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Afinal, pra que serve terapia?
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Psicoterapeuta sistêmico com especialização em Psicologia Transpessoal e Psicoterapia Somática Integrada. Viveu na Índia onde se aprofundou em diversas abordagens terapêuticas e de meditação. Fez cursos e supervisão em Constelação Familiar com Bert e Sophie Hellinger e foi o introdutor da Constelação no Ceará; Ashara atende individualmente e ministra cursos de formação em Constelação em diversas cidades do Brasil. Veja mais: www.ashara.com.br

Guilherme Ashara comportamento

Afinal, pra que serve terapia?

Conhecer e liberar o que carregamos de denso no nosso interior é a finalidade essencial da terapia e a meditação pode ser um canal para facilitar essa caminhada
Tipo Crônica
A terapia e a limpeza dos fardos que carregamos (Foto: yender gonzalez/unsplash)
Foto: yender gonzalez/unsplash A terapia e a limpeza dos fardos que carregamos

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Muitos tinham a ideia de que terapia era somente para desajustados socialmente, desequilibrados emocionalmente, pirados, mas hoje em dia a grande maioria vê a terapia como um caminho para o autoconhecimento.

Mesmo antes de conhecer terapia, tive a sorte de conhecer meditação. E isso fez uma grande diferença no meu processo de autodescoberta.

Pra mim terapia tem uma finalidade essencial que é conhecer e liberar aquilo que carregamos de denso no nosso interior, principalmente aquilo que carregamos como um fardo. Não precisamos mexer no que flui de forma saudável.

Comparo com um rio que está muito poluído. Aquilo que precisamos fazer para curar esse rio é retirar dele toda a sujeira que ele carrega. No momento que retiramos os poluentes, o rio volta a fluir de forma saudável, os peixes voltam a procriar e viver felizes.

O ser humano é um pouco mais complexo porque além do corpo poluído, ele também possui uma mente que pode ter acumulado muitas cargas do passado, traumas, crenças e condicionamentos. E o que piora mais ainda esse quadro é que ele pode valorizar muito esse fardo que carrega.

Quando, por exemplo, detectamos o lixo e pedimos para que ele libere esse fardo, ele diz: “espere um pouco, eu não estou pronto pra soltar a única ‘posse’ e ‘segurança’ que tenho”.

Pra compreendermos esse mecanismo, podemos exemplificar com aquelas pessoas que acumulam troços em casa. Vocês já devem ter visto os programas de televisão que são especializados em mostrar pessoas que transformam a casa em um depósito de quinquilharia.

A maioria dos telespectadores que assiste a esse tipo de programa reconhece que eles estão acumulando lixo, mas poucas têm a compreensão de que elas estão fazendo exatamente a mesma coisa com o seu depósito chamado ‘mente’.

 

"Uma das razões pelas quais não largamos nosso lixo emocional é que não aprendemos a viver sem ele. Quando medito, percebo o meu lixo mental e posso descartá-lo. Quando não pratico meditação, o meu depósito de lixo começa a transbordar."

 

É nessa hora que entra a meditação. Sem meditação é quase impossível você se afastar, observar e perceber que o seu grande problema é na verdade o seu apego ao seu condicionamento, ao seu lixo interior.

Outro bom exemplo são as crianças que são maltratadas pelos pais. No momento que elas melhoram no hospital, elas chamam pela mãe, a mesma que a açoitou quase até a morte.

Uma das razões pelas quais não largamos nosso lixo emocional é que não aprendemos a viver sem ele. Quando medito, percebo o meu lixo mental e posso descartá-lo. Quando não pratico meditação, o meu depósito de lixo começa a transbordar.

Outra razão é a necessidade de pertencer a um grupo, uma família ou um clã. Por essa razão não nos rebelamos contra aquilo que nos faz mal. Não queremos arriscar sermos excluídos do nosso sistema familiar.

Outro ponto fundamental na terapia é o que chamo de ‘aceitação versus confrontação’. Alguns clientes vêm pra terapia com um desejo, explícito ou implícito, de que o terapeuta concorde com eles. Quando o terapeuta começa a confrontar as suas ‘verdades’ ou ‘crenças’, o cliente se espanta e pode até deixar a terapia. Os que ficam se mostram prontos para dar um passo a mais no seu processo.

O terapeuta não está ali para concordar ou discordar do cliente. Ele está lá para ajudar o cliente a descortinar, expor, liberar e curar feridas antigas que ele carrega e que estão abalando a sua saúde emocional e psicossomática. Para isso dois movimentos terapêuticos são necessários: por um lado, a escuta e a aceitação e por outro lado a confrontação.

Muitos clientes, por exemplo, se orgulham do que fizeram pelos pais durante toda a vida. Eles os ajudaram, salvaram seu casamento quando os pais quiseram se separar e o filho não deixou. Quando o terapeuta diz que essa pode ser a causa de muitos problemas que o cliente está tendo, isto é, esse filho viveu a vida dos pais, ao invés de construir sua própria vida, ele se rebela e não aceita ser confrontado.

Se ele relaxa, percebe e aceita que viveu a vida dos pais ao invés da dele, ele pode dar um passo importante que é deixar com os pais toda a responsabilidade pela vida dos mesmos; e consequentemente assumir a sua própria vida como filho. Fazendo isso ele se liberta desse fardo que carregava e pode viver seus relacionamentos de forma saudável.

Esse é um pequeno exemplo de como podemos estar emaranhados dentro do nosso próprio sistema familiar e o terapeuta sistêmico pode ajudá-lo a se libertar desse fardo.

Em resumo a terapia serve como suporte para nos ajudar a mergulhar no nosso mundo obscuro, inconsciente e acender uma pequena luz de consciência. Terminada a sessão ou o processo, o terapeuta também deve relaxar, se afastar e deixar com o cliente toda a responsabilidade de continuar gerindo a sua própria vida.

Namastê!

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