Logo O POVO+
Ciro Gomes fala, Fernando Haddad cala e Lula está preso
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ciro Gomes fala, Fernando Haddad cala e Lula está preso

Tipo Análise

A semana foi de Ciro Gomes, que agitou a esquerda com pelo menos duas entrevistas que fizeram barulho: uma na CBN ao jornalista Kennedy Alencar e outra à BBC Brasil. Em seu jeito politicamente atabalhoado de ser, sem filtros e sem freio, o candidato do PDT à presidência da República no ano de 2018, que terminou em 3º lugar com 12% dos votos, demonstra, de novo, que não absorveu o golpe da derrota. Insiste com a tese de que era o único na esquerda capaz de vencer Jair Bolsonaro no segundo turno, mas não consegue explicar como, assim sendo, sequer foi capaz de estar à frente de Fernando Haddad, do PT, na primeira etapa. Ao contrário, se posicionou 17 pontos abaixo dele, que passou de fase com 29% dos votos, apesar de ser, na sua própria definição, uma "fraude".

Ciro, de um discurso reconhecidamente afiado, um orador competente, sempre apresentou como problema nas suas tentativas de voos nacionais, nas três candidaturas presidenciais, a tendência ao isolamento e a pouca paciência política para conduzir grandes costuras. É comum que ele erre o foco e depois pague o preço disso, situação que pode estar se repetindo em perspectiva. Até hoje parece inexplicável que o pedetista, fora do segundo turno, tenha se recusado a oferecer qualquer gesto de apoio a Haddad, simbólico que fosse. Não é entrar na campanha, virar coordenador, sair por aí levantando o braço do petista por todo canto etc mas, simplesmente, por exemplo, gravar um vídeo anunciando seu voto. Não fez.

Um outro equívoco que parece manifesto com força nas entrevistas de Ciro na semana, o que tem gerado as maiores repercussões, é a decisão de transformar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no seu alvo preferencial. Ele "está preso", como diria exclamativamente o irmão Cid, com chances raras de falar e precisando priorizar outras questões quando a oportunidade aparece, o que aproxima o gesto de Ciro Gomes de uma covardia. O fator que mantém o pedetista irritado com Lula, de novo remetendo a 2018, foi a capacidade de articulação que ele demonstrou, da cadeia, ao superá-lo numa conversa com outros partidos para formação de uma aliança eleitoral. O mais notório deles foi o PSB.

Por uma razão que não consegue explicar, nem teria como, Ciro acusa o PT de organizar uma fraude eleitoral ao levar a candidatura de Lula ao extremo do calendário, sabendo que ela não vingaria. Com um detalhe que prefere relativizar, embora determinante à estratégia: até ser sacado da disputa, considerado inelegível pela justiça, e mesmo já estando preso, o petista liderava as pesquisas. Todas.

O que ele queria, portanto, é que o partido abrisse mão desse capital político-eleitoral gigantesco para apoiá-lo e o que faz agora, com o comportamento agressivo e quase grosseiro que adota com o próprio Lula e com Haddad, é apenas oferecer mais combustível àqueles que o consideram inconfiável para uma aliança. O problema não é necessariamente o que diz, especialmente na parte de suas críticas que não contém ataques pessoais e linguagem depreciativa, mas a maneira que escolhe para fazê-lo.

Palanques para os vereadores

O DEM, na semana, anunciou que terá candidato, o que dá uma ideia do que teremos pela frente. É, para relembrar aos desavisados, o partido ao qual está filiado o atual vice de Roberto Cláudio, Moroni Torgan, que reagiu com o silêncio à declaração do presidente da executiva, Chiquinho Feitosa. A questão, porém, é que o fim das coligações proporcionais pressiona por palanques próprios e será fator determinante para esse novo cenário.

A reforma dos advogados

Debate interessante acontece no próximo dia 20, sexta-feira, em Fortaleza. A Comissão de Estudos Políticos da OAB nacional realiza, em sua sede local, das 9 às 13 horas, uma discussão sobre "reforma política", talvez, uma das necessidades mais urgentes para o País no momento. Vai ser interessante cruzar as impressões de muita gente boa da área, a maioria aqui do Ceará, sobre o quadro que temos e o que precisa mudar. Com certa pressa em alguns casos.

Primeiro time, mais o reforço

Do time cearense, André Costa (que é diretor da Comissão Especial de Reforma Política da OAB nacional), Djalma Pinto, Juliana Diniz, Isaac Andrade e Martônio Montalverne, gente que pensa plural, sabe bem da teoria mas que também conhece de sua aplicação prática, com todos os efeitos e defeitos consequentes. O reforço nacional é de peso: Luciana Nepomuceno, presidente da tal Comissão Especial da OAB Nacional e ex-juíza do TRE de Minas Gerais.

O nome estava na mesa

Como é da tradição petista, a costura do acordo que levou à chapa de consenso Guilherme Sampaio/Liliane Araújo para executiva do PT em Fortaleza teve bastidores agitados. Uma conversa inicial adiantada pretendia colocar no pacote o anúncio antecipado da pré-candidatura da ex-prefeita Luizianne Lins, hoje deputada federal, à sucessão de Roberto Cláudio. Um "grito" do deputado estadual Acrísio Sena, padrinho de Liliane, atravessou a história.

O deputado e a deputada

A tese da candidatura própria é consenso no PT, o que já parece algo inédito. O que se quer é, já agora, projetar cenários de segundo turno, seja com a perspectiva de estar na disputa, seja, em caso contrário, definindo os apoios prioritários. No politiquês claro, Acrísio, que é a voz do governador Camilo Santana no debate, quer amarrar desde o começo uma aliança com o grupo do prefeito Roberto Cláudio para o futuro. Para esse tipo de acordo, claro, Luizianne é um óbice.

BATE-PRONTO COM ANDRÉ FIGUEIREDO

O deputado federal André Figueiredo, líder da bancada do PDT na Câmara, é um dos oito signatários do pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará as conversas entre integrantes da operação Lava Jato tornadas públicas pelo site The Intercept e vários parceiros. Ele falou à coluna sobre a iniciativa, objetivos, pressões e o apoio expressivo da bancada do Ceará:

O POVO - Por que propor a CPI da Vaza Jato?

André Figueiredo - Nós temos a preocupação de que todas as instituições no Brasil possam ser depuradas e os poderes terem suas atribuições respeitadas por seus integrantes. O que nós vimos nessa troca de conversas entre um juiz e o Ministério Público é absolutamente inaceitável dentro de um Estado Democrático de Direito. A CPI se propõe a investigar fatos que, no nosso entendimento, são muito graves e, se queremos moralidade na vida do povo brasileiro, não podemos admitir que o poder Judiciário, sem entrar no mérito se é justa ou não a causa que estão lidando, mas deixaria todo cidadão extremamente vulnerável existindo esses conluios entre integrantes do Judiciário e do Ministério Público, duas esferas de poder que devem ser compostas, e são na maioria dos casos, por pessoas da mais alta respeitabilidade.

O POVO - Como entende algumas críticas de que é uma reação da política à operação Lava Jato?

André Figueiredo - Dizer que a CPI é contra a Lava Jato é um verdadeiro absurdo. Até acho admissível que alguns que compreendem a importância de termos um Brasil passado a limpo em todos os setores tenham uma visão deturpada, mas há pessoas que sabem que isso não tem nada a ver com o combate à corrupção. Muito pelo contrário, o que queremos é depurar todas as instâncias do poder público brasileiro e não podemos admitir que todo esse clima de beligerância que ainda existe, principalmente entre petistas e bolsonaristas, perpasse para as instituições e se acabe, por isso, admitindo ilegalidades. O que queremos é o combate a todo tipo de corrupção, em todos os setores, não abrimos mão disso, e por isso é que em nome do PDT, que não tem ninguém investigado na Lava Jato, temos a credibilidade e a legitimidade para sermos um dos proponentes dessa Comissão Parlamentar de Inquérito.

O POVO - O apoio de 13 deputados cearenses à CPI, mais de metade da bancada, surpreendeu o senhor?

André Figueiredo - O apoio dos parlamentares da bancada do Ceará é resultado de um trabalho de convencimento. Pegar assinatura para uma CPI como essa, realmente, não é tarefa das mais fáceis, até pelo fato de muitos terem medo de retaliações que possam vir através de redes sociais por conta desse clima de profundo antagonismo que há hoje dentro das famílias e no povo brasileiro de maneira geral. O que queremos, e a CPI em sendo instalada vai mostrar que o nosso interesse é de passar o Brasil a limpo. Temos toda a serenidade, toda tranquilidade para não fazermos disso palanque eleitoral para nenhum setor. Precisamos, sim, evitar que conluios do tipo possam se tornar hábito e temos que combater todo tipo de má conduta dentro do serviço público. Foi um convencimento individual de cada um dos parlamentares da bancada cearense, compreendendo-se a importância e permitindo que tivéssemos esse número expressivo de assinaturas.

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?