
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Correu tudo dentro do previsto nos depoimentos à justiça dos oito acusados de fazer parte do núcleo principal da tentativa de golpe de Estado que rondou o Brasil entre os anos de 2022 e 2023. No sentido do que se pode chamar de institucionalidade, com cada ator entendendo seu papel e permanecendo no limite do que a ele estava permitido O que já é muita coisa nos tempos que vivemos.
A questão é que o ex-presidente Jair Bolsonaro, dado como chefe de tudo pela condição que ostentava de presidente da República à época em que as coisas hoje sob investigação aconteciam, havia convocado seus apoiadores a acompanharem seu depoimento. O clima era de excitação política evidente em setores localizados dentro do que chamamos de bolsonarismo.
Criava-se ali a expectativa de que ele parecia pronto para, atendendo à linha mais radical do seu entorno, confrontar o ministro Alexandre de Moraes aproveitando a oportunidade do esperado depoimento. Afinal, estaria diante dele o personagem que, nos discursos para os simpatizantes, aparecia como ponto central de uma trama urdida para falsear o resultado eleitoral e levá-lo a uma derrota em 2022 que até hoje não aceita.
E o que se viu? Um Jair Bolsonaro acovardado, de um lado minimizando as situações graves que a denúncia aponta ou buscando eximir-se de responsabilidade, e, de outro - o que está doendo mais em boa parte da turma -, humildemente desculpando-se diante de Alexandre de Moraes, até procurando criar uma aproximação com ele através de brincadeiras (não correspondidas pelo ministro no mesmo tom), e nem de longe lembrando aquela figura marcada pelo destemor e a coragem quando referia-se ao magistrado longe de seu olhar.
Há gente mais capacitada do que eu para analisar se, tecnicamente, a estratégia do ex-presidente funcionará para melhorar sua situação de réu, agora que o processo entra em suas etapas finais. Acho até que não, mas, com absoluta certeza, em relação aos seus efeitos políticos o que aconteceu na tarde da última terça-feira frustrou quem esperava ver o seu líder confirmando, na cara do algoz, as acusações e denúncias contra ele que há alguns anos repete quase diariamente.
Claro que ele não tinha como ser diferente, mas havia uma parcela de gente levada a acreditar que o líder deles não desperdiçaria a chance de, cara a cara com o “terrível ministro”, repetir tudo aquilo de grave acerca do seu comportamento sempre, nos últimos tempos, que um microfone lhe surgiu à frente, em ato político, entrevista ou podcast.
Deve ser uma decepção terrível, de fato, perceber que a coisa é bem mais complexa do que costumam indicar os discursos fáceis, feitos para animar plateias e redes sociais . Bem vindos ao mundo real.
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