
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Fecham-se os dois primeiros dias do julgamento do núcleo central da tentativa de golpe de Estado observada no Brasil recentemente - numa lista de oito nomes capitaneada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro -, e é possível fazer um balanço positivo do que tem acontecido no ambiente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Olhando-se apenas os fatos ali registrados é possível concluir que há instituições que funcionam no nosso País, mesmo que a alguns metros do prédio que sedia a Corte, no Congresso Nacional, simultaneamente avance uma ideia esdrúxula de aprovar uma lei que anistiará quem sequer apenado ainda foi.
A tendência é mesmo de condenação de Bolsonaro e toda a trupe que o segue no tal núcleo principal do golpismo. Porém, atribuir isso a uma pré-disposição dos juízes do STF seria ignorar o que a investigação, a cargo dos agentes da Polícia Federal e do gabinete do Procurador Geral da República, levantou de provas contundentes do que aconteceu ao longo de 2022 e nos primeiros dias de 2023, culminando com aquele assustador ataque articulado de 8 de janeiro às sedes dos poderes, em Brasília.
Os advogados dos acusados fizeram o possível para apresentarem uma defesa respeitável dos seus clientes. Apesar de nada terem conseguido levar de novo nas argumentações feitas diante dos ministros da 1ª turma, resumindo-se, como linha comum, a colocar em questão a postura da principal testemunha de acusação, que também é colaborador, no caso, o tenente-coronel do Exército, Mauro Cid.
Simplesmente, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro na presidência da República, a presença mais constante ao lado dele, assessor de sua maior confiança pessoal, assumidamente cumpridor de tarefas para além do que o cargo exigia, enfim, não havia como pensar em alguém melhor para contar sobre o que acontecia nos bastidores do núcleo central governista naqueles momentos tensos da política nacional. E as evidências são claras de que suas declarações serviram de ponto de partida, não de chegada, como prevê e determina a lei que premia delação.
Parece meio incompreensível o incômodo que alguns demonstram com o fato de haver uma tendência prévia muito clara à condenação do grupo, em especial do ex-presidente Jair Bolsonaro, que é quem gera comoção popular na lista. O sentimento, que é real, resulta do peso das provas colhidas a cada operação cumprida, expondo um descuido absoluto de quem já se sabia alvo das investigações e mesmo assim deixou ao alcance das autoridades, áudios, vídeos, minutas de documentos de conteúdo grave, mensagens de WhatSapp que indicam uma conversa entre eles que, sim, tinha como foco encontrar uma maneira de manter Bolsonaro como presidente e ignorar o resultado eleitoral de 2022.
A partir de agora caminhamos para fase realmente final do julgamento, encerrada a parte em que acusação e defesas apresentaram seus argumentos, partindo-se no próximo momento para os votos dos cinco ministros que integram a turma à qual competirá oferecer as sentenças.
Fica para a próxima semana, quando o assunto volta à pauta, mas, olhando para o que já aconteceu, o grande destaque da etapa recém encerrada foi a peça do PGR, Paulo Gonet, técnico, preciso e eficiente no aspecto em que amarrou os fatos colhidos e colocou sentido cronológico nas situações que apontam as responsabilidades pelo quadro que pretendia instalar a bagunça política no País.
Foram, como resumo, mais dois dias de reafirmação do vigor das instituições responsáveis por oferecer uma resposta de Estado a uma tentativa clara de golpear nossa democracia.
Não há no horizonte uma perspectiva de pacificação da sociedade pelo resultado que o julgamento apresentar, pelo contrário, mas isso não pode funcionar como inibidor do avanço das forças públicas sobre aqueles que atentaram contra a ordem e quase lançaram o País no caos institucional.
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