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O patriotismo não brasileiro dos bolsonaristas
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O patriotismo não brasileiro dos bolsonaristas

Com sua estratégia de mobilizações barulhentas o movimento ligado ao ex-presidente busca mostrar força, apoio popular etc o que até parece conseguir diante das imagens vistosas que possibilita, mas fragiliza seu líder junto a segmentos fieis a ele
Manifestação de apoiadores de Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, tem bandeiras de Brasil e Estados Unidos (Foto: NELSON ALMEIDA / AFP)
Foto: NELSON ALMEIDA / AFP Manifestação de apoiadores de Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, tem bandeiras de Brasil e Estados Unidos

Vou fugir da tentação de discutir se tinha muita ou pouca gente nas manifestações bolsonaristas do domingo em várias cidades brasileiras incluindo Fortaleza. Prefiro discutir as motivações que levam milhares de pessoas pelo País a irem às ruas incentivadas por uma pauta que de democrática não tem praticamente nada e, pior, que agrega, mais recentemente, componentes também antipatrióticos.

As imagens de bandeiras dos Estados Unidos e de faixas de apoio a Donald Trump, observadas em quase que todas as cidades nas quais aconteceram os atos, expõem uma faceta bastante contraditória de um movimento que se diz, na sua essência mais clara, patriótico. O verde e amarelo viu-se ofuscado pelas cores de um país que não é o Brasil e, pior, no momento coloca o interesse nacional (brasileiro) em risco a partir de uma política agressiva de taxação dos produtos que aqui produzimos.

A síntese principal dos eventos de domingo, quanto aos seus participantes e, em especial, os organizadores, é que na dúvida entre as prioridades do Brasil e os interesses de Jair Bolsonaro, eles ficam com estes últimos. Uma lógica que vale para as milhares de pessoas que sairam às ruas nesse domingo, mas que não pode (ou deve) ser aplicada para o conjunto absoluto de pessoas até pré-dispostas a apoiar o ex-presidente e a defender seu governo, desde que observado um certo limite. Por exemplo, do próprio bolso.

Como alguém do agronegócio brasileiro se sentiria confortável em subir ao palanque ou fortalecer, com sua presença, um ato que manifestava apoio a um governo estrangeiro que no momento adota uma política que vai de encontro, diretamente, aos seus interesses econômicos?

Com sua estratégia de mobilizações barulhentas o bolsonarismo busca mostrar força, apoio popular etc o que até parece conseguir diante das imagens vistosas que possibilita, ao mesmo tempo em que fragiliza o ex-presidente junto a segmentos que até hoje têm sido fieis a ele.

É bobagem ficar contando se teve mais ou menos gente na comparação com outros momentos, se os eventos floparam ou não, parecendo mais útil, inclusive para que os organiza, discutir a pauta que está sendo levada para tais manifestações. Seria mais simpático ver aquela gente mobilizada, e com entusiasmo igual, defendendo os interesses do Brasil numa hora tão delicada de sua história.

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