
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A campanha eleitoral de 2024 entra em sua reta conclusiva deixando como triste marca principal um quadro de violência nunca antes visto. Há um conjunto de características novas e que, no limite, demarcam um momento importante e definidor para democracia brasileira, o que exige das instâncias legais e da própria sociedade disposição para fazer frente aos desafios que, repita-se, não são poucos e nem simplórios. Pelo contrário.
Um fato inédito importante é que a falta de modos na disputa pelo voto do eleitor chegou ao ambiente em que pisam os próprios candidatos, espaço normalmente preservado das baixarias de efeito físico mais grosseiro. O exemplo de maior eloquência veio da principal cidade do País, São Paulo, também uma das mais importantes do mundo, com a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) contra Pablo Marçal (PRTB) em debate que era transmitido pela TV Cultura, ou seja, tudo aconteceu aos olhos do público. A mesma campanha que, dias depois, registraria, aqui já em cenas de bastidores devidamente documentadas, uma agressão violenta de um assessor de candidato (o Marçal em questão) contra o marqueteiro de outro (Ricardo Nunes, atual prefeito e que tenta reeleição).
Em nome da verdade, diga-se que sempre houve eventos episódicos e pontuais de violência registrados nas campanhas, especialmente nas inflamadas disputas pelo poder local, nas prefeituras municipais e Câmaras de Vereadores. Nunca foram contendas marcadas pela civilidade e a fineza, mesmo que, em geral, as cenas mais grotescas eram preservadas dos olhos do público. O bom exemplo que era aparente, nestes dias atuais nem como aparência existe
Acontece que há componentes contemporâneos que exigem uma análise ainda mais profunda do problema, inclusive pelo que transcendem do aspecto eleitoral, em si. É o caso flagrante de uma inédita ação do crime organizado para exercer influência sobre as campanhas. Aponta-se candidaturas de alguma forma vinculadas a organizações ligadas a atividades ilícitas e as autoridades eleitorais estão obrigadas a identificá-las para tornar possível uma punição que neutralize o problema por este ponto. Talvez seja, até, o aspecto mais fácil de ser combatido.
Grave, de verdade, é o que acontece em termos de plano das facções de controlar os espaços de campanha, determinando onde os candidatos podem fazer suas atividades. Em situações, como é o caso de denúncia feita em Sobral, a 220 km de Fortaleza, cobrando (seria R$ 60 mil) para autorizar acesso a áreas determinadas da cidade e permitir o corpo-a-corpo junto ao eleitor. Não dá para aceitar que assim seja. Então, a ideia de violência nas eleições escala um estágio novo e, de certa forma, como apontado antes, define a nossa democracia para os próximos tempos. Caso se permita que o cenário desse ano venha a prevalecer o que há projetado pela frente não indica um quadro de fortalecimento, pelo contrário.
Fui buscar uma indicação mais efetiva do que acontece a partir, claro, de consultas rápidas e somente respondidas diante da garantia do anonimato, porque ninguém aceita se expor. Nem todo mundo fala de uma extorsão direta, mas os seis relatos colhidos, junto a candidatos que disputam cargos proporcionais em Fortaleza (4), Sobral (1) e Iguatu (1), indicam como difícil, para eles, realizar atos de campanhas em determinadas áreas mais afastadas do Centro e setores nobres sem sentir um "bafo" da criminalidade. Faz parte do medo coletivo, certamente, a sensação de insegurança que temos no cotidiano de nossas vidas e que, até então, se conseguia manter a alguma distância das atividades eleitorais.
Parece que a "blindagem" conveniente acabou, porque as organizações criminosas não nasceram agora, e o novo momento exige um bom debate depois que as urnas forem recolhidas aos depósitos da justiça eleitoral para decidirmos o que fazer no futuro. E é uma luta que não permite que fraquejemos.
https://www.youtube.com/watch?v=6GmG46sxLoA
Uma coisa é ser um franco-atirador, sem a necessidade de calcular palavras para se posicionar no debate político. Outra, sensivelmente diferente, passar a fazer parte do jogo pra valer e precisar medir o que diz pelo risco de perdas que um gesto mal calculado pode determinar. Ou seja, o comportamento de André Fernandes (PL) nos últimos dias, filtrando a agenda para priorizar apenas onde se sinta confortável, tem a ver com a necessidade de trabalhar, agora, contra a criação de qualquer fato novo até o final da campanha diante do momento favorável. Inclusive, e principalmente, por ele próprio. Só Deus sabe o quanto o impulsivo (ou ex-impulsivo?) candidato tem que se conter para manter disciplina nessas horas.
Está de volta com força aos bastidores da campanha de Fortaleza a circulação de peças no mundo das redes sociais que buscam trabalhar um aumento na rejeição do candidato Evandro Leitão (PT) pelo seu passado de dirigente esportivo. É a história do "quem é Leão não vota em Leitão", referência ao fato de o petista, lá atrás, ter sido presidente do Ceará Sporting Clube. Apesar dos esforços nesse sentido, a verdade é que a história não tem mostrado importância suficiente, até o momento, para tirar o sono de ninguém na campanha do Leitão. Menos ainda do próprio, que segue reagindo à história na base das gargalhadas.
Como esperado, Camilo Santana cumpre uma agenda frenética pelo Ceará no seu período de "férias" do Ministério da Educação, que se estende até a próxima sexta-feira, sem contar o sem número de vídeos gravados em apoio a candidatos. O problema, igualmente previsível, é dar conta da quantidade de pedidos para ele participar de algum evento (comício, caminhada, carreata) e, com a presença, fortalecer alguém que tenha interesse de ver eleito conforme seja o local. Fortaleza, Juazeiro do Norte, Caucaia, Sobral e Crateús são os focos prioritários, mas, por exemplo, o ministro foi até Iguatu, na quinta-feira, tentar impulsionar o neo correligionário Ilo Neto, que enfrenta um parada dura contra o tucano Roberto Filho. A essa altura, tem-se o resultado como imprevisível.
A saudade da ex-vereadora e lutadora social Rosa da Fonseca torna-se maior para quem a conheceu, e sabe o quanto seu espírito inquieto faria bem ao momento confuso, especialmente na cidade (Fortaleza) onde seu talento político se fez presente com tanta significação. Os amigos dela do Crítica Radical, à frente o guru Jorge Paiva, cuidam de manter tudo isso bastante vivo e, exatamente para aproveitar o clima eleitoral, preparam uma grande festa para o próximo dia 4 de outubro (sexta-feira) na inauguração do memorial Rosa, onde se pretende manter também o acervo de militantes como Célia Zanetti e Sandra Helena. A estrutura está sendo finalizada na sede da rua João Gentil, 59, na praça Rosa da Fonseca, e a programação para o dia festivo, que ainda está sendo fechada, terá shows, palestras, debates, manifestações e tudo mais que a homenageada gostaria que houvesse. E, claro, um dos motes principais é a "morte da política".
Uma coisa é ter uma campanha tensa, com troca de acusações e até agressões verbais, faz parte. Porém, aquele que tiver voz de comando na campanha do deputado estadual Oscar Rodrigues (União Brasil) na briga pela prefeitura de Sobral precisa orientar os aliados para observarem um limite ético que nunca pode ser ignorado, independente do nível das tensões. A deputada Lia Ferreira Gomes (PDT) foi alvo de uma série de impropérios dos mais baixos proferidos por um radialista local, ao microfone, pelo fato de ter denunciado ao Ministério Público uma ilegalidade que diz haver na aposentadoria do candidato oposicionista, lembrando que ela, claro, apoia Izolda Cela (PSB) para sucessão do irmão, Ivo.
A campanha chega à reta final com Ciro Gomes recuando algumas casas mais no tabuleiro da política nacional, escondido nas campanhas do PDT pelo País, inclusive na Fortaleza do aliado José Sarto, o que torna ainda mais pessimistas as perspectivas de futuro para sua trajetória na vida pública. Caso ele ainda tenha ambição nesse sentido, claro. A má performance de sua candidatura presidencial em 2022, quando amealhou apenas cerca de 3% dos votos, indicava a missão difícil que teria pela frente na recuperação de um protagonismo que já teve. Gente próxima a ele, e que diz lhe ter apreço, avalia que a falta de humildade para entender o que aconteceu dois anos atrás, somada à dificuldade do próprio em controlar o ódio que domina suas ações, torna o processo de recuperação de espaço uma tarefa ainda mais custosa.
É frustrante sim para a campanha de Evandro Leitão em Fortaleza e a para os principais líderes do PT no Ceará a confirmação, quase oficial, de que o presidente Lula não passará por aqui no primeiro turno da campanha. A corrida, agora, é para garantir que ele, se garantida a presença petista na próxima etapa, incluindo ainda o caso de Waldemir Catanho em Caucaia - para o qual também ainda há esperança -, o Estado entre na agenda do líder. Como de um limão parece sempre possível fazer uma limonada, a ausência passará a ser utilizada como um argumento de diálogo com os aliados nacionais de União Brasil e PDT, a depender do resultado do dia 6 de outubro, já em relação ao segundo turno.
Quatro anos atrás, o prefeito de Região Metropolitana que trabalhava para sair como um líder estadual com foco nas conversas eleitorais seguintes, falando-se até em intenção de candidatura majoritária, era Acilon Gonçalves (PL), do Eusébio. As ambições dele em 2024 são bem mais modestas, contentando-se em eleger o sucessor (Doutor Júnior), garantir novo mandato de prefeito para o filho Bruno Gonçalves em Aquiraz e conseguir uma vaga de vereadora em Fortaleza para a nora Carla Ibiapina. O ambicioso da vez é Roberto Pessoa (União Brasil) que se movimenta agora de olho em 2026, projetando uma reeleição consagradora em Maracanaú, ajudar na vitória de aliados em 20 municípios e quer o nome do neto Renê Pessoa (UB) incluído entre os mais votados na briga por vagas no legislativo fortalezense. O eleitor dirá no próximo domingo como participa dessa combinação, porque no caso do Acilon, em 2020, a coisa não funcionou dentro do previsto.
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