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Bolsonaro, RC, passado e futuro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Bolsonaro, RC, passado e futuro

As últimas horas foram intensas, com direito inclusive a um olho no olho entre Bolsonaro e RC, prevendo-se que os próximos dias também sejam animados. Por exemplo, há um novo encontro pré-acertado entre eles para a semana, em Brasília
Bolsonaro, RC, passado e futuro (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos Bolsonaro, RC, passado e futuro

Roberto Cláudio acaba de fazer, talvez, sua jogada mais arriscada na política. Deixar o PDT tornara-se uma decisão inevitável diante de tudo que tem acontecido desde 2022, a partir do confuso processo de escolha do candidato ao governo, que acabaria sendo ele próprio, resultando em racha do grupo governista que tinha na legenda uma de suas bases fundamentais. O ano de 2024 sacramentou isso e o caráter desafiador está na escolha do caminho pelo qual optou.

Lembremos do comportamento que teve o influente (então) pedetista nas eleições do ano passado em Fortaleza ao optar pelo desembarque completo na campanha do bolsonarista André Fernandes (PL), depois que seu candidato José Sarto, que tentava reeleição, acabou excluído do segundo turno pelo eleitor. RC, talvez surpreendendo até o bolsonarismo, entrou de cabeça, participou de atos, gravou vídeos, fez adesivagem etc etc. Vestiu a camisa sem qualquer constrangimento.

Desde então ficou estabelecido um certo teatro nas relações dele e seu grupo com a cúpula do PDT, local e nacional. Era um esforço dos dirigentes, em especial do presidente estadual André Figueiredo, de utilizar o tempo em favor de uma esperada acalmada do ambiente e assim evitar uma situação de rompimento. O que não aconteceu, na realidade. A questão é que, todo o tempo, RC não apresentou qualquer sinal objetivo de que trabalharia (ou mesmo de que a desejava), pela retomada da unidade de antes, interna e dentro de um bloco ao qual a sigla esteve vinculado em 17 dos últimos 20 anos.

As últimas horas foram intensas, com direito inclusive a um olho no olho entre Bolsonaro e RC, prevendo-se que os próximos dias também sejam animados. Por exemplo, há um novo encontro pré-acertado entre eles para a semana, em Brasília, como reforço na disposição mútua demonstrada pela ação anterior de encontrar os pontos convergentes, considerando que as visões que distanciam um do outro já são suficientemente conhecidas do público. Até pelo fato de terem sido bastante alardeadas em momentos anteriores da nossa política.

Em alguns aspectos pareciam coisas de difícil superação, tese que a política volta a contrariar, com sua falta de limites (digo isso como tentativa de elogio) a partir de quando os objetivos são traçados de maneira clara. A história do fim que tenta justificar o meio. Neste caso, o desejo comum de ver o PT e agregados locais apeados do poder parece estar acima de qualquer desavença que as atitudes firmes de ambos os lados no passado faziam parecer incontornáveis, especialmente no campo ideológico.

O fato de o ex-prefeito ter, no período, estreitado relações com Ciro Gomes jogou por terra qualquer ideia de permanência dele no PDT, especialmente quando se observa a questão do ponto de vista local. O discurso sobre a situação política no Ceará foi ficando mais duro na medida em que os dias passavam, chegando ao extremo de, hoje, indicar um quadro de terra arrasada que ele vincula ao grupo político que se instalou no Abolição. É preciso lembrar que com seu apoio até, pelo menos, o começo de 2022.

Nada que já não tenha acontecido outras vezes na política. Ou seja, existem sempre contradições a serem explicadas porque o adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã e vice-versa. No bloco governista também há quem tenha feito o caminho inverso e saído de uma posição crítica para uma postura de respaldo. O eleitor cearense, configurando-se a ideia de uma candidatura de Roberto Cláudio por uma frente da qual façam parte figuras que até outro dia digladiavam-se entre si, merecerá algum tipo de explicação, para além das circunstâncias eleitorais. É o mínimo que se pode esperar.

 

"O Roberto ficou muito lisonjeado com a oportunidade de poder conversar com Bolsonaro, trocar uma ideia"

Carmelo Neto, deputado estadual e presidente do PL no Ceará, que diz ter intermediado o encontro entre os dois políticos.

 

Covardia fora da urna

Augusta Brito, do PT, comemora o primeiro passo importante que deu, no Senado, projeto de sua autoria que aumenta a proteção à mulher na perspectiva em que prevê punição eleitoral para quem for condenado por violência doméstica e familiar. Na prática, tornando-o inelegível. A proposta avançou na Comissão de Direitos Humanos com grande facilidade e a próxima etapa será na decisiva Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde se espera um pouco mais de resistência. Não deveria, mas é o que se prevê que acontecerá.

O ataque à ministra

A coluna, que tem o sentido de sintetizar a semana política, registra como inacreditável o episódio, no mesmo Senado, em que dois parlamentares submeteram (ou tentaram) a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, a um constrangimento que o gênero ajuda muito a explicar. A postura agressiva e intolerante dos senadores Marcos Rogério (PL-RO) e Plínio Valério (PSDB-AM) justifica-se muito, apesar deles negaram e seus simpatizantes acreditarem, no fato de ser uma mulher. O azar deles, talvez, é que, mais do que isso, trata-se de uma das figuras mais respeitadas no plano mundial quando a temática do meio ambiente, aquele que a levara até lá, entra em discussão. O saldo final da bagunça que criaram, ainda bem, lhes é amplamente desfavorável.

O coordenador do Nordeste

O piauiense Júlio César de Carvalho Lima, do PSD, segue coordenador da bancada do Nordeste. Da linhagem escorregadia que tanto bem faz à sigla, como imagem e semelhança do seu presidente nacional, Gilberto Kassab, o parlamentar acaba de ser reeleito e caminha para ser o mais longevo ocupante da função, que em tempos passados já esteve entregue aos cearenses Roberto Pessoa e José Guimarães. Júlio César tem planos de disputar o Senado nas eleições de 2026, abrigado dentro da chapa majoritária que o PT quer montar no Piauí, liderada pelo governador Rafael Fonteles. Certamente, usará a posição estratégica dentro do Congresso no que lhe for útil para tal objetivo

As chances de Girão

O senador Eduardo Girão (Novo) está, com certeza, entre os principais beneficiados pelo que deixou de saldo a passagem por Fortaleza do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sua pré-candidatura ao governo do Ceará era tratada meio de lado pelo grupo local e acabou inserida no contexto das possibilidades em estudo pelo seu colega de Senado, Rogério Marinho (PL), que é do Rio Grande do Norte e tem força suficiente para se entender que fala com respaldo do próprio Bolsonaro. Por isso, talvez, Girão, que gosta de se definir como independente, compareceu a eventos da agenda do ex-presidente na passagem pela cidade.

O consenso e seus detalhes

Fala-se de bastidores agitados no PT nos dias que antecederam o anúncio de um acordo em torno do nome de Antonio Conin como candidato à presidência da executiva estadual. Muita liderança do Interior foi procurada, e pressionada, o que ajudou no acerto final que esvaziou a articulação em torno do nome do prefeito de Itapipoca, Felipe Pinheiro, encaminhando a solução Conin. O que vale, enfim, é a foto oficial dos principais líderes envolvidos que anuncia o fim de uma briga silenciosa que, esperam eles, não deixará sequelas. Lembrando ainda que as alas mais à esquerda mantêm a candidatura de Adriana Almeida, vereadora em Fortaleza, avaliando-se internamente que apenas para marcar posição

A greve e o prefeito

Segue a queda de braço entre representações dos servidores municipais e a gestão de Glêdson Bezerra (Podemos), em Juazeiro do Norte. Há duas paralisações programadas para a semana, terça e quinta-feira, como forma de sensibilizar o prefeito, que tem criticado o movimento. Sugerir uma paralisação diante do que tem sido feito é "brincar de fazer greve", diz ele, adiantando que a postura de recorrer ao instrumento extremo sem razões objetivas atravessa gestões, ou seja, também incomodou seus antecessores. E, alega mais, quem perde com isso é a população que fica privada da prestação de serviços essenciais importantes.

 

Foto do Guálter George

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