
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A segurança pública, ou a falta dela, estará no centro do debate sucessório cearense em 2026, não há como o governo evitar que assim seja. Resta-lhe, então, estar preparado para enfrentar um quadro desafiador e que não será revertido, em favor das ideias que defenda, apenas com a melhoria numérica de suas estatísticas. Por enquanto, a disputa de narrativas parece colocar a oposição em vantagem.
Há exagero e sensacionalismo dos oposicionistas na exploração do quadro de insegurança? É evidente, mas não parece eficiente cobrar deles que tenham ponderação no contexto de um debate político que, no limite, coloca em perspectiva a conquista do poder, objetivo que muitas vezes justica os meios que acabam sendo utilizados, inclusive os questionáveis. Os excessos cometidos demonstram-se claros e o sentido político que os move pode, sim, lhes servir de justificativa.
O problema é mais ético, termo que nem sempre cabe dentro de uma mesma frase em que a política esteja presente, considerando que há uma exploração do medo das pessoas para tirar dele proveito, eleitoral no caso, inclusive fazendo uso de situações falsas ou, no limite, falseáveis. A crise no setor, que (repita-se) é real, exige que todas as forças públicas, e não somente aquelas com responsabilidades governamentais, direcionem seus esforços ao encaminhamento de soluções.
Assim, o recomendável é que se evite, como tem acontecido de maneira predominante cá no Ceará, espetacularizar situações, ampliando mais aquilo que já em si é crítico, apenas para gerar desgastes em quem governa e mais adiante buscar colher os frutos através do voto popular. Um cenário que, no plano em que acontece, só interessa ao crime e às organizações a ele ligados, valendo destacar que não se deve cobrar de quem é oposição uma postura de silêncio ou omissão, ao contrário, o papel que lhe está destinado impõe que cobre, denuncie, questione etc.
O governo já deve ter percebido que os anúncios frequentes de mais investimentos, mais contratações, novos concursos, reestruturação das forças de segurança pública etc apresentam pouco efeito, quando há, sobre a sensação ruim que acompanha o cidadão e a cidadã no seu cotidiano. Prevalece nas ruas o juízo de que as coisas têm piorado, apesar de existirem números dizendo o contrário, ou seja, é preciso criar uma forma de comunicação com as pessoas tão funcional quanto a que tem sido praticada pelos opositores.
O comportamento governista mais recente até demonstra uma mudança de atitude, adotando-se uma postura, não existente até um tempo atrás, mais ativa e ágil na resposta aos ataques. As versões da turma do contra, algumas meio descompromissadas com os fatos e a realidade, criadas para potencializar um pânico pré-existente, já encontram um contraponto mais imediato.
Deu-se na semana com o envolvimento do nome da vice-governadora Jade Romero (MDB) num episódio de expulsão de uma família da região do Conjunto José Wálter e a produção de uma fartura de conteúdos nas redes sociais, por vários políticos, denunciando que as vítimas eram parentes dela, numa evidente tentativa de gerar uma imagem de desmoralização do poder estadual.
Jade veio a público imediatamente, esclareceu a situação, reagiu forte, abriu uma discussão e, pelo menos, ofereceu uma versão diferente ao debate, não deixando que a história tivesse apenas o ponto de vista do Capitão Wagner, Soldado Noélio e outros interessados em desgastar o governo. Não precisa de genialidade para se chegar à conclusão de que o debate do próximo ano exigirá do lado oficial, no mínimo, um ritmo próximo ao dos adversários nas defesas e nos ataques.
O que acontece agora talvez seja uma oportunidade de se testar, na perspectiva de quem governa, os antídotos que o desafio eleitoral de 2026 vai exigir.
"A turma do motim não cansa! Derrotados nas urnas, seguem fazendo da mentira uma prática diária e, agora, usam meu nome pra ganhar likes e repercussão"
Jade Romero (MDB), vice-governadora, reagindo nas redes sociais em tom duro ao envolvimento de sua família em denúncia da oposição de expulsão de uma família do Conjunto José Walter
Espera-se que os oito deputados cearenses que assinaram o pedido de urgência para o projeto que trata da anistia aos envolvidos com os atos de 8 de janeiro de 2023 como efeito da pressão direta dos interessados ou como resposta aos encantos das belas jovens escaladas para abordá-los em espaços estratégicos de Brasília, no aeroporto e no Congresso, por exemplo, olhem o tema com mais atenção quando o mérito da proposta for (se for) levada ao plenário. Sequer cogitar a possibilidade de passar a mão na cabeça de quem atentou contra a democracia, vinculando-se a um quadro de violência institucional objetiva que teve o Congresso entre os alvos mais fortemente atingidos é, de logo, demonstração de desapreço à própria casa onde hoje ocupa mandato, o que deveria ser levado em consideração no próximo ano pelo eleitor, à direita ou à esquerda.
Há gente levando a sério a história de que Ciro Gomes, com seu longo currículo de "ex" muita coisa e apesar de sua disposição anunciada de deixar a política eleitoral, virar uma opção de candidatura ao governo do Ceará pelo PDT. Quem dá voz a esse grupo é o deputado estadual Cláudio Pinho, que, ao lado de outros, tenta sensibilizar o líder pedetista a programar uma série de palestras nos principais municípios cearenses como forma de reativar mais fortemente a memória das populações locais para a perspectiva de uma volta ao cenário local de disputas. O entusiasmo do parlamentar cearense esbarra num problema básico e de difícil superação: Ciro não quer.
O anúncio de que o PSB realiza no próximo dia 27 sua convenção estadual, prevendo-se que na oportunidade eleja Eudoro Santana como presidente da executiva antecipa alguns movimentos importantes dentro da legenda. O mais importante deles é que assenta o posicionamento partidário futuro em relação ao cenário eleitoral cearense, garantindo sua presença no bloco a ser puxado pelo PT para reeleger Elmano de Freitas como governador. De alguma forma, isso contém os movimentos do senador Cid Gomes, nem sempre vinculáveis ao interesse da legenda à qual pertence. Dado importante: João Campos, prefeito de Recife e principal estrela nacional do PSB atualmente, já confirmou presença no evento.
Muita expectativa com a reunião do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de amanhã, dia 14, pela inclusão na pauta do julgamento do prefeito de Potiretama, Luan Pontes (PP), que está afastado do cargo desde o dia 3, data em que foi preso sob acusação de ter vínculo com uma facção criminosa. O TRE julgará uma ação contra ele por abuso de poder político e econômico durante as eleições de 2024, o que pode levar à sua cassação e, também, da vice-prefeita, Mari Campelo (PP). O Estado precisa reagir com firmeza, oferecidas todas as condições de defesa aos envolvidos, para limpar o quadro político de figuras vinculadas a organizações que funcionem baseadas no crime. Enquanto dispõe de força para fazê-lo.
É um movimento um tanto silencioso, mas o deputado federal cearense Moses Rodrigues (União Brasil) vai acumulando força e prestígio à medida em que o tempo da política avança. Agora mesmo, seu nome está citado em duas perspectivas como solução para um problema que seu partido enfrenta e que passa diretamente pelo ambiente da bancada na Câmara Federal. Moses é apontado como alternativa para substituir o líder Pedro Lucas Fernandes, caso ele vá para o ministério das Comunicações, e, ao mesmo tempo, tem o nome incluído na lista de opções caso a decisão do parlamentar maranhense seja por permanecer no Congresso. Traduzindo: é real a chance de o político sobralense acabar ministro, considerando que o presidente Lula incumbiu o partido de fazer a indicação e optou por relativizar o seu poder de veto. Resta entender como isso repercutiria em apoiadores como o senador Cid Gomes.
Problemas de agenda seguem dificultando os esforços de aproximação, de parte a parte, entre o governador Elmano de Freitas (PT) e o prefeito de Juazeiro do Norte, Gledson Bezerra (Podemos). Um novo encontro entre os dois deveria ter acontecido sexta-feira passada, no Palácio da Abolição, mas um alegado chamamento de última hora do petista a Brasília pelo presidente Lula determinou o cancelamento já com o prefeito em Fortaleza. Deu-se, na ocasião, um encontro com o secretário Nelson Martins, da Articulação Política, e pleitos urgentes da gestão foram encaminhados. De qualquer forma, Elmano e Gledson remarcaram o tête-à-tête para a próxima quarta-feira, porque é de interesse de ambos, aparentemente, que o debate entre eles flua melhor. É esperar que a dinâmica dos fatos ajude, dessa vez.
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