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O bolsonarismo sem Bolsonaro de Carla Zambelli
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O bolsonarismo sem Bolsonaro de Carla Zambelli

É um tanto justificável a pouca comoção que se registra desde a prisão da deputada paulista na Itália, nesta terça-feira. Ela até não merece o abandono de que tem sido vítima, considerada sua fidelidade canina ao movimento liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro
DELGATTI e Zambelli, em foto postada pela deputada em 2022 (Foto: Reprodução/Twitter)
Foto: Reprodução/Twitter DELGATTI e Zambelli, em foto postada pela deputada em 2022

Carla Zambelli é, hoje, uma figura isolada e meio abandonada dentro do movimento do qual ainda faz parte e onde já ocupou posição de certo destaque. Mesmo com os sinais evidentes que emitia lá atrás de não ser uma pessoa exatamente equilibrada, ainda na época em que era apontada como uma das estrelas da companhia. Lembremos que ela se reelegeu para Câmara Federal, dois anos e meio atrás, com 946 mil votos, mandato, inclusive, que a justiça eleitoral paulista lhe cassou, merecidamente.

É um tanto justificável, diante do contexto, a pouca comoção que se registra desde a prisão da deputada paulista na Itália, nesta terça-feira. Ela até não merece o abandono de que tem sido vítima, considerada sua fidelidade canina ao movimento liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

São públicas as situações nas quais ela foi alvo de humilhações ao longo dos últimos anos, às quais sempre reagiu de maneira disciplinada, sem gerar escândalos ou crises internas para cobrar reconhecimento ao seu papel de militante devotada à causa do conservadorismo, no conceito confuso que o grupo defende.

Bolsonaro até atribui sua derrota à maluquice de Zambelli na reta final do segundo turno da disputa presidencial de 2022, ao oferecer conteúdo bombástico às redes sociais com o episódio em que aparecia correndo atrás de um cidadão negro, revólver em punho, numa cena de rua de São Paulo em dia de véspera de eleição. É muito simplismo dizer que uma coisa levou à outra, necessariamente, mas, não há dúvida, uma ou outra pessoa desistiu de votar na reeleição do então presidente assustado com a situação.

Bolsonaro tem como uma espécie de marca de liderança, o que nesse sentido parece um defeito, a pouca disposição de oferecer gestos de solidariedade a aliados quando eles entram em declínio. É longa a lista de gente que foi deixada pelo caminho à medida em que não servia mais ao objetivo político que o move, podendo-se citar Gustavo Bebiano (que morreu queixando-se do abandono a que se viu submetido ao entrar em atrito com Carlos Bolsonaro) e, no cenário de hoje, o ex-deputado federal paraibano Julian Lemos, um ex-amigo disputado ultimamente por canais da esquerda para fazer o que mais gosta no momento: falar mal, muito mal, do ex-ídolo.

A deputada paulista, que agora começa, da cadeia, sua luta para permanecer na Itália, alegando perseguição política e solicitando status de exilada, precisará mostrar força pessoal, um prestígio global que não tem demonstrado possuir, para ter seu pedido atendido pelo governo de extrema direita comandado por Giorgia Meloni.

Mesmo que não seja marcada exatamente pela capacidade de fazer boas leituras de cenário, ela sabe que não terá seu líder Jair Bolsonaro (ou seus mais próximos) envolvido numa campanha de defesa dos direitos que entende possuir. Ela não está mais no radar da turma.

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