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Injusto e agressivo, o ataque à Jade só não foi misógino
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Injusto e agressivo, o ataque à Jade só não foi misógino

Jade Romero faz parte das raras exceções de mulheres protagonistas na política, o que pode até justificar que em determinados casos a condição de gênero lhe ofereça alguma atenção especial. Porém, isso não a faz intocável e nem acho que ela busque tal privilégio
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 04-10-2023: Vice Governadora Jade Romero e Secretária Mariana Maia em abertura da campanha do Outubro Rosa. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 04-10-2023: Vice Governadora Jade Romero e Secretária Mariana Maia em abertura da campanha do Outubro Rosa. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

As críticas de vereadores aliados ao prefeito José Sarto  (PDT) à vice-governadora Jade Romero (MDB) foram agressivas além da conta? Sim, acho que foram, ao buscarem sustentar uma linha de desqualificação dela que não parece fazer muito sentido no aspecto em que lhe tenta, de maneira injusta, tirar a capacidade de ter opinião própria. Agora, dá para impor nelas a marca da misoginia? Minha resposta, sem muita dúvida: "não".

É fato que há poucas mulheres presentes ao debate político, especialmente se considerados os postos públicos de maior relevância. Jade Romero faz parte das raras exceções, como atual vice-governadora do Ceará, o que pode até justificar que em determinados casos a condição de gênero lhe ofereça alguma atenção especial. Porém, isso não a faz intocável e nem acho que a própria Jade busque tal privilégio.

Estivesse um homem na cadeira onde a jovem emedebista está sentada, na posição que ocupa, os vereadores pedetistas Lúcio Bruno e Adail Júnior o chamariam de "garganta de aluguel" ou "menino de recado" diante do mesmo cenário polarizado e difícil que há hoje na política estadual. Tenho certeza absoluta disso.

O próprio governador Elmano de Freitas enfrenta, há tempos, uma pecha que se tentou emplacar nele "de poste", ou seja, alguém sem capacidade de pensar por si, como resultado de uma situação criada na campanha eleitoral de 2014, quando tentou a prefeitura de Fortaleza. A ironia é que uma mulher, a então prefeita (no momento deputada federal) Luizianne Lins, era apontada como a responsável pelo controle das ações dele, sem que, até hoje (e de maneira justificada) a questão de gênero tenha sido inserida no debate.

Os ataques do passado a Elmano ou as agressões do presente à Jade representam componentes naturais do debate que envolve a briga permanente pelo poder na política. É notório que a mulher enfrenta mais dificuldades do que o homem na disputa de espaços e, sim, que precisa de um política de incentivo à sua participação na vida pública, cotas e coisa que valha.

Agora, este episódio do momento envolve situações, certas ou erradas, que, acho, passam ao largo do debate de gênero que o País precisa mesmo fazer. Apenas cobro que o ponto de partida efetivamente justifique isso, o que não me parece ser o caso.

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