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O Senado ouviu as ruas e calou a Câmara
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O Senado ouviu as ruas e calou a Câmara

Seria impossível imaginar forma melhor de mostrar o quanto é importante se garantir o direito da sociedade manifestar sua insatisfação com algo que esteja acontecendo no âmbito político, sem ameaças, sem agressão e de maneira ordeira
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) realiza reunião para analisar a PEC 3/2021, que exige autorização prévia da Câmara dos Deputados ou do Senado para abertura de ação penal contra parlamentares. Na pauta, também, o PL 116/2020 que inclui na Lei Maria da Penha a previsão de que a violência doméstica e familiar contra a mulher também é cometida por meios eletrônicos e o PL 4.809/2024, que aumenta penas de crimes com violência ou grave ameaça. 

Painel eletrônico de votação.

À mesa, presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), conduz reunião. 

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado (Foto: Geraldo Magela)
Foto: Geraldo Magela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) realiza reunião para analisar a PEC 3/2021, que exige autorização prévia da Câmara dos Deputados ou do Senado para abertura de ação penal contra parlamentares. Na pauta, também, o PL 116/2020 que inclui na Lei Maria da Penha a previsão de que a violência doméstica e familiar contra a mulher também é cometida por meios eletrônicos e o PL 4.809/2024, que aumenta penas de crimes com violência ou grave ameaça. Painel eletrônico de votação. À mesa, presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), conduz reunião. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Para quem estava com dificuldade de fazer a leitura exata do que aconteceu domingo passado, em termos de força política demonstrada nas ruas pela sociedade, recomendo que preste atenção no que aconteceu hoje no Senado. Mais especificamente, na Comissão de Constituição e Justiça.

O fato de o arquivamento da PEC da Blindagem ter sido decidida pela unanimidade dos 26 senadores que participaram da votação mostra que o recado chegou aos seus destinatários. Chegou e parece ter sido muito bem compreendido.

Uma mudança espantosa, considerando-se que uma semana atrás, apenas, a matéria era aprovada no plenário da Câmara com mais de 300 votos a favor e uma minoria quase sem voz tentando barrá-la. O que aconteceu desde então é que a turma que daqui a pouco, em 2026, terá o poder real de decidir quais deles merecem permanecer entendeu ser hora de expressar sua contrariedade com o que acontecia e o fez de maneira impressionante.

Nem é o caso de dizer que foi uma demonstração de força da esquerda, embora seja o espectro que mais tem festejado a mudança inesperada de vento político. Deu-se um despertar cívico que nem sei se os conceitos ideológicos, com seus limites e certezas, dão conta de explicar. É algo que vai muito além da cansativa polarização dos tempos recentes.

Talvez tenha sido, meio que sem querer, uma outra forma de reafirmar a importância e a força da democracia, que tem no respeito à voz popular sua baliza principal. Os senadores tiveram oportunidade, três dias de multidões saírem às ruas motivadas pelo interesse de mostrar rejeição a matérias equivocadamente aprovadas por deputados, de corrigirem seus colegas de Congresso. E o fizeram.

Seria impossível imaginar forma melhor de mostrar o quanto é importante se garantir o direito da sociedade manifestar sua insatisfação com algo que esteja acontecendo no âmbito político, sem ameaças, sem agressão a agentes públicos, de maneira ordeira e, conforme ficou expressamente demonstrado no domingo, sem ter o ódio como motor principal. Apenas fazendo uso do direito de se expressar, algo garantido pelo regime livre em que nos encontramos, a despeito das cantilenas que teimam em apontar o contrário.

O recado foi dado, foi compreendido e, espera-se que a lição tenha ficado.

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