
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
É espantosa, para mim, a desenvoltura de figuras brasileiras ao circularem de vez em quando pelos espaços do Congresso dos Estados Unidos quase que implorando por algum tipo de intervenção estrangeira em nosso País para atender ao interesse de um segmento que resiste a aceitar uma derrota sofrida nas urnas. Sob o argumento falso de que a nossa democracia está em crise, como leitura própria de um comportamento do Supremo Tribunal Federal que tem o sentido, exatamente contrário, de protegê-la.
Tem algo de vergonhoso no que aconteceu terça-feira passada, durante audiência na Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Representantes, em Washington. O influenciador (ou algo parecido) Paulo Figueiredo foi lá fazer um relato próprio do que acontece hoje no Brasil e pintar um cenário que é o que está na cabeça dele, e de muita gente (admito), mas não tem a ver com a realidade objetiva que se vive.
Por isso, inclusive, é que o episódio insólito repete outras situações semelhantes experimentadas por ali várias vezes. Tem sido comum a presença de caravanas de brasileiros, algumas delas pagas com o dinheiro do cidadão, tratando-se de parlamentares que para lá se deslocaram custeados pelos cofres públicos, batendo nos gabinetes ou falando da calçada do Congresso para propagarem uma versão fantasiosa dos fatos. A velha lógica de que uma mentira, muitas vezes repetida, pode acabar virando verdade.
Quem quiser que ache normal, eu continuo estranhando muito ver gente de postura colonizada clamando a autoridades e políticos estrangeiros que façam algo contra seu próprio país. De maneira aberta, sem sofismas. Ainda mais valendo-se, como é o caso, de um argumento falacioso. Os mocinhos da versão de Paulo Figueiredo estão mais para vilões, a começar por ele próprio, um dos relacionados no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado que o Brasil enfrentou entre os anos de 2022 e 2023
É uma coisa de tal modo insólita que coube a um parlamentar dos Estados Unidos - James P. McGovern -, do partido Democrata, fazer um esforço de chamar Paulo Figueiredo à razão, lembrando-o que o país dele tem seus próprios problemas para cuidar, no mesmo campo. Além de um governo, comandado por Donald Trump, que o tempo todo atropela as prerrogativas do Congresso, há a tensão estabelecida no ambiente político pelo estilo belicoso do presidente, de quem o brasileiro se diz amigo, ao qual de alguma forma se atribui o comportamento violento de alguns militantes que o apoiam.
Lembre-se que no último dia 14 uma deputada estadual, Melissa Hortman, foi assassinada a tiros junto com o marido, dentro de casa, em Minessota. No mesmo dia, um senador estadual - John Hoffman -, também Democrata, foi vítima de uma tentativa de homicídio ao lado da esposa, sobrevivendo por milagre. As duas ações violentas são atribuídas a um fanático de extrema direita e teriam motivação política.
Este é o clima no país ao qual têm recorrido figuras como Paulo Figueiredo, Eduardo Bolsonaro e outras mais de uma extensa lista que enxerga Washington como único caminho de saída para a crise na qual estamos envolvidos devido ao comportamento de um grupo cuja ideia de democracia não absorve a palavra “perder”. Aparentemente, também desconhece o sentido real do termo ”pátria”, outro que usam de forma abusiva no discurso, mesmo que ignorando-o no uso prático.
O Brasil já é adulto o suficiente para lidar com seus problemas e encontrar uma forma de resolvê-los sem que precise da ajuda do “amigo fortão”. Aliás, é o que tem demonstrado através de instituições como o STF e o Ministério Público, não por coincidência dois dos alvos principais da turma que circula pelo mundo pedindo socorro. Afinal, eles sabem o que fizeram no verão passado
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