Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Para além de qualquer coisa, essas carreatas e outras manifestações nas ruas contra as medidas de isolamento social que acontecem pelo País são profundamente desrespeitosas com o sofrimento de milhares de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, e suas famílias, e com o outro contingente de vítimas diretas da situação, formada pelos heroicos profissionais de saúde que ocupam a linha de frente do combate à Covid-19. O que se vê, de verdade, é uma confusão estabelecida entre o que pode ser um incômodo legítimo diante de medidas de restrição à liberdade de trabalhar ou circular pelas cidades, que até justificaria uma pressão sob limites contra governantes, e uma exploração eminentemente política da situação.
Aceite-se como impossível que alguém que esteja passando pela situação de isolamento social imposto não se mostre incomodado, até irritado eventualmente. Ficar confinado à própria casa, por mais que ela ofereça condições plenas de uma estadia confortável, algo que sabemos se tratar da realidade de uma minoria no Brasil e no Ceará, nunca será uma opção aceitável passivamente. Portanto, não se cobre das pessoas qualquer manifestação de felicidade com o quadro que enfrentam, dramático e doloroso em si.
Agora, mais do que em outras situações, é fundamental evitar a politização de debate porque isso ajuda a entender melhor as razões pelas quais precisamos compreender a necessidade de viver o que estamos vivenciando. Há cidadania no gesto que, agora, leva cada um de nós a relevar aspectos individuais e entender que permanecer em casa reduz (não elimina) os riscos de uma contaminação que poderia avançar no caminho da necessidade de procurar médico ou hospital, ajudando a agravar um cenário de pressão sobre a rede hospitalar disponível, pública e privada, e, por isso, prejudicando a qualidade do atendimento que se pode dar às vítimas. Portanto, ficar em casa hoje é olhar um pouco além do próprio umbigo ao tentar vislumbrar o fim do sofrimento a que estamos submetidos.
Não necessariamente se trata de salvar a vida de quem está doente e procura ajuda, porque isso dependerá de cada caso observado, considerando o absoluto desconhecimento que há sobre uma doença que pela primeira vez é enfrentada pela medicina. Colocar uma bandeira do Brasil no carro e sair por aí exigindo que tudo volte à normalidade apenas porque queremos que assim seja, desconsiderando estudos, especialistas e a realidade, promoverá muito barulho e fumaça política. E só.
Há um outro aspecto na mobilização realizada hoje em Fortaleza, quanto ao desrespeito que expõe a um instrumento legal em vigência - o decreto do governador que determina o distanciamento social - ao qual se precisa obedecer, gostando-se dele ou não, mas, quanto a isso, cabe às autoridades policiais tomarem as providências necessárias. Parece que é o que está sendo feito.
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