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O bônus e o ônus nos casos de Luis Roberto Barroso e Ciro Nogueira
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O bônus e o ônus nos casos de Luis Roberto Barroso e Ciro Nogueira

As posturas do ministro do STF e do senador mostram um problema que precisa ser enfrentado em suas raízes. Não é questão de um outro, mas se deve encontrar uma saída que olhe para as causas, a partir da identificação dos efeitos

Há um debate meio adormecido que precisa ser recolocado na pauta do País com alguma urgência. Quais os limites de um agente público, afinal, nas relações com interesses privados para que sua atuação institucional não termine contaminada? A discussão deve envolver todas as instâncias que formam nossa estrutura de poder para levar a uma resposta que pareça capaz de contemplar o problema, quando assim entendido, no seu todo.

As demonstrações públicas de confusão seguem a nos desafiar e exigem que algo seja feito no tempo mais rápido. Cito duas situações expostas nos últimos dias, envolvendo gente de poderes diferentes, que apontam, inclusive, um certo descaso de quem ocupa funções públicas hoje com a necessidade de demonstrar o necessário distanciamento de interesses ou pessoas potencialmente sujeitas às suas ações
O primeiro exemplo envolve um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o atual presidente, aliás. Luis Roberto Barroso aparece em vídeos que circulam pelo noticiário e as redes sociais fazendo animado dueto com Diego Barreto, que vem a ser CEO do Ifood.

O problema? Há uma ação importante tramitando na Corte que diz respeito aos negócios da figura em questão e da empresa que dirige, criando-se um constrangimento que a autoridade envolvida evitaria com um ato simples, mas necessário: recusando o convite para se fazer presente ao evento social.
Barroso decidiu estar ali e o caráter beneficente do evento não consegue justificar sua opção, muito menos o fato dele se deixar aparecer em momento de aproximação pessoal que pode contaminar uma decisão que eventualmente venha a tomar sobre algo de interesse do seu companheiro de canto. Temos, como sociedade, o direito de pensar assim.

Da mesma forma que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) abre espaço de suspeita sobre si próprio quando aceita carona no avião de empresário de notórias ligações com o mundo milionário das apostas online para luxuosa viagem até Mônaco, onde acompanhou uma corrida de Fórmula Um no último dia 26.

Problema? Fernando Oliveira Lima, dono da One Internet Group e a figura em questão, está na mira de CPI que funciona no Senado, com Ciro Nogueira entre seus integrantes, cujo foco é investigar a ligação do setor com o crime organizado e outras práticas consideradas criminosas das quais é suspeito. Diante de um sinal tão claro de afinidade entre eles, parece difícil imaginar isenção suficiente do parlamentar para cumprir seu papel dentro do núcleo investigativo.

As posturas de Luis Roberto Barroso e Ciro Nogueira mostram um problema que precisa ser enfrentado em suas raízes. Não é questão de um outro, os nomes surgem apenas pela oportunidade que os exemplos atuais oferecem, mas se deve encontrar uma saída que olhe para as causas, a partir da identificação dos efeitos.

Precisamos recuperar a ideia de que ocupar uma função pública impõe ônus que, em situações, até podem justificar bônus muitas vezes incompreendidos por nós e vistos, equivocadamente, como privilégios. Aliás, quanto maior o cargo - ministro do STF e senador da República estão na prateleira de cima - maiores deveriam ser os cuidados que deveriam ser observados por quem os ocupa. Ao contrário do que a realidade tem mostrado.

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