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Mourão, no polêmico artigo, "esqueceu" de defender Bolsonaro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Mourão, no polêmico artigo, "esqueceu" de defender Bolsonaro

 General Hamilton Mourão (Foto: romerio cunha/vpr)
Foto: romerio cunha/vpr  General Hamilton Mourão

Afinal, o polêmico artigo do vice-presidente Hamiton Mourão, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, contém quais recados importantes acerca do momento político e de suas perspectivas? Muitos amigos e amigas instigaram-me acerca do assunto ao longo dessa quinta-feira, alguns dos quais bastante preocupados, parte deles até meio desesperados, considerando haver ali manifestações claras de apoio a alguma aventura golpista que estaria em gestação.

Será? Para mim, que li e reli o texto como esforço de compreendê-lo melhor na profundidade que as entrelinhas revelam com mais clareza, quando percebidas, o vice-presidente faz uma reflexão correta no seu sentido mais amplo e que, em muitos pontos, vai ao encontro da realidade que estamos de fato a vivenciar. É evidente que temos uma confusão institucional que determina muitos dos problemas ampliados que o Brasil apresenta no seu desorganizado esforço de combate à pandemia e ao avanço do novo coronavírus. Também não vejo nada demais no fato de ele, em parte de sua argumentação, defender a postura do governo, ao qual, afinal, também pertence.

O ponto que acho relevante, e que nasce de uma tentativa de mergulhar um pouco mais fundo no texto de Mourão, é que em nenhum trecho o encontramos fazendo uma defesa clara e explícita da postura errática do presidente da República. Esquecimento involuntário? Pode ser, mesmo que seja algo muito difícil considerando uma situação em que ele se preparou para, de forma pensada, expor seu posicionamento quanto às eventuais responsabilidades acerca da dramática situação brasileira, ou seja, pareceria imperativo que o nome Bolsonaro aparecesse num contexto de defesa mais enfática, buscando inocentá-lo pelo caos que se avizinha, na perspectiva que o próprio Mourão apresenta. Lapso de memória, em tais circunstâncias, precisam estar muito bem programados para que aconteçam.

Há pontos do artigo em que o autor reclama dos governadores, dos demais poderes, da imprensa, mas, preciso lembrar, isso é parte do jogo democrático. O tal assombro do mundo politico faz pouco sentido, acho, porque não se vê termos ameaçadores no texto, quando muito, uma visão equivocada do signatário, em função dos seus interesses políticos, reclamando de comportamentos adotados por agentes públicos que, ao contrário, na minha opinião e de muitos, têm sido determinantes para que a tragédia da pandemia apresente efeitos menores no Brasil do que seria potencialmente capaz de causar se estivéssemos entregues às teses absurdas que o presidente Bolsonaro professa quase todo dia. Destaque-se, sem até hoje qualquer apoio público manifesto do seu vice.

Uma das interpretações possíveis da leitura do texto, e é nesta que embarco, apontaria o segundo da linha sucessória brasileira decidindo dar um grito em relação à confusão institucional instalada, distribuindo algumas críticas sobre o que considera exageros de outras instâncias fora do governo e, ao meu ver, deixando no ar o recado principal de que, caso precisem, está pronto para organizar a bagunça.

Convenhamos, para chegar lá ele não precisa de um golpe militar, como podem provar os exemplos recentes que o País viveu em 1992 e 2016, com todos os traumas e as tensões que estes momentos carreguem. Parece claro que fazer política é suficiente, fundamento muito presente ao espírito não visível do polêmico texto assinado por Hamilton Mourão.

Foto do Guálter George

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