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Afinal, por que chorou André Fernandes?
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Afinal, por que chorou André Fernandes?

Não entenda-se como mera coincidência que os sinais inéditos de medo do parlamentar cearense apareçam na exata hora em que uma ex-companheira sua de luta e entusiasmo na defesa do bolsonarismo e de todas as ideias que isso representa, a também deputada federal Carla Zambelli, do PL-SP, caminha para a cassação com chances bastante reduzidas de ainda conseguir salvar o mandato
Tipo Opinião
As contradições do comportamento humano (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos As contradições do comportamento humano

É possível que as lágrimas tenham insistido em descer pelo rosto do deputado federal cearense André Fernandes, do PL, na última quinta-feira, contra a vontade do próprio. A ideia de fragilidade não casa muito com a trajetória do parlamentar, um jovem que todo o tempo procura mostrar-se forte, pronto para briga, firme diante de qualquer intempérie. Na relação com a imprensa e os jornalistas, por exemplo, prioriza de maneira absoluta o confronto, como mais um gesto que entende de valentia de sua parte. Nada nele combina com choro.

 O que mudou, então? A verdade é que, como se diria no popular, a ficha lhe começa a cair. Não entenda-se como mera coincidência que os sinais inéditos de medo do parlamentar cearense apareçam na exata hora em que uma ex-companheira sua de luta e entusiasmo na defesa do bolsonarismo e de todas as ideias que isso representa, a também deputada federal Carla Zambelli, do PL-SP, caminha para a cassação com chances bastante reduzidas de ainda conseguir salvar o mandato. O destino dela parece meio traçado na Câmara, onde, na verdade, sua presença nunca foi capaz de gerar conforto.

O que parece é que a realidade bate à porta de André Fernandes e anda assustando-o. Aquela cena de Zambelli abandonada na Câmara, cercada por desconhecidos gatos pingados num ato convocado na quinta-feira a pretexto de demonstrar-lhe apoio, deve ter chocado quem viveu ao seu lado os tempos áureos dela, como uma das mais ativas e fieis bolsonaristas. Alguém que aceitava ser submetida a humilhações em nome da fé no admirado líder que a guiava, e talvez ainda guie, na atividade política. Chegava a ser grosseira, em várias situações, a forma como Jair Bolsonaro tratava publicamente a aliada.

Tardiamente, é possível, o deputado cearense está percebendo o erro de sua aposta permanente no caos, na insistência em se abraçar às teses antidemocráticas que o mobilizaram durante o período eleitoral de 2022 e mesmo na confusa fase pós-urnas. Um erro ainda mais inexplicável diante de um contexto em que optava por tentar viabilizar uma ideia de desmoralização de um sistema que lhe havia consagrado com uma extraordinária votação. Toda ela registrada nas mesmas maquininhas que se insistia em questionar a segurança como fieis depositárias da intenção do eleitor. Ou seja, o caminho pelo qual optou sequer inteligente é.

Claro que haverá quem enxergue a coisa por outro prisma, ouvi isso de um eleitor dele, como demonstração de desprendimento pessoal, devoção a uma causa, crença firme no que defendia etc. Assim sendo, não apareça agora em gestos de fraqueza, chorando, falando de impotência etc porque era imaginável que haveria consequências e o mínimo que se esperava é que estivesse preparado para enfrentá-las.

A única hipótese de não haver uma resposta firme e forte das instituições de Estado seria uma prevalência da força (no seu sentido exato) e a implantação de um governo à margem da democracia, mas, considerado o cerne da luta de André Fernandes, acho que isso não passou pela cabeça dele e de quem estava ao seu lado. Ou acima. Para este último trecho recomendo ao leitor que acione o modo ironia.

O fato e a leitura

Apontou-se aqui, semana passada, a animação que cerca o processo pré-2024 em Juazeiro do Norte, segundo maior colégio eleitoral do Ceará. Pois o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) gerou fato político importante ao se encontrar, na quinta-feira, com o senador e presidente estadual do PDT, Cid Ferreira Gomes. Saiu de lá tratando-o de "meu líder político", ou seja, o cenário pode ficar ainda mais enroscado do que já está. A essa altura é impossível saber se uma conversa com Cid aproxima ou distancia o envolvido do grupo do ministro Camilo Santana.

De secretário a capitão

Uma das ideias do Capitão Wagner com sua surpreendente ida para assumir a secretaria de Saúde de Maracanaú seria descolar um pouco sua imagem da segurança pública e criar uma trajetória para ele como gestor. Até agora não conseguiu muita coisa, mas, atiçando a memória geral, na semana, correu a atacar direitos humanos e imprensa por alegado silêncio ou omissão quanto à agressão ao PM de São Paulo assassinado por criminosos. Sobre a operação de resposta que até a última contagem deixara 14 mortos numa comunidade paulista, "parabenizou" o governador.

O peso das influências

Janaina Farias repete, em Brasília, o nível alto de influência que já tinha no Palácio da Abolição como assessora mais próxima de Camilo Santana. Antes do governador, hoje do ministro. Houvesse levado adiante o projeto de ser candidata à Câmara Federal nas eleições de 2022 é muito possível que estivesse integrando hoje a bancada cearense. Filiada ao PT, está nos planos dela disputar ano que vem a prefeitura de Crateús, base política da família, e já teria recebido estímulos nesse sentido do próprio presidente Lula. Porém, há dificuldades de âmbito mais local a serem resolvidas antes.

À espera de 2024

Enquanto seu nome se vê citado com frequência cada vez maior por aliados do PT como opção eleitoral para 2024, o deputado estadual Evandro Leitão (PDT), presidente da Assembleia Legislativa, segue bloqueando a agenda pública de vez em quando para compromissos particulares em São Paulo. Dentre eles, conversas com uma fonoaudióloga, na perspectiva de melhorar a comunicação. Mais adiante a gente vê se isso tem a ver com a disputa pela Prefeitura de Fortaleza. Já a próxima, no caso.

O novo muro tucano

Presidente nacional do PSDB, o governador gaúcho Eduardo Leite, comandou reuniões em Brasília para reafirmar: "Somos oposição ao governo Lula". Seu esforço é de reagrupar forças e se afirmar como opção aos extremos que considera estarem representados pelo lulismo e o bolsonarismo. A turma do Ceará fecha com a ideia, mas, por exemplo, não dispõe de qualquer posição na Câmara ou Senado, restando o respeito histórico por Tasso Jereissati, sempre consultado por Leite.

De olho nas causas

Caravana do Tribunal de Contas do Ceará (TCE) foi a Brasília para formalizar, no MEC, uma iniciativa que os gestores bem intencionados deveriam comemorar. A partir de um Acordo de Cooperação com a Uece, apoiado agora pela Capes, haverá já para fevereiro de 2024, oferta de 5 turmas de 36 alunos cada para cursos de Auditoria e Controle Interno; Controladoria Pública; Contabilidade Pública; Gestão Pública; e Gestão Municipal. Um passo para resolver a saída histórica de explicar problemas nas contas públicas sempre como resultado da falta de quadros técnicos nas prefeituras.

 

Foto do Guálter George

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