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Luizianne mira Camilo e comete um erro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Luizianne mira Camilo e comete um erro

No público isso ainda aparece de maneira meio cifrada, não percebe-se tão claramente, mas no particular a irritação de Luizanne Lins com a situação tem alvo definido, com nome, filiação partidária e cargo público. Chama-se Camilo Santana
Tipo Opinião
2409gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2409gualter

Agora é oficial: Luizianne Lins pintou-se para guerra. Uma parte dessa decisão parece fazer sentido, considerando ainda ser a principal liderança do PT em Fortaleza e, por isso, precisar reagir à aparente tentativa de ignorá-la, ou "atropelá-la", na discussão que se faz desde agora sobre a disputa do próximo ano. Por outro lado, alguém precisa lhe indicar que sua força já não é a mesma de antes e analisar alternativas de nomes anda longe de representar qualquer heresia de quem vier a fazê-lo.

A expressão de Luizianne no âmbito da política fortalezense é indiscutível e aparece nos números eleitorais, colocando-a sempre entre as maiores votações nas disputas proporcionais das quais participa. No ano passado, candidata à Câmara Federal, reelegeu-se com 177 mil votos, dos quais 119 mil obtidos junto ao eleitor da capital. Inegavelmente uma boa performance e resultado do fato de haver uma parcela da população que guarda boas lembranças de suas gestões, tem carinho por ela etc. Na matemática prática, porém, não parece que formem um contingente suficiente para lhe garantir competitividade real na perspectiva de uma disputa majoritária. Observada de maneira isolada, sem considerar uma ideia de grupo que se estenda além do PT, por exemplo.

Há números que mostram isso de maneira cristalina. Luizianne, que foi prefeita entre 2005 e 2012, representou o PT nas eleições de 2016 e 2020 em Fortaleza, registrando, respectivamente, 15% e 17% dos votos. Nas duas situações se valeu basicamente da capacidade própria de gerar mobilização em torno da campanha, porque uma parte do próprio PT, àquele momento, tinha outros planos. Mais claramente falando, a preferência era por manter o entendimento com os aliados do PDT e à época fortalecer o palanque dos seus candidatos já no primeiro turno. Respectivamente, Roberto Cláudio e José Sarto.

O cenário de agora é outro, apoiar uma candidatura pedetista - a preço de hoje a reeleição de Sarto - não consta entre as hipóteses à mesa, mas, sim, trabalha-se com outros nomes que não o de Luizianne. A engenharia política sob desenho complica a ideia quando insere na lista um elemento que sequer filiado é, caso do deputado estadual Evandro Leitão, em processo de saída do PDT, o que significa algo que foge ao que parece normal no ambiente petista. Nesse sentido tem razão a deputada, ex-prefeita e que já se lançou pré-candidata para 2024, ao fazer uso da desgastada imagem da "barriga de aluguel" para advertir que o PT não costuma ser o melhor caminho para esse tipo de estratégia.

Luizianne tem dado sinais frequentes de que não pretende facilitar o caminho de Evandro Leitão, caso ele opte mesmo pelo PT. Para isso, demonstra-se disposta a criar os constrangimentos internos necessários, como deu-se na espécie de cobrança pública ao governador Elmano de Freitas, lembrando de sua importância nos primeiros passos da caminhada que o levaria anos depois à cadeira na qual está sentado no Palácio da Abolição. Claro que isso gerou mal estar e a obrigou a esclarecer melhor o que quis dizer, iniciativa, diga-se, inócua.

No público isso ainda aparece de maneira meio cifrada, não percebe-se tão claramente, mas no particular a irritação de Luizanne Lins com a situação tem alvo definido, com nome, filiação partidária e cargo público. Chama-se Camilo Santana, é do PT e atualmente está ministro da Educação, por ela identificado como articulador principal do projeto Evandro Leitão 2024. Considerado o momento, não parece a melhor escolha quando se decide chamar alguém para briga.

Uma agenda ameaçada

Subiu no telhado a vinda do presidente Lula ao Ceará, anunciada ainda para setembro, mesmo que ela siga oficialmente prevista. O motivo da volta seria (ou será) a oficialização da instalação em Fortaleza de uma unidade do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). O petista se submeterá a uma delicada cirurgia nos quadris, nos próximos dias, e a perspectiva é que, depois dela, precise se afastar por mais de um mês das atividades públicas. Os médicos têm sugerido um enxugamento drástico na agenda dele e, inclusive, determinaram a antecipação de sua volta dos Estados Unidos, onde esteve para abrir a assembleia geral da ONU. A vinda a Fortaleza antes da operação, neste momento, está sob avaliação.

O nome de Bolsonaro

Entre um susto e outro com o que se torna público da delação do seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, Jair Bolsonaro abre espaço na agenda para contatos político-eleitorais olhando para 2024. Na semana, teve uma longa conversa em Brasília com o deputado federal cearense André Fernandes, do PL, que se consolida como alternativa principal de candidatura do grupo à Prefeitura de Fortaleza. A hipótese de aliança com o Capitão Wagner, do União Brasil, a cada dia com mais clareza vai sendo empurrada para uma perspectiva, se houver, de segundo turno.

Os dois lados de uma faca

Um dos destaques do encontro realizado pelo Lide Ceará na semana, com a presença do presidente do BNB, Paulo Câmara, foi o empresário Beto Studart. Na sua fala, buscou afastar-se do ambiente político, anunciando distância do que seja direita, esquerda ou que valha, e dizendo buscar apenas o melhor para o País e o Estado, ideologias à parte. Um maldoso que o ouvia falar (sempre há) emendou: "Agora é esperar uma versão daquela peixeira atualizada com o nome do Lula". Referência à faca personalizada com a qual Beto homenageou o então presidente Bolsonaro, orgulhosamente apresentada em suas redes sociais.

Mais fake do que news

O prefeito Ivo Gomes (PDT) e suas vozes mais próximas ocupam-se nos últimos dias de desfazer uma onda criada por notícia que circulou em Sobral e eles tratam como "fake news". Ivo, pela história criada, estaria prestes a pedir afastamento de 90 dias do cargo para tratar da saúde - está saindo de um tratamento contra câncer -, abrindo espaço para a vereadora Socorrinha Brasileiro (PDT), presidente da Câmara, já que a vice Cristiane Coelho (PT) não assumiria para evitar inelegibilidade. Pode-se começar a desfazer a versão pelo fim, considerando que não há lei que impeça agora a substituta natural do prefeito de substituí-lo. Mesmo que pretenda ser candidata em 2024.

O direito e a política

O petista Ilário Marques, que foi deputado estadual por apenas um mandato, teve sua aposentadoria aprovada pela Assembleia Legislativa, que até já publicou a medida em seu Diário Oficial. Também ex-prefeito de Quixadá, quatro vezes, ele passará a constar na folha de inativos do parlamento estadual com direito a contra-cheque mensal de R$ 18.412,97. Nenhuma ilegalidade, diga-se, inclusive porque estão preenchidos os requisitos da idade superior a 60 anos e contribuição por 20 anos com a previdência parlamentar, mas parece sempre uma informação que desgasta quem a protagoniza.

É preciso conter os furos

Coisa meio de "advogado do diabo", por favor, não confundir com "advogado de Bolsonaro". Já começa a incomodar o volume de vazamentos na delação premiada que o ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, ainda negocia com as autoridades. O presidente Lula, que sofreu tanto com a situação à época em que era investigado pela Lava Jato e as denúncias feitas contra ele em depoimentos chegavam ao público quase que em tempo real, obriga-se a exigir da Polícia Federal sob seu comando que apure internamente o que está acontecendo. O fato de incomodar um adversário dele, e incomoda muito, não pode fazê-lo simpático à situação. Em tempo: os jornalistas que divulgam aquilo que chega às mãos, de fontes confiáveis, cumprem apenas o papel que lhes cabe.

 

Foto do Guálter George

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