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O Pix é estratégia política no estilo Bolsonaro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O Pix é estratégia política no estilo Bolsonaro

O ex-presidente fez e aconteceu, aparentemente assumindo os riscos devidos, e na hora de pagar a conta decidiu passar a sacolinha virtual. Acumulou R$ 17 milhões e agora ameaça reativar a campanha junto aos apoiadores. Um escárnio
Eduardo Bolsonaro é entrevistado por Tucker Carlson (Foto: Reprodução/vídeo)
Foto: Reprodução/vídeo Eduardo Bolsonaro é entrevistado por Tucker Carlson

Confesso minha dificuldade em entender alguns aspectos da ”nova política” representada pela forma de se comportar de figuras como o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. Um líder de massas, sem dúvida, capaz de mobilizar multidões em torno de suas pautas e agendas num nível alto, certamente, mas que tem aproveitado sua força política com alguma frequência para desvios que buscam lhe garantir ganhos pessoais.

Por exemplo, até hoje não entendi direito a história de que Bolsonaro conseguiu arrecadar R$ 17 milhões em doação de simpatizantes, via Pix, para fazer frente ao pagamento de multas que acumulou por atitudes de desrespeito às leis de trânsito ou de distanciamento social em vigor durante a pandemia. Ou seja, ele fez e aconteceu, aparentemente assumindo os riscos devidos, e na hora de pagar a conta decidiu passar a sacolinha virtual. Com êxito muito além do esperado (talvez) e do necessário (com certeza).

É um padrão meio novo de demonstração de apoio a um líder que, por sua vez, age de maneira desmedida e sem qualquer pudor para explorar este apoio em seu favor. Exemplo disso é que nem se gastou a totalidade dos milhões de reais da ação anterior e já existe a ameaça de um novo apelo semelhante, sob o argumento de que o ex-presidente anda gastando muito etc etc e, dentre outras coisas, precisa ajudar nas despesas do filho Eduardo, morando hoje nos Estados Unidos.

Captou? Eduardo Bolsonaro, deputado federal com mandato até dezembro de 2026, pede licença, manda-se com mulher e filhos para outro país, alegando-se perseguido por uma ditadura do Judiciário blá blá e, ameaçando repetir o pai no caso das multas, sinaliza que pode ir ao bolso dos apoiadores políticos da família para se manter lá onde se encontra. Em situação, até onde se sabe, bem confortável.

Quem está disposto a apiedar-se com a situação e acionar um Pix, recomendo que dê uma olhada nas redes sociais de um dos prováveis beneficiários, o deputado em questão, no caso, para entender o destino que pode ter a boa ação. Seu dinheiro, certamente ganho com suor e sacrifício, talvez ajude a pagar os custos de aluguel e manutenção de uma bela residência no Texas, ou dos gastos de um passeio pela Disney, ou da presença num rodeio daqueles tipicamente americanos com todos as moedas que isso exige dispor.

Coisas, todas, que demandam mesmo dólares para garantir a agenda ”cansativa” que o fragmento da família Bolsonaro tem cumprido desde a chegada por lá. Ainda bem que nos mantendo informados quase passo-a-passo, o que ajuda a entender porque é importante ajudá-lo financeiramente. Ou, de outra parte, por que não.

Aqui terminam as ironias. É um escárnio tudo isso e lamente-se que entre as pessoas alcançáveis pela história, como financiadores, tenhamos incautos que enfrentam dificuldade até para seu cotidiano pessoal, gente genuína na admiração por um líder político que, ao lado de parentes e de gente influente que o cerca, não tem qualquer vergonha de explorá-los. Não há sequer esforço de indicar que o novo pedido se direciona a quem dispõe de dinheiro sobrando, o que ajuda a aumentar o sentimento de que é uma ação com certa crueldade. No mínimo, marcada pela insensibilidade.

Foto do Guálter George

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