termo, que já citei antes e não tenho coragem para utilizá-lo duas vezes num mesmo texto que assine, também aparece, por exemplo, numa participação do então ministro da Fazenda, Paulo Guedes, vinculado ao que ele considerava que o governo deveria fazer em relação aos servidores públicos.
Tudo errado, antes e agora. Aliás, Sergio Moro, hoje senador, dá sua contribuição ao ambiente de hipocrisia e bagunça. Ele é a vítima de carne e osso dos xingamentos de Lula, diga-se inicialmente, mas escorrega na repercussão ao fazer uma leitura política hipócrita da situação e considerar que o presidente usa, para atacá-lo, a linguagem "que aprendeu na cadeia".
Acontece que trata-se da mesma expressão que, sentado na cadeira de ministro da Justiça, assistiu seu chefe da época fazer uso em tom até mais enfático durante uma reunião de governo, inclusive atropelando sua autoridade. Como à época não manifestou uma só reação de incômodo com o rosário de impropérios do presidente, seria curioso saber, hoje, se tem ideia das inspirações de Bolsonaro, lembremos, afinal, um homem de Deus e da família.
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