
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O resultado eleitoral de 2022 parece ter sido ainda mais doloroso para trajetória política de Ciro Gomes em razão do conjunto importante de situações que acabaram envolvendo-o. Gente que esteve com ele em tempos mais recentes, na silenciosa fase pós-urnas, confirma que há componentes na conjuntura que ampliaram um pouco sua dor pessoal, e não apenas porque a performance foi muito ruim, pode-se dizer até que humilhante, mas também devido a aspectos pessoais que terminaram por marcar a nova temporada de um veterano frequentador de eleições.
O mais evidente deles foi o "rompimento" com o irmão, e senador, Cid Gomes, uma situação inédita e, pelo que demonstra até hoje, mal absorvida por ambos. O que houve, na verdade, foi um distanciamento entre eles e uma opção de Cid, vencido na conversa que tiveram sobre o melhor caminho a adotar na briga pelo governo do Ceará, por manter distância dos palanques e das campanhas. Ou seja, não é que o senador passou a atacar o irmão, que colocou-se numa linha de confronto etc, mas, é fato, ele não abraçou a causa eleitoral no ano passado com o entusiasmo dos tempos anteriores.
Para os padrões Ferreira Gomes, uma postura que faz toda a diferença e, por exemplo, ajuda a justificar a pífia votação de Ciro no Estado como candidato à Presidência. Vale recordar, o pedetista foi a opção de apenas 6,8% dos eleitores cearenses como candidato à presidência da República, quando, quatro anos antes, com tudo acertado dentro da família, obtivera 40,9%.
A coluna ouviu de pelo menos três fontes que mantiveram algum tipo de contato com Ciro Gomes entre o final do primeiro turno de 2022 e alguns dias atrás, quando reapareceu em público para um ato de apoio à reeleição do prefeito José Sarto em Fortaleza, e a impressão comum é de que o racha com os irmãos - Ivo Gomes teve postura semelhante à de Cid - não parece ter sido absorvida por ele. Talvez porque exista uma relação direta com os números pífios que sua candidatura produziu até no Ceará, talvez porque as questões familiares, muitas vezes embutem aspectos de natureza muito íntima e que nem sempre o ambiente da política consegue explicar. Ou, justificar.
Aliás, uma das fontes sugere que mais um nome seja incluído na lista dos que Ciro Gomes considera determinantes para o que lhe aconteceu eleitoralmente no ano passado: Arialdo Pinho. Não é parente seu, mas também foi a primeira experiência de distanciamento entre ambos numa campanha desde quando o político cearense subiu à prateleira de cima da política nacional, sempre funcionando como um braço fundamental na hora em que as ideias precisavam ser transformadas em ação. Este parece parece ser um caso mais delicado, inclusive porque uma tentativa de intermediar uma reaproximação, pós-eleições, gerou uma reação enérgica do próprio Ciro. "Nem tente", disse ao interlocutor.
Certo é que, aos 65 anos, Ciro Gomes precisa pensar seu futuro na política. Nas amizades novas que criou nas eleições mais recentes destaca-se a do publicitário João Santana, que vê boas perspectivas de uso das redes sociais pelo pedetista e estaria à frente de uma ideia em planejamento que as coloca como ponto de partida para uma retomada da caminhada que mantém como foco o Palácio do Planalto. É só entender se isso prescinde de um reacerto familiar ou se tem como acontecer independente de sua efetivação.
Andaram conversando nos últimos dias o novo presidente do PR no Ceará, Chiquinho Feitosa, e o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (União Brasil). É mais um movimento da estratégia do gestor municipal de criar um isolamento em torno do deputado estadual Júlio César Filho (PT) que tenta aglutinar forças para uma aliança como candidato em 2024 e, claro, precisa de chancela do governo do Estado para entrar na aventura eleitoral. É onde o empresário, muito próximo hoje ao governo e especialmente ao ministro (e senador licenciado) Camilo Santana, entra como mais um elemento importante para Pessoa. Como dificultador dos planos do parlamentar petista, claro.
De outra parte, as ações estratégicas de Roberto Pessoa criam certos constrangimentos, numa perspectiva político-eleitoral, para seu secretário da Saúde, Capitão Wagner, reeleito na semana para mais quatro anos como presidente da executiva estadual do próprio União Brasil. A questão é que o discurso principal do importante assessor, que disputou o governo do Ceará em 2022, segue sendo de oposição clara, linha que o prefeito de Maracanaú, naturalmente interessado em priorizar sua estratégia de reeleição para o ano que vem, já não banca hoje com tanta clareza. É uma situação que pode dar choque em algum momento.
Já parece uma anomalia política o fato de o deputado federal André Fernandes (PL-CE) ser autor do requerimento que pede uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Sugestão, talvez, de que tudo aquilo que aconteceu tinha por trás uma estratégia que seria do próprio governo Lula, apesar de todas as provas e evidências de que o fator mobilizador da bagunça política foi a resistência de Jair Bolsonaro, de quem o parlamentar é fã e seguidor, em aceitar democraticamente sua derrota. A ideia mais recente de fazer do cearense o presidente da CPMI, porém, já cheira a provocação barata.
Nunca parece demais lembrar que André Fernandes é, hoje, investigado em inquérito, autorizado pelo Supremo Tribunal Federal, como um dos envolvidos na instabilidade política que ele ajudou a criar pela opção de usar sua força nas redes sociais para alimentar o clima de insurreição que tinha o objetivo assumido de derrubar o governo Lula. Talvez seja, dos 513 deputados e 81 senadores hoje com assento no Congresso Nacional, o menos indicado para presidir um grupo de investigação que busque responsáveis e responsabilidades por aquele trágico dia da nossa democracia.
O deputado federal Yuri do Paredão (PL) sacode a poeira dos dramas pessoais, em especial a trágica morte recente da irmã Yanny Brena, que era vereadora e comandava a Câmara Municipal, e faz planos para 2024. O primeiro passo foi a posse recente como presidente da executiva do PL de Juazeiro do Norte, inclusive com objetivo claro de disputar a prefeitura, numa linha de oposição ao atual ocupante do cargo, Glêdson Bezerra (Podemos), de quem já foi aliado lá atrás. A favor dele, o fato de ser atualmente o único representante do município na Câmara dos Deputados, situação inédita para uma região que sempre teve presença forte em Brasília.
O deputado estadual Oscar Rodrigues (União Brasil) defende projeto de lei de sua autoria que torna obrigatória a prática de conversação em inglês nas aulas de línguas estrangeiras das escolas cearenses de ensino fundamental e médio. A proposta já tramita na Assembleia e, segundo argumenta o parlamentar que a propõe, ligado à área educacional privada, "o mercado hoje exige fluência na conversação e não apenas o conhecimento da gramática para escrita e leitura". Para descontrair, e concluir, há quem considere que o fato de ser um representante de Sobral dá muito mais sentido à iniciativa.
A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.