
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Os valorosos defensores da liberdade de expressão plena entre nós, inclusive para prática de possíveis crimes, precisam olhar um pouco o que acontece na Argentina ultimamente para ver o que podem fazer. Mais do que ameaça, acontece ali um ataque frontal ao direito pelo qual eles lutam quase que sem trégua, muitas vezes em defesa dos irmãos venezuelanos e cubanos, ou seja, é uma ação além-fronteiras. Pior, no caso argentino é uma ação abertamente comandada pelo presidente do país, Javier Milei.
Nos últimos dias, foram apresentadas seis denúncias contra jornalistas. Todas patrocinadas por Milei e tendo como origem manifestações dos (e das) profissionais de comunicação críticas à sua atuação como presidente e, em alguns aspectos, relacionando-a a pontos de sua personalidade. Na visão que costumo ouvir das pessoas que pensam como o dirigente argentino, apenas o exercício da liberdade de exprimir aquilo que se entende como uma verdade. Ou, como opinião.
Na verdade, desde quando tomou posse no cargo, em dezembro de 2023, Javier Milei, apesar de ter-se popularizado graças à presença frequente em programas de televisão como debatedor, vive às turras com a imprensa e com jornalistas que decidiu eleger como inimigos. A Anistia Internacional fez um levantamento e localizou pelo menos 40 ataques públicos contra profissionais de comunicação nos primeiros 12 meses de mandato, em geral relacionadas ao fato deles e delas criticarem sua gestão.
Coisa grave, algumas manifestações contendo uma incitação direta ao ódio e alimentando um clima que já é suficientemente perigoso. Outro dia mesmo, o jornalista Roberto Navarro, conhecido por suas posições muito críticas ao governo e ao presidente, foi brutalmente agredido num hotel de Buenos Aires. Não foi uma atitude solta, descolada do ambiente político e, ao contrário, parece uma consequência direta e até natural dele.
A nova ofensiva de Milei contra os jornalistas, levando-os à justiça por opiniões manifestadas, certas ou erradas que sejam, exigiria deles e dos apoiadores que fizessem uma autocrítica quanto à ideia que sempre expressaram de que a liberdade é um valor absoluto, que nunca justifica que alguém acione o aparelho judicial como resposta, ainda mais quando se ocupa cargo público. O que não vale para Nicolás Maduro, na Venezuela, ou para Miguel Díaz-Cane,em Cuba, não deveria valer também para Javier Milei, na Argentina?
Moral da história: pimenta nos olhos dos outros, no meu é refresco. Os que defendem como valor democrático o direito de atacar qualquer um, sem limites éticos ou regras de convivência, rasgam a própria cartilha quando saem da condição de agressores para a de agredidos. Valendo destacar que no plano nacional estão alinhados com Javier Milei e seu estilo, parecendo salutar que agora, aprendida a lição, decidam voltar ao mundo real. Aquele onde a justiça funciona para punir os crimes, inclusive aqueles cometidos em nome da tal liberdade de expressão.
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