Quantos Jair Bolsonaro há dentro de um só Jair Bolsonaro? A pergunta vale, diante do que aconteceu nas últimas horas a partir de um debate que ele mesmo levantou, sacudindo o cenário da política e do seu governo, internamente falando, e que agora o próprio presidente tenta enterrar. O ministério que ontem anunciava que estava pensando seriamente em recriar, para cuidar da Segurança Pública, no discurso que passou a adotar hoje tem chance "zero" de acontecer.

Como um presidente pode ser assim tão instável? Ou, desorganizado na sua estratégia de gerir um País? O que o episódio acaba expondo, contra ele, é a pouca (ou nenhuma) capacidade de resistir a pressões determinadas, inclusive aquelas que já se poderia esperar que aconteceria. Ou será que passou pela cabeça de Bolsonaro que a reação de Sergio Moro e de seus apaixonados defensores seria de aceitar passivamente o desmantelamento do ministério da Justiça, tirando dele exatamente a parte institucional que lhe tem permitido maior visibilidade?

O recuo rápido e objetivo, em relação a uma ideia que um dia atrás parecia fruto de alguma convicção própria, reforçada por documento de secretários estaduais da área que sugeria a recriação do ministério, indica que o presidente Bolsonaro enfrenta o dilema do governante que nomeia um assessor com força pessoal suficiente para, quando necessário, peitá-lo. É o que aconteceu, de maneira explícita.

Na disputa velada das últimas horas entre os dois, ficou claro, Sergio Moro apresentou-se mais forte politicamente do que Jair Bolsonaro, mesmo que isto indique uma subversão de hierarquia em relação aos postos que os dois ocupam na atual estrutura de poder do País. O presidente desistiu de uma ideia porque o ministro mandou dizer, por caminhos diversos, que não gostou.