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Quem matou Cleriston Pereira da Cunha?
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Quem matou Cleriston Pereira da Cunha?

Há uma falsa polêmica animando as pessoas que se movimentaram de maneira barulhenta nas redes sociais nos últimos dias e que ontem se mobilizaram nas ruas em gestos de solidariedade ao "patriota" vítima do infortúnio
Tipo Opinião

Somente muita desonestidade, moral, cidadã ou política, pode levar alguém responsável a tentar conduzir a sociedade à compreensão de que a morte de Cleriston Pereira da Cunha, preso por envolvimento com os atos violentos de 8 de janeiro, em Brasília, deva ser atribuída ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O juiz responsável pelo processo que, é preciso dizer, baseia-se nas suas decisões finais em uma ampla investigação conduzida por policiais e procuradores.

É desonestidade por um conjunto extenso de razões. Fáticos alguns, como é o registro de que quem poderia realmente ter relaxado a prisão, diante de argumentos médicos apresentados pela defesa do preso que acabaria morrendo, foi outro ministro, André Mendonça, e não Alexandre de Moraes; ou subjetivos, considerando-se que a condição de réu de Cleriston se deve à sua participação comprovada nos ataques à democracia daquele dia de janeiro, que tinham como objetivo claro derrubar um governo constituído, eleito através das urnas.

Há uma falsa polêmica animando as pessoas que se movimentaram de maneira barulhenta nas redes sociais nos últimos dias e que ontem se mobilizaram nas ruas em gestos de solidariedade ao "patriota" vítima do infortúnio. Uma busca mais consequente de culpados reais talvez devesse priorizar a identificação de quem, na origem, estimulou a vítima, que agora se descobre que era doente, a participar de agitações políticas que sempre se soube que apresentavam alto risco de terminar em violência ou, como aconteceu no caso dele, em repressão e prisão. Sabe-se hoje que o Cleriston não dispunha de saúde, desde sempre, para as aventuras nas quais acabou irresponsavelmente envolvido.

Claro que o evento precisa ser apurado, deve-se buscar os sinais, se existentes, de que houve negligência ou omissão de agentes públicos no caso concreto que levaria à perda de uma vida que estava sob responsabilidade do Estado, mas, num olhar de início que se pretenda racional, o nome de Alexandre de Moraes não deveria aparecer entre os mais prováveis.

E por que aparece? Por desonestidade, volto ao termo. Particularmente, considero que há erros e exageros na postura do ministro do STF, que, concordo, deveria se preservar mais e desconcentrar seu poder. Há muitas situações do processo ainda em curso nas quais o mais conveniente seria chamar o plenário para uma manifestação colegiada e a opção dele foi, ao contrário, por decidir monocraticamente. No entanto, Clériston Pereira da Cunha, o mártir dos patriotas à moda Bolsonaro, teve o seu caso médico analisado por André Mendonça, repetirei, que não encontrou razões, com laudo em mão e tudo, para atender o pedido de relaxamento da prisão.

Quem ocupa postos de liderança e ajuda a alimentar o clima de ataques ao ministro e ao STF, inclusive gente sentada em mandatos populares, deveria refletir melhor. Não precisa mudar de gosto e passar a admirar Alexandre de Moraes, ou deixar de odiá-lo, optando pelo uso do verbo mais adequado, é simplesmente começar a demonstrar mais compromisso com a democracia. É disso que estamos falando.

 * Tëxto atualizado

Foto do Guálter George

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