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Os novos domínios das facções no Ceará
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Os novos domínios das facções no Ceará

Além do controle territorial, atuação das facções avança para a prestação de serviço, política e mercado imobiliários, entre outros
COMPLEXO do Pecém ficou sem conexão depois de ataque de facção (Foto: Miguel Cordeiro da Silva/Tecer Terminais)
Foto: Miguel Cordeiro da Silva/Tecer Terminais COMPLEXO do Pecém ficou sem conexão depois de ataque de facção

Facções criminosas no Ceará vêm ampliando frentes de operação que não se limitam ao controle de porções territoriais, mas incluem também a oferta de serviços, tal como conexão de internet, e até mesmo o acesso a recursos hídricos, a exemplo do que tem ocorrido no Interior. Isso mesmo: grupos estariam dificultando o uso de alguns reservatórios particulares, cobrando espécie de taxa para que a água seja coletada, conforme apurou a coluna. Trata-se de novidade, mas não surpreende de todo.

O que se viu ontem no distrito do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, ilustra essa diversificação na cartela de investimentos do mundo do crime, passando do tráfico ao comércio de armas, do setor imobiliário ao das licitações, atuando em todas as pontas, até mesmo na da representação parlamentar - daí a eleição de bancadas ligadas a esses grupamentos. Sob o ponto de vista político, esse é sem dúvida o calcanhar de Aquiles dos governos Lula e Elmano de Freitas para 2026.

Dez a cada dez pesquisas indicam a prioridade de dois temas entre eleitores: segurança e saúde. Não por acaso, a reação da oposição tem se concentrado nesses tópicos, com mais energia dedicada ao gargalo da criminalidade. Pelas redes nessa quinta, 27, para citar apenas um, Capitão Wagner (União Brasil) escreveu que, "enquanto Elmano manda o 'pinscher' visitar os veículos de comunicação do Estado para bater na oposição, os eleitores do governador avançam no programa 'facção empreendedora'", numa referência à suspensão de conectividade que se refletiu no funcionamento do Porto do Pecém.

A resposta do "Ceará mais forte"

As gestões aliadas (leia-se, Elmano de Freitas e Evandro Leitão) não estão paradas, é preciso reconhecer. O bloco governista entendeu - talvez tardiamente - que essa agenda ganhou contornos ainda mais decisivos do que já tinha uma década atrás, quando a expressão "estado paralelo" ainda fazia sentido para classificar os modos pelos quais as facções começavam a se organizar.

Enquanto o Abolição tenta recuperar terreno adotando novamente um sistema de metas, que só deve produzir resultados no médio prazo, a Prefeitura resolveu colocar em prática o armamento da Guarda Municipal - medida controversa cujos efeitos são incertos, mas que se endereça a um público que quase deu a vitória em 2024 a André Fernandes. É o pedágio de Evandro ao bolsonarismo na Capital.

Guimarães na Esplanada?

Cotado para assumir a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) no lugar de Alexandre Padilha, agora ministro da Saúde, o deputado federal José Guimarães (PT) vem se mostrando reticente quanto a seu futuro. À coluna, quando instado a falar sobre suas chances de se tornar ministro, o petista foi breve: "Tudo pode acontecer. Temos que aguardar. O presidente está em silêncio".

Não se sabe, todavia, se esse silêncio de Lula se dá em razão do momento desfavorável, como revelam as sucessivas sondagens da Quaest e do Datafolha, ou se a postura de apreensão do chefe do Executivo se explica pelas dificuldades de remontagem de seu primeiro escalão, sobretudo com os múltiplos recados partindo de lideranças como Kassab (PSD) e Ciro Nogueira (PP) e da pressão dos chamados setores progressistas por uma guinada à esquerda do governo - eleito numa coalização de partidos de centro.

PDT dividido, mas nem tanto

É fato que o PDT cearense se habituou a certo grau de divisão interna desde o racha de 2022, mas as peças antes distantes parecem se recombinar aos poucos, ao menos no plano do discurso. Mesmo com a aproximação do vereador Gardel Rolim ao Paço, uma fração da legenda brizolista trabalha para assegurar que o pedetismo chegue a 2026 com chances de apresentar candidaturas competitivas - quem sabe até para governador e senador, pelo que se ouve nos corredores.

 

Foto do Henrique Araújo

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