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Ódio aos jornalistas, afeto aos sonegadores
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ódio aos jornalistas, afeto aos sonegadores

Na Argentina, o presidente Javier MIlei ataca os profissionais da comunicação e, ao mesmo tempo, acena com facilidades para quem dispõe de dinheiro no exterior e aceitar repatriá-los. Sua promessa é de fechar os olhos para a origem
JAVIER Milei, presidente da Argentina (Foto: LUIS ROBAYO / AFP)
Foto: LUIS ROBAYO / AFP JAVIER Milei, presidente da Argentina

Precisamos falar um pouco mais sobre o que acontece na Argentina dada a insuficiência que representa, hoje, depender apenas do noticiário que acompanha o olhar encantado dos mercados financeiros diante do que tem feito lá o presidente ultraliberal Javier Milei. Coisas graves têm sido registradas, do ponto de vista político e também no aspecto econômico, sem que tenham gerado o espanto devido na comunidade internacional.

Nos últimos dias, por exemplo, Milei tem partido para ofensiva contra jornalistas que não respaldam sua cartilha político-administrativa. Nem é o caso de definir todos eles como vozes críticas ao governo, tratando-se em boa parte dos listados, tão somente, de profissionais que ousam não se alinhar de maneira completa com o que faz a Casa Rosada, sede do poder onde o presidente dá expediente atualmente.

Num comportamento irresponsável, o mandatário argentino tem afirmado e reafirmado que o povo não parece “odiar o suficiente” os jornalistas que criticam seu governo. Uma postura até criminosa, considerado o peso que tem hoje sua palavra, e que se mantém firme mesmo depois de um destes profissionais, chamado Roberto Navarro - este de uma linha oposicionista mais clara - ter sido covardemente agredido num espaço público por alguém que sequer sabe, até hoje, quem seja. Episódio que Milei ignora solenemente.

A ironia? Javier Milei é o expoente máximo em seu país de um partido que tem como eixo a defesa da liberdade como um valor central e absoluto. Não faz sentido que o conceito extremo que se tenta aplicar ao direito de senso crítico exclua o outro da possibilidade de também exercê-lo.

De que liberdade falam Milei e seus agregados radicais, afinal? Transformar os jornalistas em inimigos apenas porque eles não dizem o que quer ouvir vai de encontro à ideia que marcou sua entrada na política e que segue como ponto de destaque do seu discurso.

Postura reprovável, não alinhada com um ambiente democrático, sem o qual não chegaria onde chegou. Aspecto minimizado devido à simpatia do tal mercado às ideias libertárias tocadas por Milei no nível extremo quando se trata de política econômica.

A ideia de desregulação total está colocada no centro de seu projeto, ao ponto de estar em estudo agora, oficialmente anunciada, uma proposta de permitir ao argentino que dispõe de dólares embaixo do colchão ou em contas mantidas em paraísos fiscais que regularize até o limite de US$ 100 mil livre de qualquer obrigação de explicar de onde vieram e como foram ganhos. O crime organizado agradece.

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