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O julgamento no STF e a história diante dos nossos olhos
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O julgamento no STF e a história diante dos nossos olhos

Está sendo rompida uma tradição que nos acompanha como país desde sempre, quase, de priorizar saídas pacificadoras medíocres quando nos vemos colocados diante do desafio de mostrar vitalidade institucional
Julgamentos da ação penal 2668 - Núcleo 1, na primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF)

 (Foto: Antonio Augusto/STF)
Foto: Antonio Augusto/STF Julgamentos da ação penal 2668 - Núcleo 1, na primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF)

O fato histórico, conceitualmente, exige perspectiva para ser entendido como força de registro de um período que merece estar nas páginas que demarcam a trajetória de um País e configuram sua realidade. Portanto, é normal termos dificuldade para dimensionar o momento no qual nos encontramos para montagem do retrato do Brasil a partir dos acontecimentos que mobilizam sua sociedade e apresentam possibilidade de serem lembrados quando as gerações se renovarem no futuro mais distante.

Os historiadores, jornalistas e estudiosos em geral cuidarão, lá adiante, de confirmar, aqui já trato de uma convicção pessoal, que estamos hoje na condição de testemunhas oculares de um período que moldará muita coisa do Brasil que teremos daqui a 100, 200, 300 anos e daí por diante. Da mesma forma, entendo, que os atores diretamente envolvidos nos episódios contemporâneos como protagonistas ganharão um espaço na galeria dos brasileiros que deixam seus nomes marcados nos livros, negativa ou positivamente.

A verdade é que está sendo rompida uma tradição que nos acompanha como país desde sempre, quase, de priorizar saídas pacificadoras, a partir de acordos em geral medíocres, quando nos vemos colocados diante do desafio de mostrar vitalidade institucional. Não se trata de apontar mocinhos e bandidos, jogar peso sobre aspectos políticos, no sentido partidário ou eleitoral, para apontar um lado que só acerta e outro que apenas erra.

O mergulho exige muito mais do que isso e, não tenho dúvida, registra um saldo altamente positivo, entre erros e acertos, em favor dos agentes públicos que se viram diante do desafio de levar adiante um dos processos mais complexos da nossa história. Sob muita pressão, críticas inclusive de gente que merece ser ouvida - embora tenham prevalecido os ataques de baixo nível, alguns até covardes -, os responsáveis diretos pela ação penal, aqui em referência  ao papel que cabia ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal (STF), foram vitais para trazê-lo sem maiores alterações até o estágio no qual se encontra hoje, na fase final de julgamento.

É sério o que houve no Brasil durante o período concentrado dos anos de 2022 e (início de) 2023. As investigações que aconteceram no âmbito da ação penal que envolve a atuação do chamado núcleo central da tentativa de golpe de Estado, que a 1ª turma do STF leva agora ao banco dos réus, colheu provas robustas de que se planejou uma ruptura institucional com presença direta nas discussões do então presidente da República e de parte importante da cúpula militar da época.

Coisa grave o bastante para justificar o que assistimos vir acontecendo agora sob uma atenção popular poucas vezes observada, o que garante também o componente da transparência como valor novo a considerar no ambiente dos tempos atuais.

O futuro de Jair Bolsonaro, Walter Braga Neto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Almir Garnier, Mauro Cid, Anderson Torres e Alexandre Ramagem passa a interessar à história do Brasil. Espera-se que a ministra Carmém Lúcia e os ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino, Luiz Fux e Alexandre de Moraes, este último relator do caso e o mais pressionado deles, cumpram o que lhes cabe no enredo institucional. Não precisa ser condenando, mas tem que ser fazendo justiça.

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