Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Fortaleza,
28 de dezembro de 2025
Querida Política, permita o tratamento mais íntimo e carinhoso entre nós depois de tantos anos de convivência, estamos a apenas três dias do fim de mais um ano. De novo, chegamos à conclusão de um tempo marcado por desafios, dificuldades e uma necessidade constante de o País se provar forte, como democracia, a partir do funcionamento das instituições que a sustentam. O saldo final até é positivo, segundo acho, mas poderíamos chegar a ele com menos dor.
Escolhi este instrumento tradicional, dispondo de tantas formas novas (linguagens idem) de comunicação, para reforçar um meio cuja importância vem da época em que tudo começou, na forma de ciência ou filosofia, pela sabedoria superior de pensadores do tamanho de Platão ou Aristóteles. Até peço desculpas, já, por misturar personagens de tal envergadura com um ambiente em que pontuam figuras do calibre de um Hugo Motta ou de um Davi Alcolumbre.
Falava do ano difícil que tivemos, em 2025, a partir de um quadro de disputa política que nos persegue faz algum tempo, nem sempre a partir de ações que se pode entender como naturais de quem é governo ou de quem faz parte da oposição nos conceitos que formam a lógica da disputa de poder que está na origem da atividade que os filósofos citados anteriormente ajudaram a desenhar e que até hoje são fundamentais quando se busca explicação para determinadas coisas.
Aqui, no Ceará, e mais especificamente em Fortaleza, deu-se o primeiro ano de gestão de Evandro Leitão (PT) como prefeito da nossa capital, principal cidade do Estado e uma das maiores metrópoles do País. Com alguma experiência acumulada na política, certamente ele já sabia que uma oposição forte estaria à sua espera e não haveria um ambiente calmo para a travessia, em especial, do seu primeiro momento.
Pode-se dizer, diante disso, que o petista atravessou bem os 12 primeiros meses de um total de 48 previstos para o mandato. O saldo principal que deixa é a aprovação do Plano Diretor de Fortaleza, claro que considerando ainda o fato de terem ficado dúvidas que incomodaram até aliados. Por exemplo, em relação à política ambiental existem críticas de que registraram-se retrocessos na versão final aprovada pelos vereadores com apoio da prefeitura, embora Leitão argumente, no sentido contrário, claro, falando de um ampliação nas áreas da cidade sob proteção definida em lei.
O prefeito de Fortaleza, e todos os demais eleitos com ele em 2024 País afora, tem ainda 75% do tempo total de mandato a cumprir, índice inversamente proporcional àquele que espera o governador Elmano de Freitas, também do PT e que teve um ano mais difícil neste 2025. Melhorar o quadro na segurança pública seguiu sendo seu principal desafio diante de aspectos peculiares que apresenta a atuação no Ceará de facções criminosas, um problema nacional que cá assume alguns contornos preocupantemente próprios e mais graves. Certamente, um obstáculo forte que o acompanhará pelo período que resta no cargo no atual mandato e que tende a ser explorado com intensidade maior no processo eleitoral que dominará o debate entre agosto e outubro, se considerado apenas o calendário oficial.
É possível dizer que a política cearense atravessou o ano sem escândalos de grandes proporções. Denúncias aconteceram, há muita coisa sendo apurada hoje nas instâncias devidas, mas sem um desfecho que tenha deixado um trauma para os envolvidos no período, desconsiderados os casos de prefeitos que perderam os mandatos pelo interior, nenhum deles da, chamada, prateleira de cima. Deste ponto, quem entra 2026 com razões para estar preocupado é o deputado federal Júnior Mano (PSB) que dividiu seu tempo nos últimos meses entre a articulação para viabilizar uma candidatura ao Senado e a defesa de inocência diante das sérias acusações de que comanda, no Ceará, um esquema de manipulação de verbas orçamentárias federais.
Quando a gente vai para o cenário nacional é que a coisa ganha uma complicação extra se houver algum esforço de analisar a política a partir da ideia que havia na cabeça de Platão e Aristóteles. Foi um ano marcado por novas demonstrações de intolerância, em que a convivência entre contrários, por exemplo, deixou de ser a marca principal dos espaços legislativos. Espalharam-se casos por Câmara de Vereadores, Assembleias estaduais e no Congresso de trocas de agressões físicas, de ataques de uns contra os outros motivados simplesmente por visões de mundo diferentes, ideologias divergentes ou o que valha.
No plano brasileiro, o que acabou sendo a marca principal do ano, para a coluna, foi a capacidade que o País demonstrou de defender sua democracia através da conclusão de julgamento das figuras principais da tentativa de golpe de Estado que aconteceu entre 2022 e 2023. Uma lista poderosa de nomes, que incluía, por exemplo, um ex-presidente da República e vários oficiais de alta patente.
Lembrando que nos episódios históricos anteriores falhamos na necessidade de incluir militares, nas situações em que eles faziam parte do problema, na hora de ir atrás de punir quem tinha responsabilidades a responder. O que acontece hoje contraria essa lógica, demonstrando avanço importante na forma como lidamos com a situação.
De resto, o ambiente continua polarizado, há os que odeiam o Lula e os que adoram o Bolsonaro, e vice-versa, indicando que caminhamos para mais uma disputa com dois lados definidos, muito embora seja possível cravar, a essa altura, que o campo ocupado pelo bolsonarismo não estará liderado pelo seu principal ator, que vem a ser o ex-presidente citado anteriormente como bom exemplo - por ter sido condenado e estar preso atualmente - de que agora soubemos chegar ao andar de cima na hora de punir quem atentou contra o ambiente democrático e as instituições.
Em meio a excessos, de gente localizada em todos os poderes da República, pode-se dizer que atravessamos bem um ano difícil, consideradas também as ameaças que vieram do exterior, especialmente dos Estados Unidos. É bom advertir que não se aponta para um 2026 diferente nesse sentido e, ao contrário, a tendência é de agravamento com o ingrediente eleitoral que se soma à temporada que, no calendário, começa oficialmente na próxima quinta-feira.
O que talvez precisemos discutir, olhando pra o que aconteceu nos últimos 11 meses e 28 dias, é se a democracia está preparada para continuar lidando com a política verde e amarela, a partir de suas características e, em especial, idiossincrasias . Está? Volto a escrevê-la com nova tentativa de resposta daqui a um ano.
Feliz 2026
Três personagens da política cearense fecham o ano de 2025 em alta. Por razões diversas, localizadas em campos diferentes e sob perspectivas que não parecem complementares. Ei-las:
Camilo Santana
Destaca-se no ministério do governo Lula, à frente da poderosa pasta da Educação, avançou algumas casas como liderança de peso nacional e, já tendo decidido que se afasta do cargo em abril para se livrar das amarras legais, é um trunfo importante que o PT mantém para o caso de seu projeto no Ceará se vir ameaçado pelas circunstâncias eleitorais.
Ciro Gomes
Parecia um nome fora do radar da política cearense, mas, é inegável, sua performance nas pesquisas recém-divulgadas, liderando hoje alguns dos cenários, entusiasma segmentos que sonham em tirar do poder quem hoje hoje está à frente do governo estadual. Até bolsonaristas indicam disposição para apoiá-lo, embora exista ainda muito vídeo com agressões ao ex-presidente por apagar da memória do grupo até que isso se materialize. Se é que acontecerá.
Cid Gomes
Fecha a temporada política onde, aparentemente, gostaria mesmo de estar. A preço de hoje não é candidato à reeleição como senador, pelo PSB, mas para muita gente tem peso para definir a briga pelo governo do Ceará. Fecha o ano reiterando que seu candidato é Elmano de Freitas, mas segue balançando quando vem ao debate a ideia de entrada do irmão Ciro na briga pelo governo. Resumindo: pode não decidir a coisa sozinho, mas tem força para impulsionar o lado onde decidir que estará.
Para três personagens importantes da política cearense o ano de 2026 chega dividindo dúvidas e certezas. São eles:
Elmano de Freitas
É candidato à reeleição, demonstra-se competitivo nas pesquisas, mas tem duas sombras incomodando-o: uma de fora, pelo surgimento do nome de Ciro Gomes como alternativa da oposição; e, de dentro, por causa do quadro de favoritismo que se abriria em favor de Camilo Santana, caso fosse ele o nome governista. Não é rejeitado e, a preço de hoje, tende mesmo a liderar o palanque oficial, embora precise administrar tudo isso com cuidado
Capitão Wagner
Perdeu força e espaço com a performance de 2024 em Fortaleza, amargando uma inesperada e frustrante quarta posição. Por isso, inteligentemente, age com certa discrição, embora seja importante para a unidade oposicionista sua disposição inicial de aceitar um armistício com Ciro Gomes em nome de um projeto maior para 2026. A questão é que o União Brasil, que preside no Ceará, pode acabar nos braços do governo pela ação de um grupo próximo ao Abolição junto à direção nacional. Este sim, um "problemão"
Roberto Cláudio
É uma das vozes de oposição ao governismo cearense mais fortes desde quando rompeu com o grupo, em 2022. Até o surgimento do nome de Ciro Gomes era dado como a melhor opção para comandar o palanque ano que vem. Segue colocado como alternativa, anuncia-se publicamente disposto a disputar a principal cadeira política do Estado, mas abre o ano com o desafio de demonstrar viabilidade eleitoral, especialmente no Interior.
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