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Flávio Bolsonaro anunciou o golpe, agora cai quem quer
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Flávio Bolsonaro anunciou o golpe, agora cai quem quer

Sugerir que a anistia aos golpistas do passado deve sair a qualquer preço, usando a força se necessário, é anunciar um golpe no futuro, não poderemos dizer que não fomos avisados se algo do tipo vier a acontecer
Flávio é o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: Wilson Dias/EBC)
Foto: Wilson Dias/EBC Flávio é o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro

Passaram-se alguns dias, já, desde que começaram a circular as declarações do senador fluminense Flávio Bolsonaro (PL) à Folha de S. Paulo, nas quais ele anuncia publicamente que a possibilidade de golpe no futuro está dada, a depender de como as coisas se comportem no contexto de um próximo presidente eleito com vínculo à direita, e uma pergunta se impõe: ele já foi chamado para esclarecer o que diabo quis dizer com aquela história?

O senador afirmou aos jornalistas, que poderiam tê-lo cobrado de maneira mais firme já ali, inclusive, que alguém eleito com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (seu pai) precisa estar comprometido com a ideia de que a anistia aos envolvidos com a tentativa de golpe que vivemos entre 2022 e 2023 deve ser uma de suas medidas prioritárias e precisa vingar a qualquer custo. Por exemplo, diz ele, caso o STF, no cumprimento de seu papel institucional, venha a anular um indulto do futuro presidente ao grupo, uma parte já condenada e outra a caminho da cadeia, deve-se fazer com que a medida prevaleça, “mesmo que à força”.

Não lembro de ter visto um ataque retórico tão claro à democracia brasileira. O senador precisa ser chamado a explicar o que isso significa afinal, considerando que não faz qualquer sentido o acréscimo que apresenta para nos tranquilizar, esclarecendo, ainda durante a conversa com os jornalistas, que a ameaça “não é uma ameaça”. Só que não há como interpretar as declarações dele sem inseri-las dentro de um contexto golpista.

Sugerir que a anistia deve sair a qualquer preço, usando a força se necessário, é anunciar um golpe, não poderemos dizer que não fomos avisados se algo do tipo vier a acontecer mais adiante. Cumprida, claro, a profecia de que Bolsonaro, o pai, elegerá quem quiser como sucessor de Lula na Presidência da República.

Um Senador da República, até visto como uma das vozes mais serenas do bolsonarismo, não pode sequer sugerir algo do tipo e o que ele fez foi mais do que isso. A primeira cobrança deveria vir da própria Casa onde hoje ele ocupa uma cadeira, cujo funcionamento está diretamente relacionado à existência de um ambiente democrático que define bem os papéis e limites de cada instância de poder.

Alguém que naturaliza a ideia de que uma decisão da Corte principal do Judiciário com a qual não se concorde justifica o uso da força, certamente também entenderá como normal que o próprio parlamento possa ser alvo de uma ação violenta na hipótese de fazer algo que, mesmo no seu direito institucional, desagrade o governo de plantão ou quem o apoie. Não é questão de esquerda ou direita, mas de democracia.

 

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