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Os irmãos Bolsonaro e o comportamento que vem do berço
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Os irmãos Bolsonaro e o comportamento que vem do berço

Atitudes do vereador Carlos Bolsonaro e do deputado Eduardo Bolsonaro, filhos do presidente, expõem a visão errada do que seja democracia e mostra o tamanho do risco a que o Brasil está submetido diante do momento delicado
Eduardo Bolsonaro posta foto ao lado do pai em hospital (Foto: Reprodução/Instagram)
Foto: Reprodução/Instagram Eduardo Bolsonaro posta foto ao lado do pai em hospital

Falta noção aos filhos do atual presidente da República, pelo que demonstram episódios políticos muito recentes envolvendo dois deles. Ambos maiores de idade e exercendo hoje mandatos originários das urnas, conquistados pelo voto popular, um como vereador pelo Rio de Janeiro, outro deputado federal por São Paulo. Este último, inclusive, registrando-se o histórico feito de resultar da maior votação já obtida por um candidato à Câmara Federal em todo o País, coisa para mais de 1,8 milhão.

Carlos Bolsonaro, o vereador carioca, e Eduardo Bolsonaro, o super-votado deputado federal paulista, demonstram falta absoluta de maturidade para entenderem o tamanho simbólico que cada um deles tem diante da circunstância histórica, para além dos mandatos que exercem, filhos que são de Jair Bolsonaro. Infelizmente, o que demonstram é o contrário, considerando as situações nas quais se envolveram nas últimas horas.

Carlos foi às redes sociais reclamar que "pelas vias democráticas" o governo do seu pai não conseguirá fazer as transformações de que precisa o País "na velocidade" que ele almeja. Ok, 02, diante da constatação óbvia de que aceitar o contraditório e buscar convencer com argumentos dá mais trabalho do que simplesmente impor a própria vontade, deve-se recorrer a quê? As "vias antidemocráticas" seriam a alternativa, aplicando-e a antítese mais clara ao termo que o senhor próprio utiliza?

Já Eduardo, ei-lo em familiar registro nas redes sociais de uma visita ao pai no hospital ostentando na cintura uma vistosa, e assustadora, pistola automática, mesmo imaginando-se que tenha chegado ao quarto depois de passar por um rigoroso cinturão de segurança ao qual faz jus todo Chefe de Estado do mundo. Deus meu, 03, é muita disposição de oferecer o mau exemplo e de expor o País que o pai governa a um vexame de escala mundial!

O contrassenso maior é que tudo isso parta, exatamente, de quem acusa os últimos governos de pouco cuidado com valores democráticos, embora, sejamos justos, não se tenha para referendar tal discurso, contado desde Sarney até Temer, passando por Collor, FHC, Lula e Dilma, um exemplo sequer parecido de desprezo à democracia saindo de vozes tão próximas àquele que representa o poder do momento.

O que amplia o drama, na perspectiva de quem espera sempre que a democracia vença, é que muito do que os irmãos Bolsonaro apregoam com a mais absoluta naturalidade baseia-se no fato de terem o pai como exemplo de político e de política. Recordemos que, recentemente, o presidente brasileiro atacou a alta comissária da ONU, Michele Bachelett, alegando que o assassinato do pai dela impediu o Chile de cair num regime ditatorial, "virar uma nova Cuba", para reproduzir com melhor precisão os termos do dirigente.

Detalhe importante: o almirante Alberto Bachelet morreu defendendo a democracia do seu país como parte da resistência a um golpe de Estado, que se consolidou, instituindo a sanguinária era Pinochet. Enfim, aumenta nossa preocupação o fato de Carlos e Eduardo exporem uma visão que, certamente, trazem do berço.

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