Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
.
Um aviso aos navegantes: Cid Gomes está de volta ao jogo da política estadual. Há quem considere que sua decisão de se afastar do processo de conversas em 2022 foi determinante para o tamanho que alcançou a crise entre PT e PDT que se arrasta até hoje e que, com um novo processo eleitoral entrando em pauta, não apresenta sinais de pacificação. Pelo contrário, o quadro de momento permite dizer, em projeção, que o cenário de futuro aponta um clima de chuvas e trovoadas no ambiente comum aos aliados de até outro dia.
No meio de um mandato de senador, Cid, até agora, passa incólume pelo ambiente do Congresso, sem protagonismo pessoal e sem presença destacável nos grandes debates que movimentaram os últimos quatro anos da casa legislativa onde tem assento garantido pelo eleitor até, pelo menos, o começo de 2027. O que, de certa forma, frustrou expectativas de quem acreditava que o político cearense, após dois períodos sequenciados como governador e experiências exitosas anteriores como prefeito de Sobral e deputado estadual (com passagens pela presidência da Assembleia), tinha perfil para chegar ali marcando posições.
Em conversas com gente mais próxima, lá atrás, o líder pedetista chegou a sugerir intenção de abandonar a vida pública após o final do atual mandato de senador. Uma ideia em linha com a inação que até então marcava o mandato político para o qual tinha sido eleito e com a ausência de sua voz nos grandes debates, abrindo-se um vácuo de preenchimento difícil na perspectiva do grupo que lhe era mais próximo. Há sinais evidentes de que o clima mudou.
No ambiente do Senado é visível, a partir de uma presença relevante do representante cearense no seleto time dos que articulam as coisas ali dentro. Por exemplo, hoje lidera a bancada do PDT, posição na qual teve voz ativa na distribuição dos cargos importantes, sempre uma fase delicada porque objeto de disputas em praticamente todos os casos, cada uma com sua natureza. Ele próprio colocou-se como vice-presidente das comissões de Desenvolvimento Regional e na de Educação.
No plano local, o que se nota numa fase recente é um Cid Ferreira Gomes falante, aberto a entrevistas, incisivo nas suas declarações, numa espécie de anúncio, pelas palavras e ações, que voltou. Muda alguma coisa? Para a disputa de 2024 será difícil porque o quadro de diferenças na aliança ferida está bem delineado, dentro do PDT o prefeito José Sarto e o ex Roberto Cláudio engrossaram a voz o bastante para dificultar, para já, qualquer movimento de reaproximação. Agora, falando de 2026 já se pode dizer que o atual senador insinua-se por uma renovação do seu mandato.
É um jogador de primeira prateleira, uma liderança cuja voz se faz ouvir. Começando pelo aspecto em que Camilo Santana é Camilo Santana, Roberto Cláudio é Roberto Cláudio, para ficar apenas nos dois casos mais eloquentes do cenário político de agora, porque, lá atrás, Cid trouxe-os a um patamar novo ao escolhê-los, em decisões quase pessoais, para a disputa de cargos majoritários em nome da aliança política que àquele momento os unia. A volta aparentemente plena do senador pedetista, por enquanto, gera apenas expectativa que deixa mais perguntas do que respostas, prevalecendo dúvidas quanto à capacidade real que terá de pacificar um ambiente conturbado demais para se resolver num simples movimento. Por mais que não seja tão simples assim.
"Participar do governo do Lula não impede daqui a três anos que o PDT venha ter candidato a presidente, mas a decisão tem que ser tomada com tempo de não parecer que ficamos até a última hora e saímos para lançar um candidato"
Nenhum movimento de reconstrução do PSDB no Ceará acontece hoje sem conhecimento, autorização e/ou orientação do ex-senador e ex-governador Tasso Jereissati. Fora de mandatos, ele se diz mais político do que nunca e, inclusive, pegou pelo braço o vice-prefeito de Fortaleza (e neotucano) Élcio Batista e levou-o a Brasília para apresentar ao novo comando nacional do partido, agora liderado pelo governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, num rito de passagem da executiva do Ceará. A palavra "renovar" é pronunciada por Tasso em quase toda frase que diz respeito ao novo momento partidário.
E a confusão política em Juazeiro do Norte não para. Ainda em meio à disputa pelo comando da Câmara, com a contestação judicial à eleição do Capitão Vieira, uma nova crise se instala com a cassação de David Araújo pelo TRE, sob acusação da prática de abuso de poder econômico na campanha eleitoral de 2020. Os dois são do PTB e, inclusive, o próprio novo presidente ainda enfrenta um problema na justiça e chegou a ser afastado do mandato recentemente. Ainda cabe recurso e ele será apresentado no TSE, certamente, mas que o legislativo do importante município caririense está precisando de reforçar seus apelos por proteção ao Padre Cícero, isso é verdade.
Foi crucial o papel do presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, na decisão do governador Elmano de Freitas (PT) de revogar o Fundo Estadual de Sustentabilidade Fiscal (Fesf), que conseguira aprovar mês passado na Assembleia. Assim que saiu o acordo com o Governo Federal em relação às perdas do ano passado com a medida que baixou a arrecadação com o ICMS, o dirigente empresarial foi rápido e propositivo, articulando-se no âmbito da própria entidade e, ao mesmo tempo, munindo Elmano de informações e dados acerca do impacto que um recuo teria na economia local. Convenceu e levou.
A oposição, claro, também tira sua casquinha. É do jogo. O deputado Queiroz Filho (PDT), mais fiel aliado de Roberto Cláudio na Assembleia, lembra das várias advertências que fez ao governo durante o debate que levou à votação da matéria, aprovada por 35 votos contra 8, dos efeitos que o Fesf teria sobre as empresas, especialmente em relação à capacidade de gerar empregos. "É importante, agora, reconhecer humildade do governo em admitir que a medida estava errada", disse ele após o anúncio de Elmano, reforçando sua ideia de evitar assumir posicionamentos "apenas por motivos políticos".
A primeira (e esperada) visita de Lula ao Ceará como presidente da República, nesse terceiro mandato, chegou a ser anunciada informalmente para fevereiro, garantindo-se que havia apenas detalhes por serem acertados para o seu anúncio. O certo é que não aconteceu, mas a coluna foi informada que dificilmente passa de abril, havendo, inclusive, uma ideia de organizar uma agenda conjunta dele com o ministro da Educação, Camilo Santana. Uma forma de mostrar aos locais que o nosso representante no primeiro escalão anda com prestígio em alta, gesto até desnecessário para o momento, mas que tem valor político para qualquer circunstância.
O presidente Lula errou na sua manifestação acerca do plano abortado que tinha entre os alvos de uma facção criminosa o ex-juiz, e hoje senador, Sergio Moro. Isso é ponto pacífico. Agora, na reação de Moro há hipocrisia na indignação e na cobrança de decência, alegando liturgia do cargo, considerando-se a convivência pacífica que teve com Jair Bolsonaro, na história brasileira moderna, de longe, quem menos observou tais exigências no exercício da presidência. A cobrança não lhe seria feita se não tivesse largado o magistério e aceitado um convite, em 2019, para comandar o Ministério da Justiça, mas o certo é que ele pagou para ver. E está vendo. E pagando.
A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.