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Entre erros e acertos, a campanha segue
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Entre erros e acertos, a campanha segue

O momento é bom para, considerando as movimentações do último mês, fazer um balanço na perspectiva de conjecturar as chances de cada um
Tipo Opinião
2209gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2209gualter

Estamos a exatos dois domingos do dia em que o eleitor definirá, com seu voto, a disputa pelo comando político de Fortaleza. Escolhendo logo o prefeito, caso um dos candidatos já consiga os 50% mais 1 necessários a uma maioria absoluta que garante vitória em primeiro turno, ou, opção dois, definindo quais devem seguir em campanha para a etapa seguinte, prevista para 27 de outubro. O momento é bom para, considerando as movimentações do último mês, fazer um balanço na perspectiva de conjecturar as chances de cada um.

Diga-se, de início, que a coisa parece bem embolada, o que torna exercício puro de futurologia tentar cravar o cenário que se imagina que sairá das urnas na noite de 6 de outubro próximo. Parece temerário, pelo histórico, até mesmo cravar que um segundo turno é inevitável, porque 2022 nos mostrou, com a vitória de Elmano de Freitas já na primeira rodada, que as pesquisas orientam com bom nível de precisão quanto às tendências dos eleitores, mas não servem como antecipação dos resultados. Portanto, é prudente deixar algumas dúvidas para serem dirimidas apenas pelo voto colocado na urna.

Agora, olhando para o que aconteceu ao longo do primeiro mês de campanha em Fortaleza, é possível fazer algumas análises na perspectiva de projetar o que nos espera nos próximos, e decisivos, 15 dias. Como surpresa maior, até agora, destaca-se o comportamento de André Fernandes (PL), estratégico, civilizado, propositivo (sem entrar no mérito da qualidade do que propõe), enfim, tudo aquilo que não se esperava que apresentasse como candidato. A expectativa que havia (a minha, inclusive) era de que teríamos um palanque na campanha exalando bolsonarismo e isso não está acontecendo, muito embora a ligação com Jair Bolsonaro esteja reafirmada sempre que necessário.

A fase agora testará de verdade a personalidade que André Fernandes trouxe para a campanha porque os adversários passaram a vê-lo como ameaça real e estão agora resgatando seu passado de muitas estripulias, pessoais e políticas. Uma boa parte delas com registros em vídeos que fizeram sucesso nas redes sociais, aliás, material determinante para o começo da trajetória vitoriosa do jovem político. Passagens que parecem envergonhar até o próprio, como demonstra o surrado argumento que apresenta com respostas do tipo "era coisa de adolescente". O mais agressivo na onda de ataques contra o candidato do PL é seu ex-aliado, Capitão Wagner, do União Brasil.

É possível que Wagner tenha acordado um pouco tarde para algo que desde o início parecia claro: a maior ameaça ao seu favoritismo inicial como candidato à conquista de uma das vagas em segundo turno vinha do PL e tinha o nome de André Fernandes. Estivesse isso calculado com maior frieza evitaria, como acontece nesse momento, o sentimento de que há um certo desespero nos ataques ao adversário de agora que antes esteve ao seu lado nos palanques. Praticamente nada do que tem sido trazido à tona pela campanha do União Brasil terá acontecido depois do distanciamento entre os dois, ou seja, eram defeitos, se entendidos assim, que o ex-aliado já tinha quando era um aliado e festejado como tal. Será sempre difícil acomodar estratégia nova dentro de um cenário de pressão, como acontece no caso, mas a dosagem precisa de um ajuste para não ir além do que a situação recomenda.

Também parece relacionado a uma opção estratégica discutível o momento delicado da campanha à reeleição do prefeito José Sarto (PDT). O "estilo Juliet" que marcou os passos iniciais deveria ter sido logo substituído por algo mais substancial, inclusive considerando o certo consenso que havia, mesmo fora da aliança, de que a gestão que ele busca continuar tem feitos a apresentar. Perdeu-se algum tempo com gracinhas nas quais a forma buscava prevalecer sobre o conteúdo, espaço que os adversários parece ter aproveitado para discussões mais sérias, às vezes mal humoradas, acerca de temas igualmente sérios e, com isso, atraíram a atenção do eleitor. Dentre eles, numa perspectiva de disputa direta pelo chamado voto progressista, o representante do PT, Evandro Leitão.

O maior mérito da estratégia petista em Fortaleza, até agora, está na falta de pudor em explorar os padrinhos políticos do candidato. Nominando-os: Camilo Santana e Luiz Inácio da Silva, cuidadosamente coadjuvados por Elmano de Freitas. Os méritos pessoais de Evandro Leitão, que é quem estará na urna, aparecem num plano complementar, inclusive pela necessidade que há de apresentá-lo a boa parte do eleitorado, considerando sua trajetória política até agora toda voltada para disputas proporcionais, onde se define um nicho e não há necessidade de ganhar o conjunto das pessoas para alcançar a vitória. As diferenças de comportamentos, de estilos e de talentos pessoais são flagrantes, mas Evandro Leitão pode ser comparado a André Fernandes na sua boa acomodação ao figurino que lhe foi destinado e entrou pra valer na briga dos quatro grandes blocos. Aliás, talvez seja Evandro, considerado o momento, quem tem razões mais claras para olhar para frente com mais otimismo.

O desembarque de Camilo

O entorno político de Camilo Santana não sabe se ele dará conta da quantidade de pedidos que há na mesa para que o líder ajude às campanhas eleitorais no Ceará. Oficialmente livre a partir de amanhã dos compromissos como ministro da Educação, graças a período de "férias" concedidas pelo presidente Lula, ele precisará ver o que consegue atender a partir de uma realidade inicial: Fortaleza e o Crajubar (Crato, Juazeiro, Barbalha) são as prioridades e ele se envolverá ao máximo que puder em atividades ligadas a ambos os casos. Em função disso, inclusive, detecta-se movimentos recentes mais agressivos dos adversários que buscam atingi-lo meio que confirmando, segundo conclusão a que se chegou, de que sua presença mais efetiva terá força para decidir algumas disputas municipais em curso. Não parece ser a pausa no trabalho com a qual se costuma sonhar, até porque, estão todos avisados, descanso não haverá.

O desembarque de Cid

Apesar das muitas críticas e do grande esforço para desacreditar pesquisa recente divulgada em Sobral que dá boa vantagem em favor do adversário Oscar Rodrigues (União Brasil), a articulação e militância da campanha de Izolda Cela (PSB) admitem que o quadro está mais difícil do que se imaginava inicialmente. A confiança na vitória segue firme, mas o esforço exigido supera aquele inicialmente esperado, inclusive da parte do senador Cid Gomes, que parece ter decidido, a partir de hoje, entrar de cabeça na briga para manter uma trajetória de controle do poder iniciada por ele próprio, em 1996. O irmão, Ivo, igualmente teria decidido participar mais ativamente das ações de campanha a partir deste domingo. A outra questão determinante é que uma derrota, acontecendo, impactaria nos planos do grupo político para 2026, já que, sim, algo do que acontece agora tem a ver já com a próxima temporada eleitoral.

Problema federalizado

Ainda sobre Sobral, caiu bem nos dois lados envolvidos na briga pelo poder local a inclusão do município, distante 230 km de Fortaleza, entre aqueles que receberão reforço na segurança, esperando-se, inclusive, que isso aconteça já a partir de amanhã, dia 23. O quadro é tenso desde o começo, há muitas evidências de que o crime organizado tenta interferir no processo, mas o ápice da violência deu-se, mesmo, com a agressão ao ex-prefeito Veveu Arruda e ao irmão dele, Inácio Carvalho, uma liderança antiga do PCdoB cearense, quando ambos participavam de um ato da campanha de Izolda Cela (mulher de Veveu) em defesa da educação. São comuns, inacreditavelmente, os registros de caminhadas e outros eventos políticos interrompidos porque participantes acabaram atingidos por fogos direcionados contra eles. Entenderam? Não é que foram disparados para cima e caíram sobre as pessoas, na verdade, as tinham como alvos diretos. É esperar que as tropas federais acalmem os espíritos.

Salários, CNJ e eleição

O ambiente eleitoral que começa a ganhar corpo no Tribunal de Justiça, diante da eleição do novo presidente já confirmada para o próximo dia 10 de outubro, pode ser oportuno para colocar em debate, no nível que isso é possível dentro de um disputa de características tão próprias e mais de ordem interna, um tema que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) acaba de recolocar em pauta: o excesso de penduricalhos encontrados no contracheque de magistrados para ignorar o teto sem descumprir leis criadas para estabelecer limites onde eles são necessários. Não por causa de uma situação cearense, diga-se, mas o CNJ deu 30 dias, a contar de agora, para que cada TJ apresente sua lista de salários acima do teto, detalhando a razão de cada pagamento. Assumir um compromisso com o combate à distorção pode ser uma primeira ação interessante de quem pensa em comandar o nosso Judiciário a partir de janeiro de 2025. Não sei é se, no caso, dá voto.

Liberdade, Milei!

O presidente da Argentina, Javier Milei, outro dia saiu em defesa do X (ex-twitter) e do amigo Elon Musk na briga com o Judiciário brasileiro que levou à suspensão, até hoje mantida, da autorização à plataforma para que atue no País, entre outras coisas porque não dispõe de representação em território nacional como forma ardilosa de se manter fora do alcance de nossas leis. Milei alegou o de sempre, que a liberdade de expressão é um valor absoluto blá blá blá. Pois enquanto ele se metia onde não era chamado, uma correligionária sua do partido Libertad Avanza, a deputada Lilia Lemoine, recorria à justiça de lá para calar jornalistas que estavam expondo conversas suas via whatsapp bastante calientes. Ela pediu que o jornalista fosse censurado e, pior, conseguiu. É o caso de perguntar, então: e a "liberdade, carajo?" Lembro aos mais puros e desavisados que "liberdad carajo", que não precisa tradução, é o mote, até hoje, do mandatário argentino.

 

Foto do Guálter George

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