
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Precisamos falar da socióloga Rosângela Lula da Silva, popularmente identificada como Janja, que vem a ser a mulher do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e que assumiu protagonismo no cenário político dos últimos dias, "acusada" por gente da própria base de estragar os efeitos positivos de uma viagem do marido à China marcada por anúncios de investimentos e acertos bilionários para o Brasil. O que fez ela então, para carregar tal peso?
Antes de chegar ao episódio específico é preciso discutir o que tem representado a entrada de Janja na vida de Lula, em relação às suas consequências políticas. Há uma diferença abissal entre o comportamento dela e o da antiga cônjuge do petista, Marisa Letícia, esta sempre apontada como fundamental à trajetória dele pelo papel de dona de casa que cumpriu exemplarmente até quase à morte, que aconteceu em 2017. Diz-se, inclusive, que sem ela teria sido mais difícil até criar o PT diante do suporte que oferecia, de sua posição doméstica, para os encontros e reuniões do grupo precursor que tinha Lula como ponto central.
De certa forma, o PT acostumara-se com o estilo Marisa. O que ajuda a justificar, talvez, o incômodo evidente que tem sido para muitos dos que convivem há mais tempo com Lula se adaptar à forma Janja de ser, mais presente às questões políticas, mais ativa, com opinião e disposta a colocá-la na mesa sempre que entender necessário. Quem não lembra, confirmada pelo próprio presidente, a história de que a voz mais firme na resistência à ideia de decretar uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em meio ao conturbado 8 de janeiro de 2023 era a de sua mulher, contrapondo-se a posicionamentos importantes no grupo que indicavam aquele caminho como mais adequado? Para muitos, isso pode ter salvado o governo.
Janja não é Marisa nem faz qualquer esforço para gerar comparação do tipo. Pode-se dizer, na perspectiva do governo, o que em geral se confunde com o que é de interesse do PT, que melhor seria se ela fosse igualmente discreta, aparecesse menos ao lado do marido, que se anulasse em nome do que representa hoje. Só que a opção pessoal tem sido outra e isso precisa ser tão respeitado quanto era o distanciamento das tensões políticas que demarcava a preferência clara da primeira dama que estava ao lado de Lula nos seus governos anteriores. Considere-se, inclusive, a trajetória de militante que levou Janja ao encontro do político que hoje é seu marido.
Sobre a questão na China, voltando a ela, consta que até ministro que integrava a comitiva brasileira sentiu-e incomodado com o fato de Janja haver pedido a palavra, durante jantar com o líder Xi Jiping, para reforçar argumentos do presidente brasileiro acerca dos efeitos do mau uso do Tik Tok, uma rede social de origem chinesa, especialmente sobre crianças e mulheres em nosso país. Convenhamos, se realmente algo estabelecido neste limite, coisa pequena demais para justificar a ação de alguém, que, a partir de contatos com jornalistas feitos ainda de lá, a transformasse numa espécie de síntese noticiosa de uma visita marcada por resultados expressivos para a nossa economia e o próprio governo.
Lula, pode-se dizer, adota um comportamento correto nas situações em que vê sua mulher inserida no contexto de polêmicas políticas. Sua opção tem sido por defendê-la sempre, como fez no caso recente chinês, afirmando que ela tem direito a falar, entende mais de redes sociais do que ele e "não é uma cidadã de segunda classe".
É o que qualquer companheira espera de um companheiro, claro, restando entender se na intimidade do lar, olho no olho, dá-se uma conversa sobre os momentos em que ficar quieta também funciona como uma forma de ajudar o marido a governar. É certo que Janja perdeu algumas oportunidades nesse sentido em quase dois anos e cinco meses do governo atual e nem estou falando deste caso recente da China, que entendo supervalorizado. Uma crise meio artificial que, de alguma forma, involuntariamente o comportamento dela ajuda a alimentar, o que acaba sendo uma vantagem do estilo Marisa na comparação entre as duas. Até porque, admita-se, as crises e os desafios reais e concretos já são suficientes para manter Lula e os seus ocupados. Preocupados talvez seja o termo mais correto.
Para além do que é legal
Uma curiosidade sobre o oportuno 2° Encontro de Comunicação que o PL realiza no Ceará dia 30 próximo, prometendo a presença em Fortaleza do ex-presidente Jair Bolsonaro: a ideia é aproveitar a participação prevista de representantes das big techs (Google, Instagram, Facebook, WhatsApp) para discutir os limites éticos e morais do uso das plataformas? A discussão não é apenas legal e passa pelo comportamento de cada um de nós antes de se tornar um problema de polícia ou de justiça. A reunião acontece no Centro de Eventos e não precisa ser filiado para participar, segundo os organizadores.
Advertência de Heitor,
o médico
Heitor Férrer, deputado estadual pelo União Brasil, questiona em tom de denúncia projeto que acaba de chegar à Assembleia, enviado pelo governo, que dispensa exame toxicológico para promoção de policiais militares. Médico, ele diz que o exame deve ser exigido de qualquer profissional que porte arma, definindo a situação como "risco disfarçado de benefício de carreira". Falta saber se os colegas de bancada, e de oposição, o acompanham na crítica.
Duas perguntas ao ministro
O senador cearense Eduardo Girão (Novo) mira no ministro do STF, Gilmar Mendes, ao apontar responsabilidade pela crise atual na CBF. O instituto do qual o ministro é sócio, o IDP, tem um contrato milionário em vigência com a Confederação, a pretexto sabe-se lá do quê. Girão quer uma investigação parlamentar sobre o caso, alegando conflito de interesses, já que o magistrado tem tomado decisões em favor de Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade esportiva que tenta se segurar no cargo e neste momento encontra-se afastado dele porque a justiça estadual do Rio de Janeiro assim o determinou. Gilmar Mendes dá de ombros para os ataques do senador, alegando que "todos os conhecem, inclusive no Ceará". Todos quem ministro? E o que isso quer dizer exatamente como resposta?
O olhar será local
Daiane Bitencourt organiza para amanhã, em Fortaleza, seminário nacional que discutirá segurança pública e crime organizado. É o primeiro evento do tipo realizado pela Câmara dos Deputados, onde ela tem cadeira pelo União Brasil do Ceará. Certamente, apesar do caráter nacional do encontro, o auditório da Assembleia Legislativa será palco de críticas fortes ao governo cearense já que a temática está no centro do esforço oposicionista de desgastar a gestão Elmano de Freitas (PT). Presidente do partido da deputada no Estado, e marido dela, certamente o Capitão Wagner, uma das vozes que mais frequentemente ajuda a ampliar a crise em seu caráter local, vai se fazer presente.
A culpa (ainda) é dele
Boa iniciativa a do prefeito Evandro Leitão (PT) de lançar nota pública sobre o problema da falta de medicamentos registrada pela população em postos de saúde mantidos pelo município. É uma forma de ser transparente e admitir que há uma crise pode ser a melhor forma de encontrar um caminho de superação para ela. Claro que há um conforto para ele, nesse momento, já que ainda pode atribuir responsabilidade ao antecessor José Sarto (PDT), mas talvez seja uma de suas últimas chances de recorrer à justificativa. Afinal, estamos chegando a junho.
Um cearense "resgatado"
O advogado Marcelo Uchôa acumulou duas alegrias na semana, uma pessoal e outra profissional: teve aprovado projeto apresentado pelo deputado Renato Roseno (Psol) e subscrito por Larissa Gaspar que lhe concede cidadania cearense, no primeiro caso; e, no segundo, foi nomeado conselheiro da Comissão de Anistia Wanda Sidou como representante da OAB-CE. Informação: ele nasceu no Rio de Janeiro, para onde o pai, Inocêncio Uchôa, havia levado a família, na clandestinidade, fugindo da ditadura militar. "É uma reparação histórica", segundo diz.
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