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Autocríticas, "urubus" e uma crise histórica
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Autocríticas, "urubus" e uma crise histórica

Tipo Opinião
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Há muitas autocríticas que precisaremos fazer algum dia nós, os brasileiros, no exercício de tentar entender como permitimos que o quadro político chegasse ao nível de degradação que temos em pleno ano de 2020. Para cada um haverá uma responsabilidade maior ou menor a atribuir pela situação, que tem sido responsável por um cenário ainda mais desalentador na nossa perspectiva por causa da combinação temporal com o desafio histórico que nos está posto de encarar a crise gerada pelo aparecimento de um vírus que há sido devastador na sua capacidade de paralisar cidades e países, espalhando medo, doenças, mortes e desesperança.

Os jornalistas, em especial, precisaremos fazer a nossa auto-reflexão com grande esforço de entender o tamanho do peso que temos na construção de um ambiente político carregado e cheio de ódios como é este que temos no Brasil. Há algo de errado, por exemplo, quando se transforma em escândalo, do ponto de vista da abordagem por parte da imprensa, uma simplória troca de mensagens via Twitter, até meio indireta, entre o governador de São Paulo, tucano João Doria, e o petista Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República. Correu-se a fazer cálculo político, de perdas e danos, pela iniciativa de ambos de colocar um pouco de lado o interesse de cada um de destruir o outro e dar prioridade ao que é realmente prioritário agora, que é superar uma crise sanitária que não pede carteirinha partidária ou ideológica para ir definindo suas vítimas.

Aos fatos, sem literalidade: Lula elogiou os governadores pelo que têm feito na defesa da população diante do avanço da Covid-19, na avaliação dele compensando falhas e omissões da gestão federal do presidente Jair Bolsonaro; em reação, Doria utilizou-se da mesma rede social para registrar que o momento pede que todos esqueçam divergências eventuais para focar no esforço de combate ao inimigo comum. Tudo de público, transparência plena, sem reuniões às escondidas, encontros secretos ou coisa que valha.

Qual a leitura que prevaleceu em parte do noticiário? De que era erro político, que um dos lados pagaria preço alto nas urnas, que aquilo não agregaria uma vida salva a mais no combate ao novo Coronavírus e outras mil observações críticas negativas e absolutamente dissociadas do principal do fato jornalístico, relevante exatamente no aspecto em que a política não se fez prevalecer com seu viés mais rebaixado, cercando-se de milhões de cálculos para concluir sobre a conveniência desta ou daquela ação. Uma linha traçada para inibir gestos de aproximação entre diferentes, quando o interesse de todos deve ser por incentivá-los, em nome de uma luta maior que pede toda conciliação possível. Mesmo temporária, mesmo curta.

Um episódio mais exemplar ainda diante de uma situação em que o País está entregue a um presidente da República que, até agora, não adotou uma só atitude no caminho de colocar toda a população, ou pelo menos a maioria dela, dentro de um esforço de união. Porém, o farto e distorcido noticiário sobre os comportamentos de Lula e Doria no episódio, ao meu ver, até ajuda a alimentar um roteiro que termina até fortalecendo na cabeça de Jair Bolsonaro a ideia de que apostar na divisão e na recusa do do diálogo com o diferente, sua opção, é o mais correto.

AS LÁGRIMAS DE CIRO

Faz sucesso no debate político um vídeo no qual Ciro Gomes chora durante uma live do final de março, até soluçando em trechos determinados, por imaginar os efeitos devastadores que pode causar a chegada do novo Coronavírus às comunidades mais pobres do País. Como é normal acontecer no mundo atual, com muito debate na Internet sobre a sinceridade do gesto.

A VALENTIA DE UM CHORO

Há vários estudos nas redes sociais sobre a qualidade do choro, alguns apontando a falta de lágrimas, outros verificando o grau de verdade no vídeo a partir de uma análise da linguagem corporal etc. No final das contas, um gesto humano desse nível pode cair bem para uma figura pública que marcou sua imagem, até hoje, por episódios de descontrole mais vinculados ao lado da violência.

AS INTENÇÕES E OS LIMITES

Há uma corrida do bem acontecendo na Assembleia, que envolve deputados de todos os partidos, praticamente, para ver quem consegue mais benefícios para os cidadãos (e eleitores) na travessia da crise. É isenção, perdão, prorrogação, para todo lado, esperando-se apenas que em respeito ao limite que o Estado e os credores em geral conseguem suportar.

(Foto: ARQUIVO)

O CALENDÁRIO PETISTA

O PT formalizaria hoje a pré-candidatura de Luizianne Lins à prefeitura de Fortaleza, não fosse a desorganização completa imposta ao calendário pela pandemia. Presidente da executiva municipal, o vereador Guilherme Sampaio aguarda instruções do direção nacional, que já consultou, para saber como será o ritmo das decisões a partir de agora. A ideia de apoiar nome de outro partido está oficialmente arquivada.

O FATOR CAMILO E AS DÚVIDAS

Uma questão que a cúpula petista precisará tratar mais à frente é o papel que espera do governador Camilo Santana, seu mais importante filiado no Ceará, e aliado firme dos pedetistas Roberto Cláudio e Cid Gomes, que estarão em outro palanque, certamente. Camilo, que a preço de hoje terá peso para influir muito nas próximas decisões do eleitor, disse algo, silenciosamente, através da filiação de Élcio Batista ao PSB.

INVESTIGAÇÃO EM CURSO

Em meio à crise, e à profusão de más notícias dela advindas, o deputado federal Heitor Freire comemora decisão do Ministério Público Eleitoral de dar parecer favorável pelo seguimento na justiça de ação de sua autoria na qual pede a cassação do registro do Partido dos Trabalhadores (PT). Como motivo, o registro de dinheiro internacional não contabilizado no caixa da legenda.

Élcio Batista,  secretário da Casa Civil do governo Camilo
Élcio Batista, secretário da Casa Civil do governo Camilo (Foto: MAURI MELO)

Bate Pronto

Um dos movimentos mais esperados da janela partidária de 2020, no Ceará, consolidou-se no final da sexta-feira: o secretário-chefe da Casa Civil, Élcio Batista, filiou-se ao PSB. Mais próximo auxiliar do governador Camilo Santana, e apesar de ser um dos nomes da linha de frente do combate à crise do novo Coronavírus, ele torna-se uma opção legal de candidatura já na próxima eleição, caso queira estrear seu nome numa chapa. Élcio respondeu a três perguntas da coluna:

O POVO - Por que o PSB?

Élcio Batista - Pela minha experiência teórica e prática na sistema universitário e na gestão pública e privada, o presidente estadual, Denis Bezerra, e o presidente Municipal de Fortaleza, Léo Couto, me convidaram para contribuir com a organização, o planejamento e o desenvolvimento do PSB. Me sinto honrado, por um lado, e com responsabilidade, por outro. Projetos e desafios nos movem na vida e, neste momento, há muito a fazer para superar os processos de corrosão da democracia, da economia e da vida compartilhada.

O POVO - Agora filiado, o senhor será candidato em 2020?

Élcio Batista - Eleição é projeto, compromisso e contexto. Mas o momento não é apropriado para esta discussão, pois temos de estar com o foco na saúde e economia.

O POVO - Qual o tamanho do desafio que a crise do coronavírus imporá aos políticos e aos partidos para o próximo processo eleitoral?

Élcio Batista - Estamos numa era de transformações aceleradas, que geram muitas incertezas, medo e insegurança. As instituições sociais: políticas, econômicas, culturais e científicas precisarão ter soluções para estas questões que afligem indivíduos e grupos.

Foto do Guálter George

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