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A HISTÓRIA QUE A HISTÓRIA VAI CONTAR
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A HISTÓRIA QUE A HISTÓRIA VAI CONTAR

É doloroso que encontre espaço tão destacado no debate político nacional um discurso que minimize, para o momento de combate a uma pandemia, a importância de medidas que mantenham as pessoas em suas casas. Há aspectos muito próprios à nossa realidade que, de fato, poderiam ser discutidos dentro de um ambiente de maior serenidade, como o drama que a alternativa extrema impõe às famílias de áreas mais pobres, onde até dezenas de pessoas residem sob o mesmo teto às vezes, inviabilizando ali a ideia de distanciamento social. Seria uma discussão necessária, desde que, reforçando, houvesse um clima sereno a envolvê-la e o objetivo fosse mesmo, com honestidade, a busca de soluções.

O quadro oferece um papel central ao presidente da República, líder natural de um País em momentos cruciais, como o que vivemos. Nesse sentido, infelizmente, abre-se um enorme vácuo institucional diante de nós, considerando a forma como age Jair Bolsonaro, desde o primeiro momento, numa postura negacionista, valendo-se de suposições, opiniões inconclusivas e até palpites para se confrontar com ciência, pesquisa e, por vezes, inclusive a realidade. Sequer os números reais e incontestáveis de infectados e mortos, mesmo desconsiderado aqui as projeções assustadoras, têm sido capazes de levar o principal comandante político brasileiro a uma reflexão sobre o que espera dele a perspectiva histórica que o encontrou no cargo.

Pior ainda é constatar, na fala dos que se posicionam na linha de criticar as necessárias medidas de isolamento e distanciamento sociais corretamente adotadas por prefeitos e governadores, uma dose boa de má fé. Não se trata apenas de ignorância. O inacreditável ministro da Educação, Abraham Weintraub, com milhares de famílias brasileiras já chorando perdas de entes queridos para o vírus, outras milhares sofrendo com parentes e amigos que lutam em UTIs e leitos para permanecerem vivas, quase que abre o sorriso para questionar "onde está a pilha de mortos" das quais se tem falado para justificar as ações mais extremas adotadas. Qual seria o número que este cidadão, que também é voz do governo quando diz absurdos do tipo, considera que nos garante uma senha para começarmos a chorar, nos preocupar e agir? Outra pergunta: sem a quarentena, de quantas vítimas mais estaríamos falando nos dias de hoje?

São tempos difíceis para o conjunto da humanidade, afetada quase sem exceção por uma pandemia que deixará sequelas importantes. Porém, um período ainda mais duro para aquelas nações que tiveram a infelicidade de, diante de uma crise inevitável, vislumbrar na força política naturalmente apta a impulsionar uma grande união nacional a opção por um outro caminho e a busca quase diária por dividir a sociedade, com o objetivo flagrante de escapar das próprias responsabilidades.

A má notícia, para ele, é que sua estratégia está fadada ao fracasso, porque, de novo, a realidade se imporá.

 

NO PRÓPRIO BOLSO

Exemplos do tipo se espalham pelo Estado e, em verdade, valem mais no aspecto simbólico do que pelo valor real. O prefeito de São Benedito, Gadyel Gonçalves (PCdoB) encaminhou, na semana, à Câmara de Vereadores projeto de lei que reduz em 30% os próprios salários, do vice, de secretários e de quem ocupa cargos de confiança no município que, detalhe, e felizmente, ainda não registra caso confirmado de Covid-19.

RUAS FECHADAS

Tem sido desafiador para muitos prefeitos cearenses fazerem cumprir medidas que tentam manter a população em casa no esforço de evitar a circulação do novo coronavírus. Em Iguatu, a 366 km de Fortaleza e com quatro mortes registradas, foi necessário fechar as ruas do comércio com barreiras físicas, cavaletes e coisas do tipo, para viabilizar à força o isolamento social.

OS VOTOS CONTRA

Três deputados federais cearenses votaram contra o pacote de ajuda aos estados e municípios, aprovado na noite da última terça-feira pela Câmara Federal: Heitor Freire (PSL), Genecias Noronha (Solidariedade) e Doutor Jaziel (PL). Os 19 votos restantes da bancada, todos registrados, foram a favor da proposta, apesar do forte trabalho contra do governo federal.

SEMPRE ALERTA

O deputado estadual André Fernandes (sem partido), bolsonarista raiz, correu ao twitter de Luiz Henrique Mandetta para ser um dos primeiros comentadores no post em que ele anunciava ter sido demitido do cargo de ministro da Saúde momentos antes pelo presidente da República, na movimentada quinta-feira. O parlamentar cearense, feliz, mandou um singelo "vai tarde", enquanto as panelas batiam, em protesto, País afora.

A CRISE E AS URNAS

A eleição de 2020, especialmente na perspectiva de saber se haverá condições reais dela acontecer, é um dos assuntos que tem furado a bolha de um noticiário dominado, justificadamente, pela crise sanitária. O Instituto Cearense de Direito Eleitoral (Icede) traçou uma programação de lives para discutir o tema ao longo das próximas semanas, basicamente procurando orientar sobre o assunto.

SEQUÊNCIA PROGRAMADA

O calendário foi aberto no último dia 15 pelos advogados André Costa, que preside o Icede, e Marilda Silveira, de Minas Gerais, discutindo "Coronavírus, condutas vedadas e eleições 2020". Os Diálogos Eleitorais serão transmitidos pelo instagram do instituto, sempre a partir de 20 horas, e a programação segue na próxima quarta discutindo abusos de poder plítico, econômico e religioso

 

Foto do Guálter George

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