
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O caso de Edson Aparecido Campolongo é exemplar como demonstração de que os vínculos diretos que a política tenta criar entre pessoas e situações nem sempre se justificam pelos fatos. Este cidadão, de quem certamente boa parte dos leitores nunca ouviu falar, está preso em São Paulo, após investigação policial, como responsável por alguns dos ataques violentos, a pedradas, observados nos últimos dias contra veículos coletivos que circulam pela maior cidade brasileira. Sua motivação? "Salvar o Brasil!".
Trata-se de uma daquelas situações, a cada dia mais comuns, infelizmente, de alguém de aparência normal, um pacato e tranquilo servidor público da capital paulista, com direito a salário nada desprezível acima de R$ 10 mil mensais, que desenvolvia, no paralelo, um comportamento de criminoso.
Algo de tal forma despropositado que em várias situações fazendo uso de veículo oficial da própria repartição pública à qual servia. Haverá necessidade de aprofundar mais a investigação para entender o cenário em sua vasta complexidade, porque o simplismo e a falta de noção que a situação transparece parecem assustadores.
Uma primeira olhada nas redes sociais do acusado, que já teria até assumido responsabilidade pela tresloucada e aleatória ação, torna possível a identificação de seu pensamento ideológico. Portanto, sua ideia de mudar o Brasil, começando pela destruição dos ônibus paulistanos, passa pela rejeição absoluta ao PT e seus símbolos, em especial o presidente Lula, compõe-se de uma crítica forte ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, claro, como contraponto natural a tudo isso, se abraça ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos valores que ele carrega consigo.
Portanto, é uma conduta natural que, sim, pode ter a ver com o ambiente no qual vive Campolongo e as influências que acabam exercendo papel na construção imaginária que ele idealiza em sua mente claramente perturbada.
Nem por isso seria correto fazer uma ligação direta da parte criminosa de seu caráter com as simpatias e antipatias políticas que torna públicas quando se manifesta através das redes sociais. Assim como não é correto sequer sugerir que o apoio que oferece a Bolsonaro e ao movimento que o ex-presidente lidera guarda relação direta com as atitudes inclassificáveis que adotou com suas agressões, colocando em risco a vida de centenas de pessoas que nem mesmo conhecia.
É um episódio que talvez sirva, a depender do comportamento que tiverem Lula e a militância que o cerca, para uma reflexão de Jair Bolsonaro e de apoiadores dele que fazem um esforço retórico permanente de vincular os adversários ao crime valendo-se de situações que não parecem fazer qualquer sentido fático.
Para recorrer a um exemplo recente, outro dia o próprio ex-presidente voltou a apontar a realização de um evento de campanha do petista em 2022 numa área carente do Rio de Janeiro como demonstração de que ele tem acordo com facções criminosas.
Minha ideia de pacificação do ambiente político é mais simples do que tenho visto expresso de quando em vez. Não exigiria, segundo penso, que os lados contrários esqueçam as diferenças e busquem somente os caminhos comuns, basta que se tenha de volta o entendimento de que são forças adversárias e não inimigas, que um não precisa morrer para o outro viver.
Esse tipo de compreensão, como efeito prático natural, deixaria de oferecer a luta política como fundamento para figuras como este Edson Campolongo e suas ações extremas. Em geral, como se dá no exemplo em questão, também criminosas.
A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.