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O novo ataque a Glenn Greenwald e a defesa do jornalismo
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O novo ataque a Glenn Greenwald e a defesa do jornalismo

Glenn Greenwald (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Glenn Greenwald

O ato de praticar jornalismo nunca exigiu tanta coragem quanto acontece hoje no Brasil. É o que expõe da maneira mais crua o episódio envolvendo Glenn Greenwald, denunciado pelo Ministério Público Federal no caso da invasão aos telefones de integrantes da Lava Jato, num quadro em que aparece, simplesmente, mostrando-se zeloso do papel que a circunstância lhe exigia de buscar proteger a fonte com a qual estava se relacionando dentro do processo de apuração de uma notícia.

O procurador da República Wellington Divino se obriga a malabarismos jurídicos para encaminhar uma conclusão final na sua peça acusatória em conflito com o que os diálogos colhidos e apresentados permitiriam. O descompasso é gritante, parecendo espantoso que nos sintamos inseguros a partir do comportamento adotado por alguém ligado a uma instância à qual cabe proteger regramentos constitucionais caros a uma democracia, como o direito garantido à imprensa de agir com liberdade, alinhado à ideia da responsabilidade, pois há um equívoco de se entender que aplicamos este valor em nossa defesa de uma maneira absoluta. Claro que há limites, mas parece bem evidente que eles foram mantidos a razoável distância no comportamento ético quase irretocável adotado por Glenn na relação com sua fonte exposta nos diálogos.

É uma situação que assusta? Sim, assusta. Mas, amedronta ou paralisa? Não, nem amedronta e nem paralisa. Ao jornalismo, diante de um quadro de tal gravidade, resta apostar ainda mais no que é de sua essência, investigando mais, cobrando mais, informando mais e, com isso, ampliando os incômodos e desconfortos. E, claro, gritando contra os abusos, especialmente, como no caso em questão, quando partem de quem se espera zelo na defesa do Estado Democrático de Direito, caso, em tese, do Procurador da República que assina a denúncia contra o jornalista Glenn Greewald.

A correção do equívoco jurídico e institucional cometido pelo representante do Ministério Público Federal será feita pelas forças reguladoras do sistema judicial do País, é certo, mas ele deixará estragos que levarão a democracia brasileira a recuar algumas casas. O jornalismo, com seus fundamentos mantidos de pé, será fundamental para que recuperemos, no tempo mais curto possível, o espaço que está sendo perdido.

Foto do Guálter George

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