
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A gente lida o tempo todo com incoerências e algumas delas terminam absorvidas por uma realidade cotidiana intensa demais pelo confuso momento histórico, nem sempre havendo como lançar sobre elas a luz que merecem. Agora, há episódios que gritam com força além da conta para serem ignorados no debate político, como neste caso da expulsão do deputado federal paulista Antonio Carlos Rodrigues, anunciada pelo comando nacional do Partido Liberal (PL).
Pera lá!? A turma que nos últimos meses e anos transformou a defesa da liberdade de expressão e opinião em valor absoluto, intocável até em situações nas quais se esteja cometendo crimes evidentes, decide punir um parlamentar pelo fato de expressar um pensamento pessoal? Apenas por contrariar uma ideia predominante no grupo ao sair em defesa do ministro do STF, Alexandre de Moraes, quanto à aplicação contra ele da lei Magnitsky pelo governo dos Estados Unidos, é isso mesmo?
Mais contraditório impossível. O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que firma defesa ao lado dele na briga pelo seu direito de dizer o que quiser e apoia-se na tal compreensão de liberdade plena para pressionar o Estado brasileiro a livrá-lo dos processos que responde por sua atuação no apoio a um movimento que visava romper a estrutura institucional brasileira, nega seu próprio discurso ao punir um membro importante seu pelo simples fato de haver opinado.
Fico curioso em saber o que pensam da situação figuras que diariamente, quase, nos bombardeiam com declarações e ações que tentam apontar um quadro de ditadura no Brasil diante do combate implacável de setores do Judiciário, agindo em acordo com o que é seu papel objetivo, ao mau uso da liberdade de expressão para o cometimento de crimes. A queixa básica do PL e dos satélites partidários que o cercam é de que as pessoas estão sendo punidas por opiniões que emitiram, quando se sabe que há muito mais do que isso em discussão.
Quer um nome? Eduardo Girão, o senador cearense do Novo que vive a falar de uma fantasiosa ditadura da toga embalado num discurso de defesa da opinião livre como algo pleno e que, na sua visão, não pode contemplar qualquer limite. Quer outro? André Fernandes, o deputado federal que, inclusive, é colega de bancada de Antonio Carlos Rodrigues e, por coerência, deveria se posicionar ao lado dele para dar sentido à luta que tem travado nos últimos anos pelo que chama de direito de todos nós dizermos o que queremos, contra ou a favor de quem quer que seja. Exatamente o que fez seu colega de bancada.
Para quem foi levado de boa fé a abraçar a causa do bolsonarismo deve parecer frustrante descobrir um exemplo de intolerância tão claro partindo de quem acusa os adversários, em geral por razões meramente ideológicas, de não aceitar o pensamento diferente. É sempre assim, no olho dos outros é refresco.
A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.